Talvez o termo esteja desgastado, mas, na falta de algo que possa ser mais preciso, usaremos mais uma vez Fla-Flu* para definir a divisão na política deste sofrido país. O caso de vazamento de mensagens envolvendo o ex-juiz Sérgio Moro e o procurador Daltan Dallagnol é o exemplo mais acabado de torcidas enfurecidas, naquele campo minado onde, independentemente da jogada, sempre teremos uma parte da arquibancada defendendo o próprio time e a outra parte enaltecendo a equipe de coração.
De um lado bolsonaristas defendem Moro, petistas atacam o ministro, que largou o apito — é impossível se afastar do trocadilho — para virar integrante do time do capitão reformado. A dificuldade está para o eleitor imprensado entre os dois polos, do lado de fora do estádio, assistindo ao jogo, perplexo, como todos aqueles com alguma informação e honestidade intelectual. O país se transformou num grande jogo de torcidas. Se há algo relevante nessa luta sem vencedores — pois o país continua com dificuldades de crescimento e geração de empregos —, é descortinar heróis, afinal ninguém, a não ser nos gibis e nos cinemas, precisa deles.
A questão é saber até onde os diálogos entre Moro e Dallagnol são impróprios e não meros “descuidos” ou naturais. E sem precisar de torcidas comprometidas ideologicamente ou financeiramente para apontar alguma luz. Não que isso possa desqualificar qualquer um dos lados, mas achar que a Lava-Jato está condenada em todos os sentidos por causa dos diálogos ou que não é possível discutir eventuais faltas de integrantes da operação. A verdade sempre esteve distante de radicalismos. Assim, o mais prudente é buscar os erros e os acertos da Lava-Jato sem emoções. Muito mais acertado para um país, dividido num eterno Fla-Flu de uma torcida cansada.
Colaboração
*O colunista está aberto a sugestões para substituir o Fla-Flu ao falar em divisão política. Envie a colaboração para os e-mails leocanti@gmail.com ou leonardocavalcanti.df@dabr.com.br. Publicarei as sugestões, desde que comportadas, na próxima coluna.
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