Lima (Peru) — Quem encontra Verônica Hipólito e Daniel Tavares pelos corredores do atletismo dos Jogos Parapan-Americanos de Lima-2019 precisa de poucos minutos para perceber uma semelhança: sobra carisma aos dois após subirem ao pódio na noite desta terça-feira (27/8). E o encontro entre os dois revela uma grande amizade por trás das conquistas de ambos. Verônica venceu um AVC e mais de 200 tumores e chegou a ficar sem andar após a última cirurgia que fez, em 2018, para tirar dois deles alojados no cérebro. Nesta terça-feira (27/8), ela ganhou a prata nos 200m da T37 e saiu correndo para ver Daniel Tavares ser campeão da T20, que conseguiu treinar apenas dois meses antes da competição por causa de um estiramento na coxa.
Aos 23 anos, Verônica é uma veterana das pistas e tem um currículo extenso. Foi campeã do Mundial de Atletismo Paralímpico de Lyon-2013, foi tricampeã parapan-americana em Toronto-2015 e soma duas medalhas paralímpicas dos Jogos do Rio (prata nos 100m e bronze nos 400m na categoria T38). Mas a recuperação da cirurgia mais recente foi dura. Chegou a ficar 5 kg acima do peso dela e teve de reaprender a andar. Diante da insegurança para voltar a competir, uma conversa com Daniel a ajudou a retomar a auto-estima.
“Vai, sai rasgando, mete o couro. Acredita até o final, que se você errar, ainda pega medalha”, disse Daniel à amiga. Antes de entrar na pista, foi a vez de o velocista com deficiência intelectual ouvir as mesmas palavras que disse momentos antes à Verônica. E os 400m masculino do T38 começou enquanto a atleta dava entrevista. Sem pensar duas vezes, pediu desculpas e foi vê-lo fechar na frente com sobra sobre os adversários, em 47.58 segundos. “Quando a gente se abraçou, ele disse que tirou um peso enorme das costas.”
“A gente não sabe o que vai acontecer no futuro. Nenhum de nós. Mas se não fizer, não acontece”, comentou Verônica. Ela se diz muito feliz por todo amor que vem recebendo durante a competição. Em relação ao que iria conversar quando encontrasse com o amigo: “Provavelmente o tanto de batata frita que a gente vai comer para comemorar.”
Já Daniel, bricalhão do jeito que é, ironiza diante da afirmação de que eles são grandes amigos. “Infelizmente, né, porque ela paga para a gente ser amigo”, diz, aos risos. “Brincadeira à parte, ela é uma irmã que Deus me deu. Tanto dentro, quanto fora das pistas, a gente leva uma amizade bem forte”, completa. Relação que se intensificou após a operação feita por Verônica e a lesão muscular sofrida por Daniel. “Um vai puxando o cavalinho do outro. E viemos conversando bastante, porque nós dois estávamos com bastante frio na barriga”, conta Daniel.
Nas muitas conversas que tiveram, o campeão paralímpico lembrou dos treinamentos que ambos fizeram para chegar até Lima. “Falei antes da prova: ‘Se for para o cara arrancar a minha medalha, vai ter de correr bastante”, disse, soltando o tradicional sorriso que o acompanha. Além do ouro, Daniel comemorou ter ganhado a aposta que travou com o treinador de que correria em menos de 49 segundos. Pois o tempo foi na casa dos 47 segundos “Aposta mais fácil, né”, zombou.
*A repórter viajou a convite do Comitê Paralímpico Brasileiro
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