Eu quero ser bela. Quem não quer? Mas me deixem ser bonita ao meu jeito. E essa maneira varia com o dia, com meu humor ou com a falta dele. Deixem-me ser bonita com maquiagem forte, batom vermelho, unha do pé pintada de preta. Não me impeça de me sentir sexy mesmo descabelada, com a cara limpa e amassada. Ou com o olho inchado de dormir, de olheira porque o sono não veio ou com o nariz vermelho por causa da minha persistente alergia. Eu quero me sentir atraente de decote profundo ou de camisa fechada. De saia curta ou de vestido comprido. Tanto faz.
Quero ser linda de salto ou com o pé no chão. Não me importa o dress code, quem faz minha moda sou eu. Hoje acordei com vontade de ter o cabelo liso: chapinha existe para isso. Para sair à noite, eu os quero enrolados: tem produto para deixá-los cacheados e indomáveis. Ainda bem! Viva a liberdade de escolha!
Eu não quero ser recatada. Não ao menos entre quatro paredes. Não a sós, comigo mesma ou com mais uma companhia. Amanhã, eu posso ser boa moça. No trabalho, para meus pais, para quem não me interessa também. Quem disse que é preciso ser depravada o tempo todo? E por que não posso ser danada algumas vezes? Permitam que eu sinta, que eu deseje. E para isso, não preciso dar explicações ou justificativas que se encaixem a regras que alguém me impôs. Deixe que eu odeie, que me esconda, que me disfarce quando eu não quiser ser vista. Serei donzela, quando decidir. Porque é legal ter dias de princesa discreta e inocente também.
Eu quero estar onde eu desejar: no lar, no mar, e quem sabe, até no bar. Não sou muito afeita a bebidas, mas posso querer perder o prumo e, quem sabe, até o rumo, algumas vezes. Querer me sentir sem amarras que só o álcool liberta. E daí? Não gosto de cozinhar e nunca quis aprender. Isso não significa que não cuide do meu lar. Tenho mania de organização, adoro limpar. Encontrar lugar para cada coisa é terapia. Minhas roupas, só eu lavo. E daí? Amanhã tudo pode mudar.
A semana inteira escutei opiniões sobre o debate suscitado pela matéria que enaltece as características da vice-primeira-dama, Marcela Temer. Algumas mulheres entenderam que a questão era pessoal. Elas se opuseram ao que chamaram de “imposição de modelo de comportamento”. Outras saíram em defesa da moça, que, de fato, não tinha qualquer responsabilidade sobre o que foi escrito sobre ela, exceto, ser ela mesmo. Ouvi também comentários masculinos de apoio e de deboche. Também macho grosseiro dando pitaco, chamando as incomodadas de “grelo duro” ou de feministas recalcadas. Lamentável, aproveitaria para dizer.
Então, vamos refletir: se a conversa toda está em torno de a moça, perfilada em questão, poder, ou não, se comportar como ela quiser, que tal se todos respeitássemos as diferenças entre gêneros, atitudes e decisões? Deixe a sua amiga, sua mãe, sua vizinha, sua irmã, a desconhecida e até a inimiga viverem com as próprias escolhas. Cuide das suas. Essa liberdade deve ser inclusive demanda urgente dos homens. Pense do jeito que melhor lhe convier, conviva com a mulher que combinar com seu estilo de vida. Pare de criticar quem pensa ou age diferente de você. Isso, sim, cansa! Seja quem você quiser. E permita que o outro seja também. Afinal, eu sou Flávia, você é Ana, ele José e ela, Marcela, a bela.