Deus bem quem tentou nos livrar das tentações, deduzo. Criou Adão e Eva e os deixou nus. Esse era o plano. Aí, veio a serpente e lhes ofereceu a maçã e uma folha de figueira para que tapassem os sexos. Foi aí que tudo desandou, tenho certeza. Começou-se a dizer que a nudez era pecado, mas estou certa de que a moda não passa de uma deliciosa criação do diabo. Roupa vicia, causa inveja, provoca tentação.
Sou pecadora desde muito pequena. Quando criança, tinha uma lista de meus sonhos de consumo, entre eles uma miniblusa de malha e um suspensório. Nunca realizei nem um nem outro. O primeiro porque minha mãe acreditava que menina de pouca idade não devia ficar exibindo a barriga. O segundo porque nenhum adulto de bom senso, ainda bem, daria um suspensório para uma menina de 8 anos. Acho que nem se quisesse. Onde comprariam? Onde eu usaria?
Cresci apaixonada por cores, estampas e modelagens. Tão ardiloso o capiroto que inventou as roupas, que elas nos deixam mais bonitas do que sem elas. Aliás, debaixo dos panos somos mais sexies e mais sensuais do que com a pele totalmente exposta, ao contrário do que muitos possam imaginar.
Um corte benfeito tem o poder de modelar o corpo, disfarçar as imperfeições e acomodar tecido adiposo inconveniente. Decote perfeito revela mais do que seio à mostra. Tecido colorido realça tom de pele, traz contraste ao rosto e camufla a palidez da nudez e aumenta os desejos. Coisa do demo!
Velhaco esse capeta. Criou a modelagem e com ela o vício de querer cada nova peça, a cada troca estação. Senhor, livrai-me dos estilistas talentosos, amém! Até onde há pouca roupa, ele está lá provocando. Quem é acometido dessa tentação não ambiciona a barriga sarada na praia, mas o biquini estiloso ou o kaftan de seda da moça vestida na areia.
É preciso fechar os olhos diante das lojas. Rezar algumas vezes ao cobiçar o vestido alheio. Amém! Fazer promessa para não comprar aquele sapato tingido com a trigésima nuance do rosa que você não tem. Amém! Senhor, livrai-me das malícias da moda. Vestir-se deveria não ser hábito, mas pecado capital.
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