Entrevista: Voando em quadra, Tandara aposta no Sesc para ir às Olimpíadas

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Aos 31 anos, Tandara vive retomada do alto nível na carreira. No fim de 2018, a oposta sofreu uma lesão séria no tornozelo esquerdo, quando defendia o Guangdong, da China. No ano passado, enfrentou críticas pelo pedido de dispensa da Seleção Brasileira de vôlei e a possível ameaça de disputar os Jogos Olímpicos de Tóquio, em julho de 2020. A resposta veio dentro de quadra. A brasiliense vem voando com o Sesc/Rio de Janeiro.

O time do técnico Bernardinho venceu a final contra o Praia Clube de virada, por 3 sets a 1, e conquistou o tetracampeonato da Copa Brasil, com protagonismo de Tandara. Com 40 pontos, a atacante quebrou o recorde de maior pontuadora em um mesmo jogo do vôlei brasileiro — que era de 39 pontos e ela própria dividia o feito com Tifanny. Em entrevista ao Elas no Ataque, Tandara confirma que a aposta é que o desempenho renda à campeã olímpica de Londres-2012 uma nova chance de disputar as Olimpíadas após ter sido cortada na Rio-2016.

Pela Superliga, Tandara tem a segunda maior média de pontos por set, com 5,11, atrás apenas de Polina Rahimova, oposta do Azerbaijão que defende o Sesi Bauru, com 5,35. Líder do torneio com 38 pontos, o Sesc/Rio volta à Superliga nesta terça-feira (4/2), contra o Flamengo, às 19h30, no ginásio do Tijuca Tênis Clube, pela quarta rodada do returno.

Veja entrevista completa com Tandara


Qual o valor do título da Copa Brasil conquistado pelo Sesc sobre o Praia Clube na final?

Foi uma conquista muito importante. É a nossa segunda final do ano, nosso segundo título (o primeiro foi o carioca) e está todo mundo emocionado. Conseguimos reverter em quadra um primeiro set em que não vimos a cor da bola. Tenho certeza de que a união do time foi mais forte, foi determinante. Eu consegui chamar a responsabilidade, fazer o meu papel, que é virar bola. É o meu trabalho.

Como lidou com as críticas e a pressão de ter pedido dispensa da Seleção Brasileira no ano passado?

Foi normal, porque as pessoas não sabem do nosso dia a dia, então se acham no direito de opinarem e criticarem. Mas é indiferente para mim. Só nós sabemos o que carregamos, o sacríficio e o que abrimos mão. Estou bem tranquila em relação a isso, porque só eu sabia o que estava sentindo e o que estava passando na minha vida. Eu fiquei bem comigo, é o que importa para que o meu trabalho ande da melhor forma possível.

Como viu a volta de jogadoras experientes, como a Sheilla e a Camila Brait, para a Seleção após terem chegado a anunciar aposentadoria da amarelinha?

Só tem a crescer, porque quem ganha é só o Brasil. Temos de pensar que são as melhores jogadoras e que vão desempenhar seu melhor trabalho para defender o Brasil. São jogadoras experientes, que decidiram sair da Seleção, mas que agora decidiram retornar e é a oportunidade dada e, com certeza, com a disputa de lugares na equipe quem tende a ganhar é o Brasil por essa competitividade.

Como é jogar no time do Sesc Rio para você que defendeu o Osasco por tantos anos?

Está sendo o melhor possível. É o meu papel e acontece em qualquer outro esporte, quando tem de trocar de cidade ou de time. Claro que sei da cobrança  e das críticas dos torcedores do Osasco e do Rio, mas acredito que o respeito vem acima de tudo. E estou lidando da melhor maneira possível. Vou dar o melhor de mim e agradar alguns e desagradar outros, paciência, vou ter de saber lidar com isso.

Como é trabalhar com o Bernardo?

É realmente tudo aquilo que as pessoas tanto falaram de responsabilidade e comprometimento. Ele é muito crítico e cobra a todo momento. Está sendo muito importante para mim e é uma outra forma de crescimento. Eu vim em busca desse crescimento, de ser treinada por ele e de ser sugada ao máximo do que eu posso dar. Nunca é tarde para se aprender e esta temporada acredito que será de muito aprendizado.

Tandara comemora boa fase com o time do Sesc/Rio de Janeiro na temporada 2019/2020 | Márcio Mercante/Divulgação

Muito se disse sobre propostas de clubes italianos. Isso realmente aconteceu para esta temporada?

Sim, existiram e em várias temporadas eu tive a oportunidade de escolher o clube. Temos momentos na nossa vida em que escolhemos e outros em que somos escolhidos. Eu estou em um momento que ainda posso escolher onde ir e resolvi ficar no Brasil para ser bem cuidada e bem assessorada logo depois da minha lesão, que foi muito séria na China. Sei que tenho de crescer fisicamente, claro que nos outros clubes no Brasil eu iria ter, mas escolhi o Rio pelo histórico e por todas as meninas que passaram pelo Rio terem falado muito bem. Então por que não experimentar?  A minha escolha é pelo crescimento e comprometimento comigo mesma. E estou aqui me cuidando fisicamente, crescendo e sentindo a minha evolução.

As próximas Olimpíadas pesaram na decisão de ir jogar no Rio?

Olimpíada é o ápice de todo atleta, é a consagração de um atleta e vi algumas entrevistas com o Zé Roberto de que ele falou que a minha presença é muito importante, colocando uma responsabilidade sobre mim e eu gosto disso. Então agora o meu foco é trabalhar e treinar bastante para que eu vá para a Olimpíada e desempenhe o meu melhor. Sobre trabalhar com o Bernardo… Como todas as jogadoras falaram de um crescimento com ele, por que não ter esse momento de crescimento tendo uma Olimpíada logo em seguida? Então isso acrescentou para a minha escolha do clube.

Como está sendo a convivência com outra brasiliense no Sesc Rio, a Fabíola?

A Fabíola eu amo de longo tempo. Joguei na Brasil Telecom, em Brasília, com ela; joguei no Osasco e, agora, estou tendo a oportunidade de jogar junto no Rio. A gente sempre se deu muito bem, é uma pessoa de uma áurea muito boa, que ajuda o máximo possível e espero também ajudar ela de alguma maneira e estou muito feliz por isso. E jogar com uma levantadora com a experiência que ela tem acrescenta mesmo que já tenhamos trabalhado algum tempo juntas.

Você e a Fabíola são as duas veteranas do Rio. Como está sendo a responsabilidade?

Já chegamos no time sabendo da nossa responsabilidade e qual seria o nível de cobrança que encontraríamos na temporada. Nós somos as mais experientes, mas tem mais gente: a Juciely, a Renatinha. Então só tende a acrescentar. E vamos aprendendo a lidar com essa responsabilidade para que ela não atrapalhe. Eu não estou fugindo disso e estou tentando trabalhar da melhor maneira possível.

As brasiliense Tandara e Fabíola são as únicas mães do Sesc/Rio de Janeiro | Márcio Mercante/Divulgação


Vocês são as duas mamães do time. Isso faz diferença?

Sendo as duas mamães, é bem gratificante para mim porque a Fabíola já tem uma menina de 13 anos e me passa uma experiência legal, porque a Maria Clara tem apenas 4. Mas a Fabíola também tem a Annah Vitória, que tem quase a mesma idade e é bem próxima da Maria Clara. Então conversamos e levamos as nossas filhas nos treinos de sábado ou feriados e elas acabam brincando o tempo inteiro durante os treinos. É bem legal. E é um passatempo para as outras meninas, que tiram foto, brincam com elas também. É uma oportunidade que as meninas têm também de voltar a brincar de boneca.

Como está sendo morar no Rio de Janeiro? Vai à praia? Gosta de samba? Ou nada desses hábitos que dizem ser típicos dos cariocas?

Morar no Rio está sendo bem bacana e é exatamente tudo aquilo que falavam em relação à praia e tudo mais. Estamos bem adaptadas, eu e Maria Clara, e estamos gostando bastante. Vou à praia muito pouco por causa da rotina de treinamento, está bem corrido. Mas, claro, vamos à praia, só não com uma grande frequência. Mas o mar já é minha casa, comer biscoito de polvilho, enfim, está bem tranquilo. Se depender da Maria Clara, vamos à praia todos os dias (risos). Mas tem de explicar que precisa ir para a escola e ela está bem adaptada também. Para eu exercer o meu trabalho tranquilamente, saber que ela está bem fica mais fácil.

O que achou da queda do time de Brasília para a Superliga B e, por tanto, que não está na elite do vôlei brasileiro na temporada 2019/2020?

Não ir à Brasília para jogar, poder ver minha família e colocar eles no ginásio para torcer é o lado ruim. Claro que é uma perda, mas o bom é que o time não acabou completamente, está na Superliga B com um projeto para subir para a Superliga A. Aliás, eu conheço o Rogério Portela (atual técnico do time), que é um cara sensacional, que faz um trabalho muito bacana e que é realmente apaixonado por vôlei e também é de Brasília. Não tenho dúvidas de que é um projeto que pode dar muito certo. E vamos esperar no ano que vem para a gente voltar a jogar em Brasília. Fico muito feliz de ver o time recheado de brasilienses apaixonados por vôlei e que estão dispostos a fazer o melhor.

“Comentei com o Rogério que eu comecei minha carreira em Brasília e que gostaria de terminar em Brasília. Até brinquei com ele para fazer as coisas direito no Brasília Vôlei porque eu quero jogar em Brasília antes de parar”


Você é muito próxima do Rogério Portela, técnico do Brasília Vôlei?

Somos amigos. Joguei em Brasília com ele, que fez parte da minha base e é uma das pessoas importantes na cidade que fizeram parte do meu crescimento. Comentei com o Rogério que eu comecei minha carreira em Brasília e que gostaria de terminar em Brasília. Até brinquei com ele para fazer as coisas direito porque eu quero jogar em Brasília antes de parar. Claro que agora ele está fazendo um projeto muito bacana, de sócio-torcedor para fazer parte da família Brasília Vôlei, que é uma iniciativa muito bacana, é uma forma de trazer visibilidade para o time que precisa de apoio e investidores.

Tandara consola Gabi Guimarães em jogo da Seleção Brasileira: chances de estarem juntas pelo tricampeonato olímpico em Tóquio | FIVB/Divulgação


O Zé Roberto demonstrou preocupação com atletas brasileiras quando atuam fora do país. Existe uma sobrecarga com as atletas brasileiras em ligas estrangeiras?

Acredito que sim, assim as demais estrangeiras como holandesas, chinesas, turcas, russas, então pesa para todo mundo. Mas o desgaste não é o somente na liga estrangeira. O calendário até da Superliga (brasileira) com competições entre seleções logo em seguida desgasta muito o atleta. É um peso de tudo, não dá para culpar só um campeonato. É muito cansativo e estressante não apenas para o corpo. Se a pessoa não estiver psicologicamente bem, reflete no corpo. Eu acredito muito em energia. Se a energia não está fluindo, com certeza o todo não vai funcionar.


Qual liga fora do Brasil que você ainda gostaria de jogar?

Claro que a curiosidade de jogar em outro país permanece, mas tudo é questão de prioridade e hoje eu tenho de pensar que tenho a Maria Clara. Querendo ou não, ela já está estudando, tem a educação, ela já não é mais uma bebê. Tenho que ver tudo isso, pesar o meu lado família, o meu lado profissional e o que for melhor para ela e para mim será decidido.


Perfil –
Tandara Alves Caixeta

Idade: 31 anos

Posição: Oposta

Mãe da Maria Clara, 4 anos

Clube atual: Sesc/Rio de Janeiro

Maíra Nunes

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