Nunca gostei de beber. Não é por caretice, por causa de estilo de vida ou por qualquer crença abstêmia. De cerveja, não gosto nem do cheiro. Vinho me dá sono, em vez de tesão. Conhaque nunca tentei. Tequila queima a goela e, depois da primeira taça de champanhe, meus pelos arrepiam como sinal de perigo emitido pelo estômago embrulhado.
Assim, costumo curtir uma festa de cara limpa, com a animação que a ocasião merecer. Mas uma vez tomei três caipirinhas. Ah, essa combinação brasileira, sim, me encanta o paladar. Nada de vodca, gosto mesmo é com cachaça. Cometi erros de iniciantes: tomei rápido, não comi e não bebi água. Soma-se a isso minha personalidade ora explosiva ora efusiva. Pronto, estava armada a bomba-relógio.
Não quero aqui me lembrar dos detalhes daquela noite que hoje rende boas risadas, mas que, no dia seguinte, me deixou com uma náusea tão incontrolável quanto a minha vergonha. Concluo, porém, sem moralismo, que álcool para os fracos como eu rouba o sentido, faz você perder o prumo e se perder no rumo.
No meu caso, a cachaça ainda leva embora o equilíbrio, do corpo e da mente. Ao me despedir de uma amiga, a alteração dos sentidos fez com que meu abraço entusiasmado nos levasse ao chão. Eu esticada em baixo, ela esticada em cima de mim. Não me lembro como nos levantamos, mas tenho certeza de que o episódio é verdade por causa do esfolado no cotovelo que ela exibia no dia seguinte.
Nesse ponto o álcool é bom: com ele, você dá boas risadas. Durante e depois. Qualquer festa se torna mais divertida, os tímidos se soltam, as verdades aparecem. Com um copo na mão, você diz coisas que a sobriedade não permite e a razão esconde. Seu corpo fica mais flexível na dança e todo mundo se torna, para sempre, seu amigo de infância. O problema é quando a dose excede.
Já tive amiga que não segurou o xixi e se aliviou ali mesmo, na pista de dança. Envergonhada, prometeu que da próxima vez controlaria, a qualquer custo, a bexiga. Assim ela fez, mas nunca soube explicar por que em uma outra festa decidiu urinar dentro da própria bolsa.
Por causa da cachaça, já vi moça com pose de intelectual perder a linha e dar na cara de moça com pose de periguete. Já vi moleque com idade de adulto se esconder atrás do bar para não ouvir aquilo que merecia, mas que só outro bêbado teria coragem de dizer.
Álcool te rouba a memória. Amiga minha já perdeu o próprio carro. Voltou para casa de táxi e pois não sabia que tinha ido para festa com o próprio veículo. Outra quase quebra o nariz ao, literalmente, desabar em cima da mesa e amassar a cara na quina do móvel.
Por causa de uns goles à mais, já vi gente entrar em briga, ter ciúmes, perder objetos de valor e, pior, perder a dignidade. E isso é algo que muitas vezes não se recupera. Por isso, decidi nunca mais correr o risco de beber além do que meu corpo permite e que minha sanidade alerta. Melhor mesmo ficar sóbria. Mais divertido que ficar bêbada é rir de quem exagerou na dose.
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