Somos amigas há mais de duas décadas, tempo suficiente para que eu a conheça sem precisar de confirmações. Quando eu estava New Orleans, ela, professora de inglês e amante da cultura americana, acompanhou cada um dos meus passos na cidade berço do jazz.
Sem ouvir o tom da voz dela, entendi apenas pelas mensagens de texto que me mandava, o entusiasmo que essa minha irmã eleita por afinidade sentiu ao ver uma foto que postei na anárquica Bourbon Street. Ela nunca esteve lá, mas se sentia como se estivesse, simplesmente porque eu estava ali.
Assim são as grandes amizades: dispensam certezas ditas. Foi quando me deparei com um souvenir, uma placa da rua que tanto encanta essa minha amiga. Para outra pessoa seria apenas uma tralha a ser escondida em algum lugar da casa. Mas sem que ela me pedisse, gastei miseráveis dólares naquilo e a presenteie.
Quando entreguei aquela bobagem para ela, minha amiga me abraçou como se tivesse recebido alguns gramas de ouro. Para ela, aquela placa de metal vagabundo, feito na China, tinha valor de matéria-prima nobre. A tia que ela tanto amava e foi embora por causa de um câncer tinha uma daquelas. Ela se emocionou com a lembrança e me agradeceu, mais de uma vez.
Assim são os presentes: valem mais pela profundidade de conhecer o outro que pelo preço ou extravagância. Em tempos de desatino para as compras de Natal, muita gente tenta agradar pelo valor da fatura ou pela grandeza da embalagem, mas, na verdade, não há agrado mais significativo do que aquele pensando exclusivamente para o presenteado.
Que seja um bolo especial; um CD com uma coletânea de música escolhida à dedo; um quadro com uma foto clicada por você mesma; um álbum de fotografia de momentos compartilhados juntos… Pode ser um café da manhã, um almoço, uma massagem e até mesmo um check up, como vi esses dias em um laboratório, que vende “vale exames”. Afinal, quem ama quer o outro bem. Não importa. O que é pensando com o coração é impagável, insubstituível e inesquecível.
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