Neste Natal, ganhei o melhor presente dos últimos anos: nada. Não me deram roupas nem sapatos. Também não me foram comprados perfumes ou acessórios. Mas me foi oferecida a chance de viver uma nova experiência: a de me libertar das regras do calendário, deixar de lado as convenções e atender o meu coração.
Minha diminuta família celebrou o nascimento de Jesus uma semana antes. Foi então que me vi, pela primeira vez, longe de pais, irmãos, tios e avós na noite de 24 de dezembro. Mas nunca estive tão perto de mim mesma.
Fiz as malas e subi, literalmente, a serra rumo ao litoral norte de São Paulo. De companhia, uma amiga paulista e minha vontade de me desligar da rotina. Minha ceia teve pizza dormida e gelada, panetone que, na falta de talher, foi rasgado pelas mãos e champanhe brindado em copo de vidro, modelo de boteco pé sujo.
Estavámos em três: eu, minha amiga e Osho. E foi logo nas primeiras páginas do livro, “Alegria – A felicidade que vem de dentro”, escrito por esse que leva o título de mestre espiritual, que entendi que desembrulhava meu regalo.
Sem rodeios, ele lamenta que a humanidade anda infeliz por caminhar na direção do poder e do dinheiro, justamente por nossa insana e frustrante tentativa de cumprir regras que não foram criadas por nossa essência individual.
Alguém que nasceu para ser bailarino e se tornou banqueiro, por exemplo, anda com a alma aprisionada e insatisfeita por não ter deixado os pés deslizarem pelo chão e seguir outros trajetos. Culpa de ter respeitado as definições e desejos dos outros, e ignorado o almejo genuíno da alma.
Por isso, para o ano-novo, não desejo a você dinheiro, sucesso ou qualquer coisa pela qual se pague. Meus votos são os de todos nós encontremos o caminho da felicidade simplesmente por estarmos onde quisermos e fazendo aquilo que nos preenche de verdade.
Que tenhamos coragem de jogar para o alto o que não nos satisfaz e sair em busca daquilo que nos roube o ar. Que, como Osho escreveu, deixemos de lado o passo-a-passo para meditar em salas aromatizadas e sinta os cheiros de quem está em lugares reais, como o de peixe na praia, o da comida de avó ou do perfume de quem se ama. Que você, e eu também, nos concentremos no que nos sequestre a atenção e nos livre da vontade de pagar qualquer resgate para nos tirar desse estado.
Parece discurso de autoajuda, mas é estratégia de sobrevivência. Acredite, é mais difícil ser livre do que viver sendo guiado, pois exige, me ensinou Osho, “uma mudança drástica em seu modo de vida, pois não há tempo a perder, uma descontinuidade com o passado, um súbito estrondo de trovão e você morre para o velho e começa rejuvenescido do ABC.” Que você morra em 2016 para renascer no novo ano.
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