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Gente feliz não posta!

Há muito, tenho refletido sobre meu comportamento exibicionista nas redes sociais e me sentindo um tanto incômoda com o personagem que inventei – e todos inventamos – para ter a melhor foto do feed. Eu, que nasci com tendência bastante ostensiva, que era líder de turma na escola e que não aceitava nada menos do que ser a protagonista na peça de teatro encenada na infância, decidi que chega de caras e bocas virtuais.

“Gente feliz não posta!”, concluí faz tempo. Falo por mim. Quando a conversa está boa e o jantar, delicioso, ninguém se preocupa em parar tudo para fazer uma foto, exclusivamente, para mostrar aos outros. A prioridade não é o registro do momento e nem adianta tentar me convencer disso. O clique faz parte da criação de uma narrativa para reforçar, a si mesmo, o quanto a sua própria vida é interessante a ponto de ser compartilhada.

Ninguém troca um chamego por um vídeo. Digo sempre que quem está ocupado e muito bem acompanhado não tem tempo para selfie. Louca de quem interrompe uma boa risada ou um bom beijo para fazer pose de sexy em troca de um “Uau, que gata!”.

Gente que está satisfeita não se preocupa em se jogar no mar ou em sair de casa sem maquiagem com medo de não estar preparada para “aquela” foto. Gente feliz anda suada, despenteada, ao natural, numa falta de produção nada glamourosa para os holofotes das redes. Afinal, quem vai invejar sua cara lavada e seus fios de cabelo rebeldes?

Quem está feliz com a vida real, vai ler um livro, preparar uma comida, ver uma série ou visitar um amigo. Sequer vai se lembrar de deitar no sofá, usar um filtro e fazer cara de quem acordou naturalmente bela. Que cansativo dominar as dobras da barriga e as rugas do sorriso para parecer sempre bela! Forçar o sorriso, encontrar o ângulo que afine o nariz, fazer o biquinho, olhar para o nada como se tudo fosse mesmo espontâneo. Levante a mão quem nunca…

Que preguiça perder tempo na praia procurando o melhor cenário atiçar a inveja nos amigos que estão trabalhando ou tentar encontrar o coqueiro meio caído para se pendurar, prender a respiração, ficar com a barriga chapada para fazer a foto, de gosto duvidoso, que não pode faltar no álbum “olha como estou plena”. Prefiro gastar este tempo para procurar vendendor de milho verde, sujar as mãos e todos os dentes que renderiam um flagra nada instagramável.

Solto um suspiro só de pensar em refazer as mil cenas porque no grupo de amigas uma apareceu com o olho fechado, a outra ficou mais gorda ou mais magra e a terceira que jogar a cabeça para trás como se a risada fosse tão natural quanto a edição de cores e luz que a foto vai ganhar antes de ser publicada. Um faz de conta que até conheço casais que não se seguem nas redes porque um não reconhece, naquele intérprete que aparece nas redes, a pessoa com quem dorme todos os dias.

Não gosto nada da ideia de estar em busca dos melhores stories, de esperar a atenção de um amigo só depois que ele tingir a foto, colocar moldura e som no vídeo. E para quê? Para que um monte de outros amigos distantes ou desconhecidos visualizem sua rotina, aparentemente, maravilhosa.

Postamos em busca do like virtual de quem não se preocupa em mandar uma mensagem ou dar um telefonema para saber como estamos de verdade. Gente que nunca irá nos convidar para um encontro. Gente que até marca o encontro, mas não aparece, ainda que assista silenciosamente a tudo o que você posta.

Mas nos sentimos amados com cada palminha ou coração que aparece nos comentários. Isso é tão fake quanto o ator que você inventou para interpretar a sua própria vida. Poucas pessoas estão interessadas no que você come, se você está reunido com sua família ou se você quer exibir o corpão acompanhado de frase motivacional. A maioria está mesmo é mais preocupada em avaliar se estão se saindo melhor do que você nesta ingrata tarefa de fingir felicidade.

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Flávia Duarte

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Flávia Duarte

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