Como Aline se tornou a 1ª brasileira nas Paralimpíadas de Inverno treinando no Brasil

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Aos 26 anos, a paranaense Aline Rocha concretizou o sonho de disputar as Paralimpíadas do Rio, em 2016. No mesmo ano, ela optou por escrever um novo capítulo: foi do atletismo em cadeira de rodas ao esqui cross-country. O sonho das Paralimpíadas do Rio se transformaram no das Paralimpíadas de Inverno de PyeongChang-2018, que ocorrerá de 9 a 18 de março na Coreia do Sul. Duas metas que fizeram Aline entrar para a história do esporte nacional como a primeira mulher brasileira a disputar uma Paralimpíada de Inverno — a norte-americana de coração brasileiro Isadora Williams já havia garantido vaga para o Brasil nas Olimpíadas de Inverno 2018.

“É muito gratificante fazer história, ser a primeira mulher. Mas espero ser a primeira de muitas”, almeja Aline. A vaga para PyeongChang foi conquistada na etapa da Copa do Mundo de Ski Cross Country de Canmore, no Canadá, nesta semana. Para conquistar o índice, Aline tinha de fazer abaixo de 180 pontos.  Na primeira prova, ela conseguiu 173 pontos; na segunda, 168; e 99 na última. “Minha meta era fazer uma prova abaixo de 100 pontos até a última Copa do Mundo, em fevereiro, mas já alcancei todos os objetivos aqui (no Canadá)”, orgulha-se, ao ter conseguido índices em três provas: o sprint (1 km), a trilha de média distância (2 km) e o equivalente à maratona (12 km).

“Eu tinha medo do frio, mas superei; tinha medo das descidas e superei; e sei que ainda tenho muito a evoluir. Se a mulherada quiser esquiar, estarei aqui para ajudar”

A ideia de enveredar para o esqui cross-country não surgiu de Aline. Ela mesma só foi ver neve pela primeira vez há exato um ano, quando já foi para a Suécia para aprender o novo esporte, treinar e, no mês seguinte, competir na Copa do Mundo de Para Cross Country, em Western Center, na Ucrânia. Na competição, Aline se aproximou do índice técnico para a classificação paralímpica, quando marcou 198,71 pontos. “É tudo muito rápido, mas é incrível. Assim como foi na corrida, eu amei esquiar. Lógico que tive medo do frio, pegamos -28 graus celsius na Ucrânia. Foi para testar meus limites”

Para adaptar os treinamentos no asfalto, Aline usa o que chama de Rollerski ou um skate de tamanho maior do que o usual, chamado Mountainboard. “Não é exatamente igual estar na neve, mas ajuda bastante na nossa preparação”, avalia Aline. Em setembro, ela passou 15 dias na Alemanha, onde pôde desfrutar de um túnel de neve indoor. “De todos os atletas em competições internacionais, somos os que menos têm contato com a neve, então o nosso desempenho está muito bom”, alegra-se.

O apoio do “técnico marido” rumo a Paralimpíadas de Inverno

Aline Rocha encontrou no esporte um caminho para se reinventar quatro anos após ter sofrido um acidente de carro que lhe causou uma lesão medular e a perda dos movimentos das pernas. Na corrida em cadeira de rodas (classe T54), ela compete desde provas de 100 metros a maratonas, e já venceu as maratonas do Rio de Janeiro e de São Paulo e é pentacampeã da São Silvestre.

O esporte paralímpico rendeu outras surpresas à Aline. Uma delas foi o primeiro incentivador a ela experimentar a corrida em cadeiras de rodas, há oito anos, que depois virou treinador, namorado e, hoje, assume papel triplo: o de técnico de corrida em cadeira de rodas, o de treinador também de esqui cross-country e o de marido.

Trata-se de Fernando Orso, técnico da Seleção Brasileira de esqui. Os dois são de Santa Catarina — ela de Campos Novos e ele de Joaçaba. Eles se conheceram em um centro de treinamento esportivo paralímpico. Fernando já era técnico de atletismo e de basquete quando Aline chegou para conhecer o local. Foi dele a ideia de Aline experimentar o esporte de neve. “Percebemos que várias atletas de corrida de Rússia, Estados Unidos, Japão migram do esporte de verão para o esporte de inverno”, pontua Aline.

“Não é uma modalidade fácil, leva tempo para perder o medo das descidas, das curvas. Mas estou muito mais confiante aqui”

O outro empurrãozinho não podia vir de referência melhor. O amigo Fernando Aranha, nada menos que o primeiro atleta brasileiro a disputar o esqui nas Paralimpíadas de Inverno, incentivou Aline a conhecer a modalidade na neve. Além disso, ele é um exemplo vivo do que ela está passando, já que também é atleta da corrida em cadeira de rodas e passou pela mesma transição de Aline. “Tê-lo treinando comigo ajudou muito na minha evolução, já que não temos mais mulheres na modalidade”, avalia.

Aline Rocha nas Paralimpíadas do Rio-2016: nono lugar nos 1.500m e em décimo na maratona

Aline mudou-se para São Caetano por causa dos treinamentos de atletismo. Com a perspectiva de enveredar para um esporte de inverno, Aline e Fernando apresentaram um projeto para a Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN). Logo a confederação aprovou a ideia e marcou a ida de Aline para a Suécia, com objetivo de começar a colocar o projeto em prática.

Passando as Paralimpíadas de Inverno de PyeongChang-2018, o foco de Aline volta a ser a corrida e as Paralimpíadas de Inverno de Tóquio-2020. “O esqui não me atrapalha na corrida, nem a corrida no esqui. Muito pelo contrário. O complemento das duas atividades tem me ajudado muito”, observa. Nos Jogos Paralímpicos do Rio, Aline terminou na nona colocação nos 1.500m e na décima na maratona.

Maíra Nunes

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Maíra Nunes

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