Já estive em Nova York no outono. Passei uma temporada na primavera e talvez, se escolha minha for, nunca visitarei esse lugar de inverno pouco amistoso, capaz de congelar minha respiração e, vai saber, até meus pensamentos.
Mas é a primeira vez que venho no verão, de calor grudento e de liberdade coletiva. Digo isso porque nunca vi tantas mulheres à vontade com o corpo exposto. Atribui-se às brasileiras uma tranquilidade em exibir a carne que, na verdade, não alcançamos, como desfrutam as belas de várias nacionalidades nessa torre de Babel.
Em alta temperatura, as mulheres nas ruas de Nova York são invejáveis pela sensualidade de serem lindas exatamente como são. Para aliviar o calor, deixam à mostra as pernas em shorts minúsculos ou vestidos curtíssimos. Não tem idade que as reprima. Vi coxas flácidas bronzeadas pelo dia desfrutado na praia caminharem com a mesma elegância que as enrijecidas pelas juventude. Vi celulites desinibidas. Não há entre elas tentativa de esconder umas das marcas mais genuinamente femininas.
E a beleza se estende da cabeça aos pés. Nessas ruas fervilhantes, você se monta justamente para não se notada. Diferente é o discreto. Aqui, elas se sentem livres para pintar as unhas de cores que nem sei dar nome ao tom.
O rosto melado de suor não dispensa a maquiagem. Ao contrário, quanto mais iluminado os pós e os blushes, mais realçado fica o brilho da estação. As negras fazem arte com o cabelo obedientemente rebelde. Sorte que não desfrutam as pessoas de pele amarelada como eu.
As modelos reais dessa cidade americana quase não usam salto. Seria uma agressão contra pés constantemente apressados. Mas até de chinelos são igualmente charmosas. Elas saem de tênis com a mesma graça de quem está nas alturas. Não há rasteiras sem estilo ou sapatilhas insossas. Tudo faz parte de um figurino bem pensado e charmoso.
Senti uma ponta de inveja da alforria fashion conquistada por elas. Completamente vestidas, estão mais libertas que brasileiras totalmente desnudas. São donas do direito de serem belas sem julgamentos, modismos ou dress code massificado. “Vista-se como quiser, você está na América e ninguém vai te olhar”, uma delas me explicou, enquanto eu desfilava com meu vestido de paetês e chinelos pelo metrô.
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