Cresci encarando o dia do meu aniversário como o mais importante do ano. Quem me conhece sabe que não exagero ao dizer que, no mínimo, um mês antes do dia, já tinha a comemoração programada, a lista de convidados fechada, a roupa escolhida. Não importava se a celebração ia ser em um bar ou no salão de festas do prédio; se seria à noite ou de dia, eu me preparava como se fosse para um baile, com direito a saltos e a cílios postiços.
Não posso dizer de onde vinha esse amor pelo dia em que nasci, talvez porque nessa data são muitas as demonstrações de afeto recebidas, presentes, telefonemas, mensagens, festa. Amava ter um dia para chamar de meu, ainda que o compartilhasse com uma infinidade de desconhecidos cancerianos.
Era do tipo que na infância me magoava com quem se esquecia de me felicitar. Sabia de cor quem não tinha se lembrado e dava o troco no dia em que o ingrato completasse anos. Morria de medo de os convidados não comparecerem aos encontros para cantar os parabéns para mim, com direito a bolo e a docinhos. Em época sem celular, dava prontidão ao lado do telefone fixo para receber as chamadas.
Sim, era coisa de criança. Envelheci amenizando alguns excessos, mas continuei amando o dia 8 de julho, até virar adulta. Crescer me roubou essa graça, porém, e a data passou a ser um dia como outro qualquer. Não concluo isso com tristeza, até porque estou bem grandinha para satisfazer tanto gosto, mas confesso que senti falta da sensação de ser especial.
Este ano, não quis me reunir com ninguém. Saí de Brasília e fui parar na chuvosa e tristonha Buenos Aires. Não abri nenhum presente, não apaguei velas, não cortei bolo, tampoco havia para quem oferecer o primeiro pedaço dele, caso tivesse.
Parecia que eu chegava aos 37 anos sem ser eu mesma. Ou, justo agora, eu era quem deveria realmente ser? Sem lamentos, entendi que o passar dos anos te faz amadurecer. O que eu deveria, então, comemorar no último sábado era meu crescimento pessoal. Por vezes, é preciso estar só para se conhecer e não ter ninguém mais especial do que você para desfrutar a primeira garfada da torta.
Como uma lagosta que cresce e precisa trocar de casca, é necessário estar sozinho até que a nova proteção esteja pronta para você se apresentar ao mundo. Sem sua capa, o corpo frágil da lagosta torna-se vulnerável. Até que ela cresça, é preciso se esconder.
Assim, entendi meu recolhimento, tão estranho à minha festeira personalidade. Afinal, já tava mesmo na hora de ter uma casca mais forte e bem maior. Esse foi o presente que me dei. E por que estou falando tudo isso? Não sei, mas o aniversário é meu e ainda tenho um pouco de direito de fazer o que bem eu quiser.
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