Minha viagem rumo a outro planeta começou em uma manhã de sábado. A proposta era conhecer Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros. Fui menina de apartamento, daquelas que nunca acampou na infância, menos ainda na adolescência. Virei uma adulta avessa a insetos, temerosa às pedras escorregadias das cachoeiras e completamente intolerante à água gelada.
Por que diabos eu iria para lá? Por total curiosidade e por pura disposição de viver uma nova experiência. Fui com uma amiga, que chegou munida de uma mala de rodinhas e com um óculos de marca italiana, para poucos bolsos. Naquele momento, descobri que nós duas, sim, seríamos as extraterrestres a desembarcar naquele lugar.
Encontrei um destino de ritmo preguiçoso. Estranhei a gentileza dos motoristas sem pressa, pacientes com a falta de orientação espacial de duas forasteiras. Eu me diverti com a fala mansa daquele pessoal, que me obrigava a baixar o tom da minha voz e desacelerar meu ligeiro falatório.
Ri quando chegamos à pousada e estava escrito: “Wi-fi só depois de meia hora de conversa”. Perguntei, confusa, à jovem branca de rastafári e axilas não depiladas o que significava aquela regra. A justificativa bem razoável veio arrastada: “Isso é para as pessoas se olharem nos olhos…”
Talvez, na terra em que se acreditam em ETs, eles saibam mesmo viver. Gente que aprecia a natureza, que prefere a indolência das horas. Gente que busca a espiritualidade, não importa o atalho para alcançá-la.
Vi mulheres bonitas, ao estilo hippie burguês, que trocavam as roupas de chita e de tricô em uma feira de desapego. Conheci com italiano que abriu restaurante e resolveu envelhecer na cadência tranquila de Alto Paraíso. Os pratos que prepara são servidos e apreciados pelos comensais em igual compasso.
Fui apresentada à garçonete que se esqueceu de me dizer o nome, mas distribuiu sorrisos sem esforço, talento próprio de quem está tão de bem com a vida que já nem se lembra mais como é ficar estressado. A mesma que gargalhou lentamente, sem entender, quando eu disse que “estava paz e amor”.
Não tive contato com nenhum alienígena, mas só naquela terra poderia esbarrar com um tipo como Sirena. A profissional de quiropraxia que atende, até de graça, quem precisa “equilibrar os nervos”. Ela contou que morava naquele município desde 2008. Foi parar ali para reforçar a corrente dos crentes que se mobilizavam diante do possível fim do mundo na chegada dos anos 2000.
Voltei para meu planeta agitado, agradecida àquela figura magricela: verdade ou mentira, Sirena tinha se esforçado para evitar que tudo se acabasse na virada daquele ano. Talvez, graças à gente como ela, posso estar aqui escrevendo essa crônica. Vai saber…
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