“Gente confusa perde pessoas incríveis”. Não sei quem escreveu a frase, mas não pude discordar da sábia conclusão. Verdade tão óbvia que o cérebro muitas vezes nem se dá conta, pois anda muito ocupado tentando enganar o próprio coração. Tanta gente preferindo se perder em devaneios, ficar embolado dentro dos próprios novelos emocionais, que não conseguem libertar corpo, alma e emoção. Fica dentro de si mesmo. Não se deixa encontrar.
Enquanto uns permanecem desorientados dentro de labirintos internos, o bom partido, que aguarda logo ali, na saída, desiste e vai embora. Quem quer ser feliz não tem tempo de esperar que o outro decida, por período indefinido, desatar os nós que os deixam presos a lugares seguros. A solidão parece fria, mas é familiar para muita gente. Amedronta menos do que um prazer desconhecido. Então, melhor ficar ali, enquanto assistem a quem deseja música, sol e um abraço quente fazer a malas e procurar um destino mais caloroso.
O pensamento pode ser piegas, mas o resultado é cada vez mais clichê: homens e mulheres com discursos de solitários inveterados, bem resolvidos e muito felizes. Desconfio, em parte, desta lista de predicados. É possível, sim, ficar muito bem, obrigada (o), sozinha (o), mas, no fundo, defendo que todo mundo quer boa companhia vez ou outra. Há quem queira sempre. Não importa a frequência, mas qualquer corpo vibra com a intensidade da troca. Ter medo disso é assunto para outra crônica…
Ouço amigos ou conhecidos dizerem: “eu não quero ninguém”. Conheço rapaz, defensor da solteirice, que começou a sair com alguém interessante e, nas primeiras conversas, se orgulhou da própria sinceridade: “Não me apego a ninguém!”, avisou ao pretendente. Enquanto me contava, completou o raciocínio sem medir as palavras: “Tenho medo de decepcionar as pessoas”. Meu amigo nem se ouviu, mas o que ele acabava de confessar era pavor em desagradar e de ser dispensando. Parar evitar a dor, dispensava antes.
Já esbarrei com quem se definia como um “bicho do mato”. Garantia que melhor mesmo era a liberdade de estar só, mas nunca teve a cama vazia. No rodízio de supérfluos, não sobrou vaga para o verdadeiro. Agora, faz terapia para lidar com o espaço que ficou livre e sem candidatas. É que gente rara não quer entrar na lista de espera, talvez ele tenha aprendido.
Dia desses, fiz uma nova amizade. Moça bonita, minha idade, divorciada. Enquanto falávamos sobre se apaixonar, em tom de brincadeira, ela abaixava a cabeça, fechava os olhos e, com polegar e o dedo indicador no meio das sobrancelhas, repetia para si mesma: “Agora sou fria!”. Uma espécie de mantra que ela escolheu para tentar hipnotizar a mente e fazê-la acreditar no que proferia, ainda que seu celular não parasse de apitar as mensagens que chegavam dos diferentes crushes de aplicativos de namoro.
Eu também já defendi a mesma tese. Puro escudo. Com medo de perder o controle das emoções, é mais fácil desdenhar. Dizer que não quer e que não precisa. É como olhar para uma sobremesa durante a dieta. Você deseja muito, mas decide não comer. Para diminuir a vontade, diz que não gosta, que faz mal, que prefere viver sem. E está tudo bem também.
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