Os porta-retratos vazios na parede da minha casa ainda aguardam os momentos eternizados em imagens. Quero escolher fotos de paisagens que me recordem experiências, pessoas e lugares que fizeram, ou fazem, parte da minha vida.
Mas, aqui, na Tailândia, rodeada de asiáticos risonhos e munidos dos mais modernos aparatos fotográficos, concluí que não gosto nenhum bocadinho de sair por aí clicando o que vejo. Talvez, volte para casa sem um registro importante do Sudeste Asiático que valha ser emoldurado e, assim, minha parede continuará à espera de uma história.
Minha aversão em fazer fotos dos lugares que visito se explica pela atenção que o ajuste do foco, da luz e do melhor ângulo roubam dos meus sentidos. A preocupação em entrar na fila para fazer uma imagem do Buda de cinco toneladas de ouro, por exemplo, leva embora a emoção de me sentir parte de um monumento grandioso, em um país tão distante.
O tempo que se perde em selfies ou fotos horrendas, que, aliás, nunca mais serão vistas, em frente a pontos turísticos, me furtam a chance de vivenciar um momento tão breve e passageiro como o disparo de um flash.
Prefiro dedicar esses minutos em reparar os detalhes à minha volta e levar na lembrança as cores vivas e os brilhos de Bangcok. As imagens nunca vão ser capazes de me fazer sentir novamente o cheiro da fumaça, mesclada a comida frita e a jasmim, que envolve essa metrópole encantadora e confusa.
Daqui a um tempo, vou preferir fechar os olhos a abrir álbuns, e resgatar a lembrança do som acelerado da língua thai e dos gestos de fé de milhões de pessoas diante da imagem de um profeta de olhar enviesado.
Deixo o celular de lado para me concentrar no som dos mantras entoados pelos monges. Dedico minha atenção para registrar a música zen e a cantoria dos pássaros que ecoam no restaurante erguido no meio de um jardim.
Em vez de pedir a meu pai, meu companheiro de viagem, para fazer uma pose com resultado constrangido e forçado, prefiro memorizar as expressões de surpresa dele diante da excentricidade asiática; as brincadeiras debochadas que lhe são peculiares e sua singela oferta que para eu comprasse milho para alimentar os pombos em frente a um templo budista.
Gesto que só podia mesmo vir de um eterno pai, que me fez me sentir de novo uma criança. Momentos que levarei para sempre no coração e, definitivamente, não há como emoldurar.
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