Sempre fui avessa a despedidas. Nascida em Brasília, não conheço outra realidade que não a de viver distante de minha família. Todos — exceto pai, mãe e meus dois irmãos — moram em Minas Gerais. Aqui, somos só nós cinco: órfãos das festas de domingo na casa da matriarca; dos aniversários de primos e dos sobrinhos; mas também livres das tretas e das lamentações da parentada.
Desde muito cedo, aprendi que é preciso dizer “tchau” a quem mais gostamos, e sempre achei isso chato pra caramba. Chegava a época de visitar avós e tios na infância, era drama certo na hora de partir. Eu me debulhava em lágrimas, escrevia cartas emocionadas aos familiares, como se a volta para a casa fosse uma travessia para uma indesejada viagem solitária. Talvez seja culpa do meu signo de caranguejo — dramático, carente, água pura —, mas sempre choro quando preciso ir embora ou deixar que alguém vá. Sofro. Passo dias com o coração carcomido pela ideia antecipada da separação.
Já tentei algumas alternativas para amenizar a comoção exagerada, como ignorar a partida e pensar que amanhã estaremos todos juntos novamente. Não dá certo. A alma muito apegada não engana o cérebro fingidor e, por mais que a mente tente se convencer de que a vida é um surpreendente percurso, e sempre haverá a possibilidade de um reencontro, os sentimentos de dúvida e a hipótese do “nunca mais” arruínam a minha tentativa de bom senso.
Outra tática foi deixar pelo meio do caminho as pessoas as quais o universo conspirou para que fisicamente estivessem distantes. Talvez doesse menos não me lembrar da boa experiência que não poderia, nunca mais, ser revivida. A tentativa foi igualmente frustrada. Minha memória, insistente em mudar os tempos verbais e transformar passado em presente, se recusa a deletar as figuras importantes que cruzaram minha vida. E dá-lhe sofrimento!
A alternativa foi, então, conviver com a danada da saudade. Uma vez me disseram que eu sou daquele tipo que quer deixar, no jardim alheio, o nome escrito, para sempre, no tronco de uma árvore, como uma lembrança em forma de cicatriz. O exemplo soa dramático, mas achei fidedigno. Quem não quer ser inesquecível e fazer parte das recordações de outra pessoa? Pretensiosa, eu sempre quis estar na lista de privilegiados indeléveis de quem me é igualmente caro. Mas como garantir a sobrevivência dentro de alguém? Impossível ter garantias.
Até que me convenceram de que vínculos verdadeiros não têm prazo de validade. Pouco importa o contato físico ou a conversação frequente. Cenários e personagens fora do comum são para sempre inolvidáveis e estarão em um canto seguro da memória, para onde podemos voltar quando o banzo chegar. Se vamos encontrar o outro ali? Não sei, mas compartilho a filosofia cantada por Raul Seixas, que definiu, na música Prelúdio, o seguinte: “Sonho que se sonha só/ É só um sonho que se sonha só/ Mas sonho que se sonha junto é realidade.” Então, quem sabe a gente se vê de novo. Ainda que na minha, na sua ou na nossa imaginação.
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