Algo roubou de mim o prazer de sentir o sabor dos doces. Também pode ter sido alguém e, nesse caso, não sei se foi obra de Deus – me abençoando para manter o peso e a saúde – ou do diabo, que me puniu tirando um dos lenientes da minha alma.
Pesquisei no Google algo que pudesse associar minha aparente mudança no paladar a qualquer patologia. Nada! Então, precisei definir se essa minha recente dificuldade em degustar o que é feito de açúcar foi presente ou condenação.
Fiquei com a primeira opção. Não reconhecer completamente o gosto do chocolate ou do doce de leite é uma forma menos sofrida de evitá-los. Afinal, coisas que aparentemente nos deixam felizes, na verdade, podem nos causar um bocado de danos. Resolvi, assim, estender a minha decisão de controlar alegrias nocivas e, para 2017, abrir mão de coisas supostamente agradáveis, mas que deixam enormes estragos.
A resolução para o novo ano vale para mim e para você. Jogue fora o desejo de comprar simplesmente para acumular coisas que nunca serão usadas. Também reflita que não compensa a culpa de comer exageradamente por simples desejo, e menos ainda a ressaca moral depois de se fartar de bebida em nome do efêmero relaxamento etílico.
Troque o grupo numeroso de colegas distantes pelo convívio próximo com os amigos seletos. Substitua a ruidosa e animada farra, tantas vezes superficial, pelo
profundo silêncio do encontro consigo mesmo. Deixe de lado as pessoas tóxicas, que dizem capazes de se emocionar com o enredo de um filme infantil, mas se mantêm indiferentes aos sentimentos de protagonistas da vida real.
Repense a meta de acumular dinheiro, só para ter a falsa sensação de riqueza, enquanto a vida passa e você perde o seu maior tesouro, que é viver. Não finja sentir amor pelo medo da solidão. Lembre-se de que se seu coração estiver ocupado pela pessoa errada, não haverá espaço para a certa.
Não tenha medo da turbulência que vem com a mudança. Nada pior do que falsa sensação de segurança de uma rotina insossa. E não desanime com a incerteza: saiba que “cada fim venta um recomeço”, ousaria plagiar Rubem Alves.
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