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Flashback

Antes de sair de casa, minha amiga me perguntou: “Estou com cara de uma mulher de 40 anos?”. Usando uma saia mais curta e calçando uma bota que lhe subia pelas coxas, ela parecia bem mais jovem do que se esperava de uma pessoa com a idade dela. Fosse pelo corpo no lugar, pela barriga encaixada, pela bunda dura ou pela alegria, sua aparência e energia lhe faziam parecer mais jovem.

Chegando àquela festa, ela, de fato, não tinha mais quatro décadas de vida. Minha amiga se esqueceu do tamanho do salto que usava e pulava como uma criança. O som do evento era temático: anos 1980. Ali, com ela, todas nós voltamos a ter 10, 12, 15 anos.

E como é bom voltar a essa idade. Conduzidas pela música em uma deliciosa viagem pelo tempo, eu e minhas amigas quarentonas ou, no mínimo, passadas dos 35, nos libertamos da avaliação crítica imposta pela idade: pelo outros e por nós mesmos.

Cantávamos as letras de rock que há muito não ouvíamos, mas que foram facilmente resgatadas pela memória afetiva. Fazíamos coro em alto tom. Rodopiávamos sozinhas ou conduzidas uma pela outra, como fazem as meninas em dia de festa. Relembrávamos os passinhos, que pareceriam cafonas em outra pista, mas ali eram bem-vindos.

Minha amiga não mantinha a pose rígida que lhe exigem a idade ou o cargo atual que ocupa. Naquela noite, voltávamos a ser garotas crescidas na década mais libertária e criativa a que a nossa geração pôde desfrutar.

Ela suava. Nós também. Todas pingávamos uma energia derretida ao som de uma saudosa balada. O pé doía em cima do salto. Minha amiga reclamava das pernas dormentes nas botas de cano altíssimo. Quem se importava? Nada podia deter nossa euforia em voltar ao passado, em nos libertar das regras impostas “a mulheres de nossa idade.”

No telão ao lado do palco, imagens faziam nosso cérebro resgatar algumas memórias carinhosamente guardadas: desenhos a que assistíamos quando criança, jogos que nossos filhos e sobrinhos talvez não tenham ideia do quanto eram divertidos. Eles resgataram nas telas programas de TV e estilo de roupas. Ríamos de saudade. Ríamos pela sorte de termos compartilhado aquele tempo e por estarmos estar de volta a ele. Juntas. Mais uma vez.

Três horas depois, a mente pedia para ficar naqueles anos tão divertidos quanto inesquecíveis. Mas nenhuma de nós tinha mais 10 ou 12 anos. O corpo pedia arrego para quem trabalhou duro durante toda a semana e sentia o cansaço. O estômago exigia comida a quem não está acostumado a beber, mas se permitiu desfrutar docemente aquela noite.

Era hora de ir. Saímos cantando até entrar no carro. Deixávamos para trás, mais uma vez, a infância. Mas ainda ríamos como adolescentes e nos sentíamos como tal. Esse poder têm a música e os amigos: de nos rejuvenescer. Acabamos a noite como na época de meninas, com sanduíche gorduroso nas mãos e culpa zero na cabeça.

Ver minhas amigas tão felizes, cansadas, pés machucados por saltar ao som de Madonna ou Lulu Santos, me fez refletir como a vida, com 30 anos a menos, parece mais divertida, mais leve, sem pesos. Mais jovens, tenho a impressão, nos obrigávamos a nos aproveitar o que a vida poderia nos oferecer e essa era nossa única preocupação. Deveria continuar sendo, não importa a idade, pensei.

Por isso, minha amiga, ponha seu sapatos altos, seu vestido curto, sinta-se bela e volte no tempo. Ligue o som. Encontre amigos. Dance até molhar a roupa. Tenha os anos que sua alma e seus desejo permitirem.

Escreva: fsduarte@hotmail.com
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Flávia Duarte

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Flávia Duarte

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