Autor: Flávia Duarte
Cresci em uma família de poucos afagos. Trago uma genética do “não me toques”. Não concluo isso como um lamento ou com qualquer crítica, mas é algo que se repete por gerações. Quando abraço minha avó, por exemplo, só sinto os tapas apressados dela em minhas costas, como quem diz:”Vamos acabar logo com isso!”. O mesmo acontece com meu pai, […]
Sem o devaneio etílico, me mantinha sóbria naquele bloquinho da Asa Norte, me esquivando dos empurrões de quem já estava com a dosagem de animação calibrada pelo álcool. Movia meu corpo ao ritmo do axé, conhecido da minha adolescência, em passos automáticos. Era minha cabeça que funcionava diante daquela cena do carnaval de Brasília. Mais atenta, eu estava aos foliões […]
Deixei de ser virgem ontem. Explico melhor antes que o leitor já faça mau juízo de minha pessoa. Fui, pela primeira vez, ao maior bloco de rua de Brasília: o Babydoll de Nylon. Na verdade, era meu debut no carnaval de rua fantasiada, com tudo previamente planejado, com direito à esquenta e “perdido” das amigas no fim da festa. Mas […]
É óbvio, mas nem sempre perceptível, seja por distração, seja por pura falta de sensibilidade: a vida é orquestrada pela harmonia da dualidade. E foi nesse devaneio que comecei a tentar definir a minha experiência de ter sido uma amadora rainha de bateria por um dia. Com penas na cabeça e nas costas, mantive o equilíbrio em cima dos […]
Que me perdoem os tímidos, mas não nasci contida. Admiro o instinto de autopreservação dos acanhados, mas meu gene da exposição foi modulado na capacidade máxima. Sempre gostei dos palcos e dos aplausos.Quando estudante, era eu quem assumia as apresentações dos trabalhos em grupo diante de toda a turma. Não recusava convites para treinar passinhos de apresentação amadora de dança […]
Não fosse meu amigo, desconfiaria da veracidade da história. Coisa de romance mamão com açúcar para reforçar, em gente crédula, que a vida pode, sim, ter um final feliz. Do tipo que engole vírgulas e pontos enquanto fala, o personagem principal desse caso começou a me narrar o tal encontro com uma empolgação de poucos sortudos que podem compartilhar um […]
Nunca me fantasiei de princesa. Tampouco fantasiei ser uma delas. Não tenho certeza de que cresci querendo ostentar tal prestígio, ainda que, quando tinha pouca idade, adorasse as criadas pela Disney. Mas acho que minha afinidade com essa figura perfeita se restringe ao título que elas ganham. Tenho simpatia pela demonstração de afeto que o substantivo “princesa” carrega. Há que […]
Fazia quase um ano que não nos falávamos. De amigos próximos, nos tornamos dois estranhos. Distanciamento potencializado por morarmos em países diferentes. Até que decidi ter notícias, dar um alô e saber como ele andava. A resposta, carregada pela frieza comum às mensagens de computador, me deixou certa de que, para aquela pessoa, o tempo não passou. O tom era […]
Eu gosto de sol, do calor, do suor. Tenho uma frase – por causa da qual já fui acusada de cafona, aliás – mas que define muito bem minha relação com o verão: “o sol abraça a gente”. No inverno, nos abraçamos a nós mesmos na tentativa de nos esquentarmos e recorremos ao colo do outro para trocar calor. Nesta […]
Nunca gostei de beber. Não é por caretice, por causa de estilo de vida ou por qualquer crença abstêmia. De cerveja, não gosto nem do cheiro. Vinho me dá sono, em vez de tesão. Conhaque nunca tentei. Tequila queima a goela e, depois da primeira taça de champanhe, meus pelos arrepiam como sinal de perigo emitido pelo estômago embrulhado. Assim, […]