Não fosse meu amigo, desconfiaria da veracidade da história. Coisa de romance mamão com açúcar para reforçar, em gente crédula, que a vida pode, sim, ter um final feliz.
Do tipo que engole vírgulas e pontos enquanto fala, o personagem principal desse caso começou a me narrar o tal encontro com uma empolgação de poucos sortudos que podem compartilhar um enredo de filme, só que na vida real.
Eu ouvia curiosa. Para resumir, esse cara romântico estava juntando os cacos de uma separação. Tentando preencher o coração, foi buscar na memória recordações de amores passados. Lembrou-se da moça de uns quatro encontros, datados de há pelo menos uma década.
Dela, só tinha um antigo e-mail. Enviou uma saudação sem expectativa de retorno. Mas a moça de outros tempos respondeu. Feliz com o contato. Ela também remendava a alma estraçalhada pelo fim de um casamento. Assim, mantiveram uma conversa virtual, tentando se reconhecerem pelo tom das palavras digitadas, e identificarem o interesse do passado.
Ela estava fora da cidade. Não poderiam se ver pessoalmente. Mas ela arriscou: com passagem marcada para Tailândia, o convidou para ir junto. Ele não titubeou e comprou o bilhete rumo à Ásia. Sem vê-la antes. Ambos arriscaram. Se encontrariam apenas na véspera do embarque. Daria tempo de desistirem, mas se entregaram ao imprevisível.
Não sabiam se sentiriam tesão ao se encontrarem. Se iriam se beijar, se teriam afinidades, se sentiriam arrepios com o respectivos perfumes. Não tinham qualquer certeza de que se encantariam pelas formas físicas, transformadas nos últimos anos. Que segurança teriam de que ficariam bem 20 dias juntos, do outro lado do mundo? Não passavam de dois desconhecidos sem medo do acaso.
Estavam vulneráveis. Abertos ao ônus e ao bônus daquela experiência. Tive inveja do meu amigo e daquela moça. A coragem deles me fez lembrar a conclusão da americana Brené Brown, que passou mais de 12 anos estudando o tema da vulnerabilidade. Em seu livro, A coragem de ser imperfeito, ela diz que o medo de errar, de fracassar ou de nos expormos emocionalmente nos rouba as possibilidades de acerto, justamente o que dá sentido à vida.
“Vulnerabilidade não é conhecer vitória ou derrota, é compreender a necessidade de ambas, é se envolver, se entregar por inteiro”, diz Brené. Meu amigo não leu a tese da americana, mas seguiu o seu coração. Embarcou nessa aventura. A sua nova companheira foi igualmente corajosa. Não tiveram receio do insucesso e agora podem contar essa história de amor, que lhes teria sido afanada pelo simples temor de viver.
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