O pronunciamento de Pia sobre a denúncia de assédio sexual contra Caboclo e o silêncio dos clubes

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Pia Sundhage, técnica da Seleção feminina de futebol, falou nesta quinta-feira (10/6), pela primeira vez sobre a denúncia contra o presidente da CBF, Rogério Caboclo, de ter assediado sexual e moralmente uma funcionária da entidade. Áudios em que o mandatário teria chamado a mulher de “cadela” e perguntado se ela “se masturbava” vieram à tona na última sexta-feira e provocaram o afastamento de Caboclo por 30 dias pelo Conselho de Ética. O espanto, porém, não foi revertido em manifestações de repúdio à violência contra a mulher por parte de clubes e federações, mesmo a grande maioria deles já tendo usado o tema em campanhas de marketing.

Entre os times, o São Paulo quebrou o silêncio ao pronunciar-se oficialmente sobre o caso na segunda-feira, mas pelo fato de Caboclo integrar o Conselho Deliberativo do clube. No Twitter, o Tricolor publicou que “aguardará a análise do Comitê de Ética da CBF e buscará informações sobre o caso para deliberar quais medidas cabíveis serão tomadas dentro do previsto pelo Estatuto do clube”. Pelo regulamento interno, Caboclo pode perder o status de conselheiro vitalício da equipe.

Coube, então, aos técnicos das seleções brasileiras falarem sobre a denúncia de assédio que surgiu dentro da entidade que representam. “É muito sério. Eu adoraria explicar isso em sueco, porque o inglês não é a minha língua mãe e as palavras são muito importantes nesse caso”, começou Pia, na primeira vez que se pronunciou sobre o caso, em coletiva de imprensa dada na véspera do amistoso do Brasil contra a Rússia, que será disputado nesta sexta-feira (11/7), às 16h, em preparação aos Jogos Olímpicos de Tóquio.

“Primeiro, informamos formalmente as jogadoras sobre o que havia ocorrido e elas puderam conversar e terem a opinião própria delas. Cada um de nós deve ser responsável pelas suas respostas”, explicou a treinadora, que também disse ter um posicionamento sobre o assunto, apesar de não expressá-lo claramente.

Igualdade só no discurso?

Leandro Lopes/CBF

Contraditoriamente, a gestão de Rogério Caboclo à frente da CBF foi a que promoveu as maiores iniciativas por igualdade de gênero dentro da entidade. Neste mês, Caboclo anunciou o primeiro patrocinador exclusivo da Seleção e do Brasileirão femininos. Foi ele também quem divulgou, em 2020, o pagamento de diárias equivalentes a jogadoras e jogadores na Seleção, sempre com discurso de tratamento igual entre homens e mulheres. A própria técnica Pia, bicampeã olímpica, foi trazida pelo atual presidente, que teria pensado no nome dela e feito o convite, em 2019.

Pia demonstrou que o escândalo relacionado ao presidente da CBF abalou o clima dentro da Seleção feminina, que treina desde segunda-feira na Espanha. “Sim, fomos ‘abarrotadas’ por toda essa situação, mas penso que é importante voltarmos o foco para o campo”, concluiu a sueca, ao citar a proximidade dos Jogos Olímpicos, marcados para começarem em julho. Nesta semana, o técnico da Seleção masculina também foi perguntado sobre o assunto, em coletiva. “Nós sabemos a dimensão que tem, a gravidade do caso, temos consciência disso. Agora, existe o Comitê de Ética da CBF. Essa alçada e responsabilidade são dela”, disse Tite.

Manifesto contra Copa América. E sobre a denúncia?


A denúncia de assédio sexual e moral contra Rogério Caboclo foi divulgada por reportagem de Gabriela Moreira e Martín Fernandez na última sexta-feira (4/6). Ela veio à tona quando a CBF era alvo de uma enxurrada ser críticas pela oficialização da transferência da Copa América para o Brasil, após desistência da Colômbia e da Argentina
. O remanejamento contou com articulação importante do próprio Rogério Caboclo e do governo do presidente brasileiro Jair Bolsonaro com Alejandro Dominguez, dirigente máximo da Conmebol.

A acolhida da competição pelo Brasil durante momento que a pandemia de covid-19 mantém números altos e preocupantes provocou protesto do elenco e da comissão técnica da Seleção Brasileira masculina.“Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à Seleção Brasileira”, publicaram os jogadores, nas redes sociais, na última quarta-feira, após a vitória sobre o Paraguai, por 2 x 0, pelas Eliminatórias da Copa do Catar.

Sem diminuir em nada a postura dos atletas. Mas, justamente em um momento de maior ativismo dentro da Seleção, ninguém falou absolutamente nada sobre a denúncia de assédio contra o presidente da CBF, que inclusive marcou presença no jogo anterior das Seleção comandada por Tite no compromisso anterior pelas Eliminatórias. A cobrança não é por tomar partido em uma investigação que está em andamento. Porém, como bem ressaltou o blog Drible de Corpo, “o manifesto dos jogadores peca ao não exigir apuração séria sobre essas denúncias”.

Maíra Nunes

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