Sem pulgas, mas com coceira

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da Revista do Correio

Na maioria das vezes, o coçar excessivo é sinal de problema dermatológico. O pet pode estar sendo vítima de alergias desencadeadas por fungos e bactérias

O gato persa Emílio teve um piodermatite, doença causada por um fungo oportunista, que se instala em períodos de baixa imunidade do animal. Foto Zuleika de Souza/CB

Uma coceirinha inocente pode significar mais problemas do que se imagina. Geralmente, os donos de pets associam a coceira a pulgas e carrapatos. Mas não é bem assim. “Esse comportamento pode ter vários motivos: alergia, alimentos, fungos, bactérias, dermatites etc.”, explica o veterinário Carlos Muniz. Segundo o profissional, a coceira excessiva pode ferir a pele do animal. Uma vez abertas, as feridas são porta de entrada para fungos e bactérias, com consequências perigosas.

O primeiro passo é levar o bicho ao consultório. É fundamental diagnosticar o problema do animal. Se for o caso, com uma biópsia. O tratamento pode ser medicamentoso, com antibióticos e antifúngicos, mas também envolver alimentação.

Fungos podem deixar o animal com cheiro ruim e confundir os donos. Um dos mais comuns em cães é a malassezia. “Esse fungo ataca principalmente no ouvido e provoca um cheiro forte. As pessoas pensam que o odor é no bicho inteiro, mas ele se concentra somente no ouvido”, explica Carlos Muniz. De acordo com o veterinário, são necessários banhos terapêuticos, remédios e xampus especiais para recuperar o bem-estar da mascote.

Outro problema muito comum é a dermatite atópica. “Acomete cães e gatos geneticamente predispostos. Por uma deficiência na barreira cutânea, o animal fica vulnerável a invasão de agentes ambientais, microorganismos e irritantes”, explica o médico veterinário Emanuel Quintela. A doença provoca hiper-reatividade da pele, com aparecimento de coceira e lesões secundárias. A dermatite atópica ainda pode vir acompanhada de uma asma ou de rinite alérgica. A doença não tem cura.

A yorkshire Princesa tem 7 anos e sofre com a dermatite atópica. Desde os 4 meses de idade, ela vem sofrendo com problemas de saúde, principalmente na pele. O principal sintoma foi a coceira. “Ela sempre se coçou o tempo inteiro. Até hoje faz isso. Uma vez, coçou-se tanto que chegou a levar pontos na pálpebra”, conta a empresária Adriana Rodrigues, dona da cadelinha. E ela garante que Princesa nunca teve pulgas ou carrapato. “Sempre deixei ela limpa e evito até mesmo levar em petshops. Sou muito cuidadosa quanto a isso”, garante.

Com o desenvolvimento de alergias e a imunidade baixa, a cadelinha perdeu a visão. “Ela teve catarata e glaucoma. Os veterinários se espantaram porque ela é muito jovem ainda. Mas foi um problema que puxou o outro. Ela sempre coçava muito a região dos olhos”, conta. A yorkshire está sempre entrando em novos tratamentos para ter uma qualidade de vida melhor. “Atualmente, ela faz hemoterapia”, diz Adriana.

Apesar de ter uma saúde delicada, Princesa leva uma vida normal. “Sou uma ‘mãe’ muito zelosa e ela é muito feliz. Gosta de passear, brincar e é muito carinhosa”, afirma a empresária. Na casa, tem outro pet. Nick, um yorkshire da mesma idade e perfeitamente saudável.

Prevenção

*Manter o pet limpo.

*Não deixar o bicho molhado (eles podem ser alvo de fungos).

*Limpar o ambiente com produtos apropriados.

*Observar se o animal está se coçando em excesso.

*Visitar periodicamente o veterinário.

E os felinos felpudos?

Ao contrário do que muitos pensam, gatos raramente têm pulgas ou carrapatos. A infestação só acontece quando os bichanos têm acesso à rua, ou com cachorros. “É difícil acontecer. Só quando o gato está muito debilitado”, esclarece o veterinário Vitor Benigno, especialista em gatos. Em compensação, gatos são mais propensos a ter dermatites. “Eles podem ter dermatites alérgicas, alergias alimentares, alergias gerais, fungos e sarna. Carrapato é muito raro mesmo”, reforça. Os mais peludos têm uma predisposição para desenvolver problemas de pele. “Com uma camada de pelos enorme, apesar de fazerem a própria higienização, eles estão expostos a fungos e bactérias.”

Há três meses, o persa Emílio, de 1 ano, teve piodermatite. O gato se coçava o tempo inteiro até chegar ao ponto de assustar a dona. “Ele estava se coçando muito. Puxava tanto o pelo que chegava a arrancar”, lembra a advogada Ruchele Bimbato, 39. Emílio foi tratado com remédios e banhos terapêuticos, mas não escapou da tosa. “Ele estava com várias feridas. Ficou se escondendo atrás dos móveis. Parecia que estava com vergonha”, relata a dona.

A piodermatite é uma infecção causada por fungos, que deixam a pele ferida e com pus. “Ela ocorre quando a imunidade do animal está baixa. Nesse momento, o fungo se aproveita para se instalar na pele do animal”, explica Vitor Benigno.

Emílio ainda está em fase de recuperação. “Ele toma banho em um petshop especializado em gatos. Além disso, usa um xampu especial antifúngico”, aponta Ruchele. Atualmente, o gato e a dona levam a rotina normalmente. Segundo a advogada, o que mudou foi a forma de cuidar do felino. “Eu já era atenciosa, mas, agora, de olho em todos os sinais.”

Bono Blue

é jornalista, um cão farejador de notícias

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