Todas as vezes em que entro em um avião, me dá um aperto no peito. Uma vontade louca de chorar. Não é medo das alturas, mas felicidade de ganhar asas. Eu me sinto, então, pertencente ao privilegiado grupo das pessoas que podem ter a chance de conhecer lugares e se conhecer mais por estar neles.
Viajar é esquecer quem sou e testar quem posso ser. É estar aberta ao imprevisto, ainda que se tenha tentado controlar todas as variáveis de segurança e bem-estar. É colocar em prática a frase clichê que prega ser “preciso se perder para se achar.”
Mas nem sempre fui assim. A alma exige destemor para se entregar a destinos desconhecidos. Antes, decidia antecipadamente cada passo que daria em meus passeios. Até o dia em que me perdi nas ruas de Santiago, Chile, com um amigo. Meu primeiro impulso foi dizer: “Vamos refazer o caminho de volta e recomeçar o trajeto.” Foi quando ele me ensinou algo que se eternizou em minha mente: “Não volte ao ponto zero! Siga daqui em diante e descubra coisas novas.” Relaxei a partir daquele minuto. Relaxei para sempre e transformei minhas visitas a outras cidades e países em possibilidades de surpresas.
Na última semana, comprei a compilação das Crônicas de Viagem, de Cecília Meireles. São três volumes em que a poetisa e jornalista transforma em deliciosos relatos suas andanças pelo mundo. Em um deles, ela tenta traduzir a liberdade de percorrer outras terras: “Porque viajar é se entregar à emoção que cada pequena coisa contém ou suscita. É exportar-se a todas as experiências e todos os riscos, não só de ordem física, — mas, sobretudo, de ordem espiritual. Viajar é uma outra forma de meditar.”
E é para esses perigosos e meditativos lugares que volto sempre que preciso reviver uma grande alegria. São esses momentos que me fazem me sentir viva, alimentar a alma e reconhecer a afortunada prerrogativa humana que é ter competência de se relembrar.
Não trago fotos nem bibelôs. Carrego comigo o descanso do sol, aplaudido de pé, de Santorini; a dor de prazer nos pés, depois de uma noite dançando salsa e que me obrigou a embarcar de Cartagena para o Brasil de chinelos; a emoção de escutar meu pai repetir: “Nunca pensei que um dia estaria na Tailândia!” Para sempre, levarei na minha bagagem interna a ida ao zoológico de Nova York, acompanhada de uma pessoa que me trouxe de volta a leveza da adolescência por uma tarde; o cheiro e o sabor das medias lunas argentinas.
Já trouxe para Brasília o apelo de uma cubana que queria trocar minhas sandálias por sua única moeda disponível: o artesanato que fazia. Nunca apagarei da mente o mar do México nem os sabores daquele país. Preparo, em breve, minha mala para nova aventura. Sei o que levo comigo e quem sou ao embarcar no próximo voo. Só não sei o que trago na volta nem quem serei depois de aterrizar.
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