Apreensão de diplomatas com Bolsonaro na ONU

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A minuta preparada pelo corpo diplomático do Itamaraty chegou ao Planalto com cinco sugestões para o presidente Jair Bolsonaro discursar na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) — a defesa da soberania da Amazônia; a condenação do regime de Nicolás Maduro na Venezuela; o alinhamento com o norte-americano Donald Trump; a posição pró-Israel no conflito do Oriente Médio; e o estímulo ao livre comércio e à cooperação regional para o combate ao narcotráfico. O Correio teve acesso a trechos do documento dos diplomatas — com detalhes a seguir.

Cada um dos pontos, tratados como eixos, tem uma estratégia de política internacional, mas valem para o presidente falar para a audiência brasileira. Um discurso na ONU, entretanto, passa por várias mãos. E assim o corpo diplomático teme uma mudança radical na minuta original apresentada pelo Itamaraty. O texto final foi fechado pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e pelo assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais Felipe Martins.

Dor de cabeça I

A questão é o tamanho da dor de cabeça que Bolsonaro pode causar nos servidores de alto escalão do Itamaraty com um discurso mais agressivo. “Esperamos algo contundente, mas com equilíbrio, algo que não descambe para provocações vazias”, disse um servidor do corpo diplomático brasileiro que preferiu não se identificar. Tradicionalmente, desde 1947, o presidente da República do Brasil é o primeiro a falar na Assembleia Geral da ONU. Bolsonaro discursa nesta terça-feira, às 9h (horário de Brasília).

Dor de cabeça II

Para cada um dos eixos há uma estratégia própria do pessoal do Itamaraty. No caso da soberania, o que se pretende é deixar claro que o maior interessado nos assuntos da Amazônia é o Brasil, numa resposta à não participação na cúpula de mudanças climáticas nesta segunda-feira. Uma das considerações a ser feita é que as queimadas na Amazônia ocorrem, segundo o governo, por questões sazonais e estão relacionadas à época seca no país. O receio é que Bolsonaro avance sinais de maneira agressiva, criticando diretamente chefes de Estado — algo que deve ocorrer, talvez não nominalmente.

Eixos I

O segundo eixo do discurso de Bolsonaro será a condenação do regime de Maduro, antecipado na declaração do Grupo de Lima — do qual o Brasil faz parte —, que “rechaçou os sucessivos obstáculos do regime ilegítimo e ditatorial” da Venezuela. A referência a Trump, que estará numa das partes do texto do capitão reformado, trata-se da reafirmação da proximidade com os Estados Unidos, incluindo aí a indicação de Eduardo Bolsonaro para a embaixada em Washington.

Eixos II

Outra novidade será o discurso francamente pró-Israel, ao contrário dos antecessores petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, que, em 2012, defendeu na Assembleia Geral a soberania da Palestina para redução dos conflitos no Oriente Médio. “Apenas uma Palestina livre e soberana poderá atender aos legítimos anseios de Israel por paz”, disse Dilma na época. Por fim, os diplomatas alertaram a Bolsonaro que destacasse a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul. O objetivo aqui é buscar argumentos para ganhar uma vaga no Conselho de Segurança da ONU.

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