Ela fala com suavidade. Tem trejeitos e elegância de um cisne. O pescoço impecavelmente ereto é habilidade de poucas. As meninas adoram os movimentos delicados, coreografados e imitam a moça que personifica uma verdadeira princesa. A aula é de balé para crianças e conheci na semana passada. Tom rosa e laços de fita nos cabelos enfeitam as pequenas bailarinas. A dançarina adulta reforça o imaginário infantil e transforma em passos de dança em uma lenta fuga da frágil cinderela, que é perseguida pela bruxa e espera a salvação, claro, do príncipe.
O discurso feminino de emponderamento e a autonomia podem até criticar os enredos que definem as mulheres como personagens em busca de um belo par para livrá-las de todo o mal. Às mães moderninhas, que querem filhas menos dependentes da ideia de amor romântico, recomendo atear fogo às histórias de contos de fadas, nas quais, necessariamente, a pobre donzela só encontrará a felicidade quando um formoso cavaleiro chegar a galopes.
Então, tire, imediatamente, sua filha do balé. Decrete o fim do cor-de-rosa no armário. Nunca mencione nomes ameaçadores como Bela Adormecida, Rapunzel e muito menos o de Cinderela. Não alimente o mito de que elas são delicadas, frágeis e de que, um dia, vão esbarrar com um grande amor. Não estimule a suavidade dos gestos nem a elegância dos passos.
Acho a independência da mulher louvável. Uma conquista da qual não se pode abrir mão. Ainda bem não somos mais ensinadas a servir a um homem, que, com muita sorte, nos transformará em protagonistas de um conto de fadas. Mas tenho minhas dúvidas, porém, se é possível mudar a essência da alma feminina a ponto de não fazê-la não querer mais ser amada ou protegida como uma rainha.
Digo isso porque me espantaram os gritinhos de euforia, inveja e de puro tesão mesmo, vindos de uma plateia de incontáveis mulheres no Vivo Open Air, na semana passada, que exibiu o clássico Dirty Dancing. O filme completa quase três décadas e ainda arranca suspiro dessa mulherada que briga por direitos iguais e se orgulha de ser financeiramente, e emocionalmente, independente.
Também sou dessas que deseja a liberdade. Nada melhor que ser dona de si mesmo, do que gostar de si própria acima de todas as coisas, mas, que um belo sorriso e um olhar penetrante de um homem como Johnny Castle, vivido pelo ator Patrick Swayze, bambeia as pernas e acelera o coração, ah, isso sim.
Quase 30 anos depois, as mulheres ainda são atiçadas pela possibilidade de serem desejadas por um homem másculo e sensual. Prova disso foi o alvoroço que a plateia de advogadas, funcionárias públicas, jornalistas, engenheiras, professoras bem resolvidas causaram quando o bailarino do filme arrancou a jaqueta para dançar, fixou o olhar e puxou a cintura da personagem Baby com virilidade.
A personagem interpretada por Frances Houseman também era determinada, especialmente para os anos 1980. Contrariou pai e mãe e fisgou o bonitão. Ainda bem que, de lá para cá, conquistamos o direito de apontar nossos escolhidos com cada vez menos julgamento, mas desconfio que ainda caiba a eles alguns passos da sedução.
A menina que dança balé na infância é a mesma adulta que sonha, ainda que não admita, ser rodopiada por um homem viril e não vacilante. Assim como Baby, é por um forte e decidido Johnny que elas se rendem e cedem o direito da dança. Interpretem como quiser, mas alguns passos do ritual do acasalamento cabem aos machos, ainda que as fêmeas estejam mais ativas, seletivas e descoladas. São as princesas modernas, que escrevem as atuais histórias de amor. Elas também querem um príncipe, e melhor ainda se ele for um lindo, gostoso e souber dançar.
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