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Sociedade dos Postadores Anônimos

Decidi fundar a Sociedade dos Postadores Anônimos. Ela não existe no papel, menos ainda fisicamente. As reuniões só acontecem dentro da minha cabeça. Sou a responsável pelo grupo composto de apenas um membro: eu mesma.
O lema é: “Só por hoje não vou postar nas redes sociais”.  A ideia é que eu compartilhe menos a minha vida no instagram ou no facebook. Tenho avaliado como exagero no número de selfies, em cliques de almoço com os amigos ou nas publicações dos meus passos desajeitados da aula de dança.
Na verdade, o que estou tentando entender é por que todos nós temos essa necessidade de curtidas virtuais. E não só eu. Certamente, você que está lendo esta divagação, seu chefe, seu vizinho, seu colega de trabalho, o porteiro do seu prédio, essa gente toda poderia fazer parte do meu grupo  fictício de desintoxicação de exibicionismo.
Todo mundo posta. Varia é a frequência, mas a motivação é a mesma: ter o reconhecimento público. A diferença é que há formas veladas de se fazer isso. Por exemplo, as mães ganham salvo-conduto ao divulgarem fotos dos filhos. Afinal, quem julgaria uma mulher que tem orgulho de sua prole?
Em tempos de política pegando fogo, até os mais discretos postam suas opiniões que creem tão brilhantes a ponto de serem conhecidas por todos. Ninguém condenaria o suposto intelectual, politizado e preocupado com os rumos do país.
Quem não publica selfie por considerar ridículo demais, se agarra ao gato ou ao cachorro que cria para salvaguardar-se do julgamento alheio. Afinal, pets são fofos e quem ousaria desfazer uma amizade virtual com um amante dos animais?
Estamos, sim, todos carentes de aplausos. Quem não exagera nas postagens no dia a dia, não poupa poses quando viaja. E quem consideraria cansativo o reservado amigo que, só por hoje, quer mostrar o destino maravilhoso por onde anda? Talvez não publique mais fotos porque a rotina dele seja monótona demais para causar inveja como o mar do Caribe, eu responderia.
Você, que critica de moças e rapazes aparecidos, não negue que, em dia de roupa linda, cabelo e maquiagem impecáveis, seu dedo não coça para dividir sua imagem com a plateia virtual? Se não o fez antes, certamente é porque não se sentia interessante o suficiente para se mostrar. De igual problema de autoestima padecem os que se fotografam demais para confirmar, em número de curtidas, quanto atraentes parecem ser.
E por aí vai: são gifs engraçadinhos, conquistas de trabalho, prática de exercícios, fotos dos pratos degustados, frases de incentivo, indiretas… Tudo vira post e ninguém quer ser ignorado. Todos somos igualmente pedintes de aprovação.
Minha sociedade anônima pretende tornar o ostentação dos nossos membros mais comedida. Nossa máxima é que gente realmente feliz não exagera nas fotos. São pessoas ocupadas demais para interromperem o momento que vivem para fazer uma pose.
Prometo, então, só por hoje, não postar. Ou melhor, prometo, só por hoje, que a nova regra vai ser quebrada. Esta crônica vai, sim, ser compartilhada nas redes sociais. É que, no fim das contas, ninguém escreve para não ser lido.
Escreva: fsduarte@hotmail.com
Facebook: (In) Confidências
Flávia Duarte

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Flávia Duarte

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