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Vista-se do que quiser

Até mesmo eu, volta e meia, fico constrangida com meu gosto para me vestir. O que uso hoje, certamente, vai virar razão de perplexidade em breve. Já aconteceu e, seguramente, vou enfrentar a insatisfação com meu próprio gosto fashion, por vezes, duvidoso.

Já comprei peças que desconfio não cairiam bem nem mesmo em um figurino de circo. Já exagerei nos babados e também já me escondi atrás de laços gigantes e infantis demais para quem já tinha deixado de ser criança há tempos.

Até hoje me jogo nos brilhos, porém. Sem medo. Uso paetês durante o dia como quem sai por aí trajando a inquestionável e indefectível combinação de jeans e camiseta. Mantenho na minha sapateira um par em forma de peixe, desenhado pela ousada – e lamentavelmente extinta – marca paulista Neon. Pode rir!

Não me aborreço com as piadas. Exibo com orgulho minhas blusas com plumas e calçados fluorescentes. Seja no trabalho, seja em um evento clássico. Roupa é personalidade. É uma forma de tornar seus pensamentos e desejos em algo palpável e colorido. Muda a fase da vida, muda a forma de ver o mundo e transforma-se o armário. Por isso, moda é tão fascinante e pessoal quanto intransferível.

Tenho horror a regras e por isso me entediou profundamente a proporção que ganhou a notícia sobre o vestido da primeira-dama Marcela Temer. Qualquer outra mulher que usasse um modelo de tricoline branco com corte mimimalista passaria quase invisível em evento social. Ainda que bela. Ainda que jovem.

O vestido de saia ampla, sem decotes, assinado pela brasiliense Luisa Farani, foi escolhido ao acaso, ouvi dizer. Virou notícia, no entanto. Recebeu críticas, e pior, supuseram mil razões para a seleção que nem a própria pobre moça rica deve ter imaginado.

Soube que na loja refinada de Brasília onde Marcela adquiriu o vestido já tem encomenda de outras mortais querendo exibir o mesmo charme, e, quem sabe, chamar a mesma atenção da bela Marcela. Mais uma vez, me aborreço com essa mania feminina de tentar ser igual às suas iguais.

O similar é monótono. Imagine um grupo de lindas dentro de um mesmo vestido branco discreto? Serão igualmente insossas. A beleza é resultado de comparação. O recatado só se torna atraente quando o excesso de exposição do corpo e da pele se tornam enfadonho. O mesmo vale para o brilho, que é permitido quando o tédio deixa tudo opaco. Eu, por exemplo, odeio a mesmice, talvez por isso ame tanto as lantejoulas.

Flávia Duarte

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Flávia Duarte

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