Até quando veremos profissionais do futebol humilharem as jornalistas?

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O futebol brasileiro foi cenário de mais um episódio de constrangimento contra uma repórter mulher nesta semana. Em uma coletiva de imprensa, Mario Celso Petraglia, presidente do Conselho Deliberativo do Athletico Paranaense, disse para uma jornalista da Gazeta do Povo se calar após ela perguntar sobre a dívida da Arena da Baixada e o possível doping do jogador Bruno Guimarães. O dirigente ainda ameaçou proibir a entrada do jornal de Curitiba nas próximas coletivas do clube.

A coletiva de imprensa em que ocorreu o constrangimento foi convocada para esclarecer os casos de doping dos jogadores do time paranaense Thiago Heleno e Camacho. E Petraglia reagiu de forma agressiva contra a repórter com a justificativa de que ela havia fugido ao tema da coletiva.  Alvo das ofensas, Luana Kaseker se viu exposta. “Eu me senti humilhada. Estava apenas exercendo minha profissão”, contou.

Petraglia se sentiu no direito de constranger uma jornalista no exercício da profissão em frente aos demais profissionais que estavam no local. Vale ressaltar que o presidente Conselho Deliberativo do Athletico Paranaense se sentiu ofendido por duas perguntas relacionadas ao clube em que trabalha e que estava representando na coletiva convocada justamente para fazer esclarecimentos à imprensa.

Perguntar faz parte do trabalho do jornalista e cabe ao entrevistado manter o respeito, mesmo quando se sente incomodado — vale ressaltar que nenhuma das perguntas foi desrespeitosa. Petraglia poderia perfeitamente ter se negado a responder, mas de forma educada, assim como fez com outro jornalista, no fim da mesma coletiva. “Ele foi questionado sobre reforços, um assunto que não estava na ‘pauta’, e respondeu com educação que não falaria sobre o assunto”, ressaltou a repórter Luana, em entrevista ao UOL.

Após Petraglia falar para que a jornalista se calasse, Luana manteve a educação e, em choque, chegou a agradecer o dirigente. “Tudo bem, obrigada”, finalizou Luana. Mas o dirigente, não satisfeito, ainda rebateu: “Não tem que agradecer, porque isso não merece agradecimento. Isso merece desculpas da sua parte”.

Assista à fala de Mario Celso Petraglia na coletiva:

Proibir em coletiva é censurar

Outro ponto grave da fala de Mario Celso Petraglia foi a ameaça ao veículo de comunicação em que a repórter trabalha. “Olha, se continuar nesse caminho, a próxima entrevista coletiva a Gazeta do Povo estará proibida de entrar”, disse. Isso, porém, é censura. Algumas perguntas que podem ser interpretadas como incômodas, por assim dizer, fazem parte do ofício que tem como objetivo questionar, fiscalizar e pressionar. Futebol é paixão sim, mas deve ser encarado com profissionalismo pelos que trabalham nele.

Depois do ocorrido, a repórter disse em entrevista ao Uol que repetiria as duas perguntas se pudesse reviver o episódio, mas que provavelmente responderia que era ele quem devia um pedido de desculpas pela forma como a tratou. No dia seguinte, o mandatário se pronunciou por meio das redes sociais, mas não foi para pedir desculpas, e sim para reforçar a indignação com a pergunta recebida.

Luana também foi às redes sociais para escrever sobre o assunto. “Obrigada a todos pelo apoio. Quem me conhece sabe que jamais faria uma pergunta com segundas intenções. Estava apenas fazendo meu trabalho. Eu realmente queria esclarecer dois assuntos e em momento nenhum o desrespeitei”, disse a repórter.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR) emitiu nota de repúdio à atitude de Petraglia em defesa da repórter. “A falta de respeito com profissionais da imprensa se tornou corriqueira, mas é lamentável e inaceitável. Impedir jornalistas de trabalhar por não gostar das perguntas feitas viola o livre exercício profissional”, criticou o sindicato.

Maíra Nunes

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