Deixei de ser virgem ontem. Explico melhor antes que o leitor já faça mau juízo de minha pessoa. Fui, pela primeira vez, ao maior bloco de rua de Brasília: o Babydoll de Nylon. Na verdade, era meu debut no carnaval de rua fantasiada, com tudo previamente planejado, com direito à esquenta e “perdido” das amigas no fim da festa.
Mas minha folia de 2017 começou bem antes. Descobri que o mais divertido do pacote de farra é se fantasiar. Em menos de uma semana, fui passista, fui melindrosa, fui quenga, fui diaba, fui Carmen Miranda e também virei índia – quanto a essa, aliás, deixemos para outra crônica o debate sobre apropriação cultural. Ainda pretendo, nos próximos dias, ser Iemanjá, bailarina e o que mais minha imaginação permitir.
Abusar da maquiagem, vestir roupas coloridas, deixar o corpo à mostra, exagerar no enfeite do cabelo, nos acessórios gigantescos, colar cílios falsos, tudo isso é delicioso durante essa festa na qual, quase, tudo é permitido.
Mas descobri que me dou o direito de me caracterizar o ano inteiro. Sou quase uma drag no dia a dia. Quando fui me montar para pular nos blocos, não precisei comprar nada. Já tinha maquiagens brilhosas, bijus extravagantes e roupas com muitos babados e paetês.
Enquanto as pessoas aproveitam a permissividade dessa época do ano para, literalmente, fantasiariam suas identidades mais secretas, eu me travisto diariamente, concluí. A roupa, para mim, é um retrato do estado de espírito.
Assim como o look que você escolhe para pular carnaval – a sexy, a recatada, a engraçada, a heroína – acredito que se pode escolher, na rotina, um personagem. O vestido curto, o longo, a roupa colorida, a mais discreta… Você pode ser a moça séria, a sensual, a intelectual, a de poucos amigos, a que transparece leveza pelo visual.
Desde sexta-feira, tenho visto mulheres acharem uma grande ousadia de carnaval pintarem o rosto; amigas que deixaram para usar o decote apenas dessa vez no ano inteiro; as que usaram uma roupa de lantejoulas em um desses cinco dias. Meninas de pouca ou muita idade sem vergonha de se enfeitarem, de chamarem a atenção. Nesta semana pode, mas no resto dos 360 dias no ano, nem pensar.
Minha dica é que se experimente esse prazer de se fantasiar o ano inteiro. Essa é uma das delícias dessa festa que pode perdurar. Basta ser criativa e se autorizar. Não espere um ano para usar a roupa que desejar, para aumentar artificialmente as pestanas, para realçar os lábios de tons berrantes.
Seja gata, seja mulher-maravilha. Seja uma bela cigana ou charmosa marinheira, que conduz o barco da própria vida ou deixa que o mar te leve ao léu. Como aprendi com o famoso filósofo Facebook: “A vida é muito curta para usar glitter só no carnaval.” Concordo com o sábio autor anônimo. Por isso, se jogue e brilhe também quando tudo acabar em cinzas na próxima quarta-feira.