Vencidos pelo amor

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da Revista do Correio,

A experiência de dois homens que adotaram pets um pouco a contragosto, mas que, depois, se apegaram totalmente aos amigos felpudos.

José Euclides, Letícia e Toby viraram um trio inseparável: insistência da jovem valeu a pena. Foto Zuleika de Souza/CB/DAPress

A experiência de dois homens que adotaram pets um pouco a contragosto, mas que, depois, se apegaram totalmente aos amigos felpudos

“Não”. Essa foi a primeira resposta dos pais entrevistados nesta reportagem quando os filhos pediram um animal de estimação. No entanto, algo mudou. Eles cederam. Os peludos chegaram, conquistaram espaço, encantaram os donos da casa e ficaram. Após o impacto com a adaptação, os pets ganharam status de membro da família.

Foi assim no lar da estudante Letícia Viana, 17 anos. Ela tentou, por 5 anos, convencer o pai, José Euclides Andrade, 51, a ter um cachorro. O advogado sempre vetava, não queria mais um compromisso. A esposa faleceu quando a filha tinha apenas 5 anos e, desde então, ele acumulou os papéis paterno e materno.

“Achava que não daria conta de criar duas vidas. O meu ritmo de trabalho sempre foi puxado, não teria com quem dividir as responsabilidades do cachorro”, explica Euclides. Com a filha pequena, não tinha condições, mas, em 2013, ano em que Letícia debutou, precisou rever seus conceitos. A jovem estava muito triste e Euclides decidiu buscar ajuda profissional. “Fui a uma psicóloga que já tinha cuidado da Letícia na época da perda da mãe, e ela sugeriu que eu aceitasse o animal”, relembra.

O shih tzu foi “liberado” depois de uma conversa séria sobre divisão de tarefas. A adolescente pesquisou tudo: a melhor raça para viver em apartamento, o tipo de ração, os melhores preços de produtos para pet etc. “Quando fomos ver os filhotes, o Toby se destacou porque pulou no colo dela. A Letícia ficou encantada e levamos”, resume. O pai logo entendeu o conselho da terapeuta: a convivência com o animal fez bem para ele também.

O psicólogo Helio Ricardo Machado esclarece que a chegada de um animal de estimação pode despertar novos afetos. “As emoções impactam diretamente nosso comportamento. Nesse sentido, um contato próximo com os pets, combinado com o afeto emanados por eles, representa o amor incondicional. A sociedade, acostumada com relações cada vez mais pautadas pela falta de afeto espontâneo, encontra um contraponto no animal. Ele será aquele que vai gostar de você, independentemente do que você faça ou deixe de fazer.”

Passados dois anos de aprendizado entre pai, filha e o pequeno peludo, Euclides confessa que passou a ser menos duro e a externar mais seus sentimentos. Já Letícia desenvolveu tanto o senso de responsabilidade que chama o cão de filho. “Com certeza, é um filho. Na verdade, mais meu do que dela”, observa o pai, rindo.

De acordo com Helio Machado, é comum a resistência a animais estar relacionada a memórias, bem como a representações compartilhadas socialmente. “Ambas as formas de preconceber, imaginar ou temer a relação com os bichos de estimação podem ser ressignificadas a partir de uma relação real”, pontua. O servidor público Luiz Cláudio Fernandes, 53 anos, experimentou essa reviravolta. Quando o filho Matheus, hoje com 21, nasceu, os pais compraram um cão de porte médio para grande. Em certo momento, ficou inviável criar o animal no apartamento em que viviam e tiveram que se desfazer dele. “Foi uma situação difícil. Meti na minha cabeça que, para ter um cachorro, deveria ter um espaço maior. Só assim ele poderia correr e extravasar as energias”, argumenta Luiz.

A família se mudou para uma casa, mas a resistência continuou. Porém, a mulher de Luiz não desistiu e consegui convencê-lo. A experiência com a primeira boxer, Bindy, deu tão certo que, hoje em dia, eles têm mais duas cadelas: a também boxer Leleca e a vira-lata Megan. “Sem dúvida, os cachorros trouxeram muita alegria para nós três. A convivência mostrou que o espaço não precisava ser tão grande quanto eu pensava. O quintal acabou sendo suficiente”, conclui.

Para a veterinária Ana Catarina Valle, o comportamento do animal com os donos será definido no momento da chegada. Se houver qualquer resistência, o animal sente e não vai querer aproximação com aquela pessoa. Pode ocorrer, também, de o cão desenvolver um instinto de proteção em relação aos outros membros da casa ou não tolerar certas atitudes. “É importante ressaltar que tudo pode mudar no meio do caminho. Mesmo o cão mais bravo pode ser conquistado, basta cuidar e dar carinho”, aconselha.

Bono Blue

é jornalista, um cão farejador de notícias

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