Perdoem-me os adeptos, mas sempre tive preconceito com aplicativos de relacionamento. Acho que nada mais é do que se incluir em uma xepa virtual. Vejo como atestado de carência e de uma boa dose de incompetência. Como assim você precisa se exibir em um catálogo para que desconhecidos te atribuam estrelinhas e te deem a chance de começar um papo vazio e enfadonho?
Mas, apesar do aparente radicalismo, em noites de tédio, lá fui eu me cadastrar em um desses apps. Culpa de uma amiga, que, assim como eu, é iniciante na solteirisse e me convenceu de que a brincadeira até era divertida.
Escolhi a melhor foto, mas economizei em outros detalhes que não fossem meu nome e minha idade. Comecei a selecionar os pretendentes. Minha amiga tinha razão: é, no mínimo, engraçado ver as caras e bocas de tantos homens tentando conquistar qualquer alguém.
Nesse book estranho, cheguei a algumas conclusões rapidamente: todos, sem exceção, fazem pose de óculos. Meninas, não se deixem levar pelo suposto charme de um rosto de perfil, com uma sombra providencial e lentes escuras. Qualquer um ganha sem esforço 50% de charme adicional com o acessório.
É aí que você tem que ser esperta: a primeira foto é interessante. Na segunda, ele deixa de fazer a cara de sexy malvado. É quando descobre que o sorriso deixa a desejar. Na quarta, ele tira os óculos e você descobre que não dá.
Outra recorrência comum é a ausência de camisa. Minha gente, até concordo que em um menu degustação o físico conta pontos, mas é foto na piscina, na praia, sem camisa diante do espelho. Desastre mesmo é a pose feita de cima, como o cara sem blusa e deitado na cama. Para piorar mesmo, só quando faz bico, dá uma apertada nos olhos ou olha para o lado como se não soubesse que estava se fotografando.
Sem falar nos cenários. Compreendo os cliques em viagens. Mostra que o garotão é divertido e dá dicas do passeio que gosta de fazer. Apesar de deletar esse pretendente, também acho justo posar ao lado da filha única ou dos três filhos. Pelo menos, moça alguma poderá alegar que foi enganada por um pai de família. Mas questiono um pouco a foto meiga ao lado do cachorrinho. A que está beijando o bicho, então… Não me comove. Foto do malhado criança também me chamou a atenção: seria uma tentativa de dizer que por trás daqueles músculos existe uma doce criança precisando de colo? Tô fora!
Mas imperdoável mesmo é foto ao lado da mãe. Moço, isso pode gerar pânico. Você quer uma namorado ou alguém que te trate como filho? Apague logo essa foto! Tem ainda os sem noção: com foto de costas, com foco só do peito ou com ajuste mais em baixo. Tem que não mostre a cara… O que tá fazendo no aplicativos então, meu filho? Tem os que aparecem com uma mulher ao lado. Deduzo que seja convite para um ménage ou é falta de bom senso mesmo. Pra mim, seja qual for a ideia, é “nope” nele.
Mas a parte mais divertida é a conversa. Em geral é arrastada, com previsíveis “onde você mora?”, ” o que você faz?”, “tem filhos?” Mas me estranhou foi a pergunta:”É solteira?” Oi? Estando por aqui, não deveria?
Melhor são os erros de português, tão absurdos quanto brochantes. Mas o conteúdo é impagável: teve quem me perguntasse se alguém tinha me pedido para mandar uma calcinha usada; outro que, na segunda frase da conversa, se definiu como portador de “safadisse aguda”! Oi? Você achou isso sexy de verdade? E o que brigou comigo quando cortei o papo porque a foto do gato que ele tinha colocado no perfil não era dele. “Você não perguntou se a foto era minha?”, se defendeu. Oi?
Melhor o que me contou orgulhoso que o último encontro dele com uma garota do Tinder tinha sido em um drive thru. Não soube nem o que dizer… Pior que isso, só mesmo o primeiro encontro daquela minha amiga, a mesma que me convenceu a fazer o perfil no app, que saiu com um carinha do catálogo virtual e o moço a levou para comer em um restaurante que ele tinha um cupom de desconto para meia porção. “Você acha que meia porção dá para nós dois?”, ele perguntou. E você ainda tem coragem de me dizer que amor em tempos de aplicativo não é,no mínimo, divertido?
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