O brasileiro Ítalo Ferreira defende o título da terceira etapa da Liga Mundial de Surfe, que começou nesta semana, em Bali, na Indonésia. O potiguar abriu a temporada com vitória em Gold Coast. Mas foi Caroline Marks quem roubou a cena na abertura do circuito: aos 17 anos, ela venceu o torneio australiano. Com a façanha — e a igualdade na premiação entre homens e mulheres estabelecida a partir deste ano —, a jovem ganhou em uma única etapa mais do que a maior campeã do surfe feminino embolsou em cada uma das temporadas em que foi hegemônica no circuito mundial, de 2007 a 2010.
Aos 31 anos, a heptacampeã mundial Stephanie Gilmore acumulou no total cerca de US$ 1,5 milhão em premiação desde que integra a competição profissional, há 12 anos. Levantamento feito pelo Correio Braziliense mostra que, caso a premiação entre as disputas femininas e masculinas fossem igualitárias desde o começo da carreira de Gilmore, a surfista australiana teria recebido quase o dobro com a performance que desempenhou — aproximadamente US$ 2,9 milhões.
A atual campeã mundial venceu o primeiro campeonato de surfe com a mesma idade que tem a norte-americana Caroline Marks. Nos quatro títulos seguidos que Gilmore conquistou no início da carreira, o ano em que ela mais engordou a conta bancária foi em 2010, quando somou US$ 91 mil em premiações. Hoje, apenas a vitória de uma etapa rendeu à jovem Caroline Marks prêmio de US$ 100 mil, valor que o campeão de cada etapa do torneio masculino embolsa desde 2014. Nos últimos cinco anos, o prêmio para a campeã da etapa feminina era de 60 a 65 mil dólares.
“Quando disputei o torneio pela primeira vez, as mulheres recebiam menos da metade da premiação masculina”, disse Stephanie Gilmore. O histórico da desigualdade é mesmo grande na modalidade. Em 2008, enquanto a campeã de uma etapa feminina ganhava US$ 12 mil, o vencedor no masculino recebia US$ 30 mil.
Em 2009, a premiação ao campeão de um evento se manteve US$ 12 mil entre as mulheres e saltou para US$ 40 mil entre os homens. Em 2010, os valores foram para 15 a 20 mil dólares (feminino) e de 50 a 75 mil dólares (masculino). No ano seguinte, apenas os homens ganharam “aumento” na premiação, passando a remunerar o campeão da etapa com US$ 75 mil.
Quando as diferenças diminuíram
“Há menos mulheres competindo, não surfamos tantos eventos como eles, não surfamos nas mesmas condições. Sempre parecia ser uma maneira de contornar isso”, contou Stephanie Gilmore, sobre as justificativas que ouvia. No quinto título mundial dela, em 2012, a australiana venceu três das sete etapas e somou US$ 72 mil em premiação. A quantia não alcançou o recebido pelo campeão de uma etapa no masculino daquele ano: US$ 75 mil. Se as premiações fossem iguais, ela teria ganhado US$ 293,5 mil.
Em 2014, a competição ganhou novos organizadores e passou a se chamar Liga Mundial de Surfe (WSL, da sigla em inglês). A reestruturação do surfe ampliou o circuito feminino de oito para 10 etapas e incluiu pontos de ondas mais famosos na disputa das mulheres, como J-Bay, Fiji, Keramas, Trestles e Maui. A premiação acompanhou o desenvolvimento: saltou de US$ 15 mil para US$ 60 mil para a campeã da etapa. “As surfistas não são mais obrigadas a competir em locais ou em horários do dia menos desejáveis, enquanto os homens têm as melhores ondas”, comentou Gilmore.
O campeonato masculino também cresceu em 2014: ganhou mais uma etapa, indo a 11, e a premiação para o campeão aumentou de US$ 75 mil para US$ 100 mil por evento. Dois anos depois, foi a vez de a liga incorporar as mulheres na disputa de ondas gigantes, que tem a brasileira Maya Gabeira como protagonista . O surfe parece ter despertado para uma necessidade percebida também por outros esportes, seja por polêmicas ou feitos positivos. No tênis, o torneio de Roland Garros igualou as premiações entre os dois gêneros, assim como a Liga das Nações fez no vôlei.