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Andy_Murray3 Sang Tan/AP

O peso do posicionamento de esportistas por causas sociais

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Lenda do boxe, Muhammad Ali foi o primeiro atleta com posicionamento aberto contra a Guerra do Vietnã. No Brasil, Sócrates foi um dos esportistas mais ativos politicamente — ele foi uma das primeiras figuras públicas a apoiar as “Diretas Já” e precursor da Democracia Corinthiana. Hoje, o britânico Andy Murray vem se consolidando como protagonista na luta pela igualdade de gênero no esporte.

O ex-número 1 do mundo chamou atenção quando se tornou o primeiro tenista da elite treinado por uma mulher, a francesa Amelie Mauresmo. O tanto de questionamentos sobre o assunto fez o tenista despertar para a causa — e abraçá-la.

Andy Murray corrige jornalistas quando generalizam os tenistas sem contabilizar as tenistas mulheres, defende as premiações equiparadas para homens e para mulheres e levanta a bandeira por mais mulheres em cargos dentro do esporte, como o de treinadoras. Nesta segunda-feira (18/9), em artigo escrito a convite da BBC, ele detalha como surgiu a necessidade de falar sobre o tema.

No artigo, ele conta que a experiência com a treinadora Amelie Mauresmo lhe deu uma pequena visão das atitudes em relação às mulheres no esporte.

“Trabalhei com a Amelie por considerá-la a pessoa certa para o trabalho, e não por uma questão de gênero. No entanto ficou claro para mim que ela nem sempre foi tratada da mesma forma que os homens em empregos similares, e então senti que tinha de falar sobre isso”

Andy Murray, tenista

Aos 30 anos, Andy Murray se propôs a escrever sobre as esperanças em relação às mulheres no tênis. De antemão, ressaltou que nunca se “propôs a ser um porta-voz pela igualdade das mulheres”. Por conta do interesse da mãe com o esporte, o tenista diz que parecia muito natural que meninas tivessem o mesmo grau de envolvimento com o esporte quanto meninos. Mais velho, contudo, percebeu o engano.

“Agora sei que não é esse o caso, e que muitas meninas abandonam quando se tornam adolescentes”

Andy Murray, tenista

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Andy Murray com a ex-técnica Amelie Mauresmo / Foto: Andrew Cowie/AFP/Getty Images

 

O empenho da mãe de Andy Murray, a técnica Judy Murray, e a experiência de ter sido treinado pela francesa Amelie Mauresmo fizeram o tenista sentir necessidade de abraçar a luta pela igualdade de gênero no esporte. Uma causa que dificilmente sai da obscuridade. As exceções se fazem quando figuras públicas dão luz à elas.

O desabafo de Rafaela Silva no judô após o ouro olímpico

Recentemente, a judoca Rafaela Silva chegou no auge da carreira: conquistou o ouro olímpico, nos Jogos do Rio-2016. Na cidade onde nasceu, diante da euforia de sagrar-se a melhor do mundo na profissão que escolheu, a carioca da favela Cidade de Deus desabafou: “O macaco que tinha que estar na jaula nos Jogos de Londres hoje é campeão olímpico dentro de casa”.

Rafaela foi vítima de ofensas racistas após ser eliminada nos Jogos de Londres-2012. A judoca é mulher, é negra e é homossexual. A última característica ela tornou pública apenas após o ouro olímpico. E a repercussão, desta vez, foi positiva. “Se fosse uma pessoa comum assumindo a sexualidade ou se fosse eu antes da medalha, não sei se seria todo esse carinho que as pessoas estão me dando nas redes sociais”, alfinetou, em dezembro de 2016.

“A medalha a trouxe para outra situação. Na condição dela, além do receio por ser lésbica, existe o medo por ser mulher”, avalia Wagner Xavier Camargo, pesquisador de gênero e sexualidade no esporte da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “E que bom que ela aproveitou essa oportunidade para dar visibilidade à causa, porque anos depois não teria tido o mesmo efeito”, completa o pesquisador.

As críticas sobre (a falta de) posicionamento do Pelé contra o racismo

A decisão de falar sobre o tema é muito valiosa, principalmente quando trata-se de uma figura pública. Uma fotografia marcou as Olimpíadas da Cidade do México, em 1968. Em cima do pódio, os velocistas Tommie Smith e John Carlos estendiam um dos braços, com punhos fechados vestidos com uma luva preta. A saudação era em alusão aos Panteras Negras, partido ativista que defendia o direito dos negros nos Estados Unidos. O ato entrou para a história da política e do esporte.

O “Rei do futebol” também é negro. A figura de Pelé certamente serviu como símbolo da causa contra o racismo. No entanto, o discurso dele foi da negação na maior parte da trajetória de vida dele. Em 2014, quando o goleiro Aranha, então no Santos, foi alvo de ofensas racistas em campo pela torcida do grêmio, Pelé desaprovou a postura do atleta de denunciar o caso.

Com 73 anos na época, Pelé disse que se tivesse parado todo jogo em que algum torcedor o chamasse de “macaco” ou “crioulo”, teriam que ser interrompido todos os jogos de que participou. Neste momento, o principal jogador do título da Copa do Mundo de 1970 não mais negara ter sofrido racismo, mas permaneceu optando pelo silêncio. Durante a carreira, foi apelidado por companheiros de time de “Gasolina” — referência à cor do petróleo, que dá origem ao combustível — e de Alemão — ironia à cor de pele dele.

Ninguém tem a obrigação de comprar briga alguma. Pelé fez o mesmo que muitos de sua geração. Ainda assim, o silêncio é tido como uma espécie de desperdício quando se trata de causas com pouca visibilidade, que estão ou estiveram presentes na vida de personalidades com respaldo mundial. Pelé ganhou o mundo sendo negro, mas se limitou a jogar futebol.

As críticas por ter ignorado a luta antirracista se repetem em relação ao atual ídolo internacional gerado pelos gramados brasileiros. Neymar também foi alvo de preconceito e optou por não se pronunciar. Já Daniel Alves, companheiro de Neymar na Seleção Brasileira, no Barcelona e, agora, no Paris Saint-Germain (PSG), comprou a causa. Além de se reconhecer negro, o lateral direito deu visibilidade internacional à luta contra o racismo ao comer uma banana atirada na direção dele enquanto atuava pelo time espanhol.

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