Isadora Williams, 21 anos, nunca morou no Brasil e fica nervosa ao dar entrevista em português. Mesmo assim, a patinadora nascida nos EUA escolheu fazer história defendendo a bandeira verde-amarela: foi a primeira representante do país a garantir vaga nos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang-2018, na Coreia do Sul. A classificação veio com a quinta colocação no Troféu Nebelhorn, na Alemanha, em setembro.
Filha de pai norte-americano, Isadora nunca morou no país da mãe, que é mineira de Belo Horizonte. Tampouco cultiva relação amigável com o idioma falado no Brasil. “Estudei português. Sei ler, escrever e consigo conversar, mas fico nervosa com as entrevistas ao vivo e acabo misturando tudo”, admite Isadora, ao explicar que tem sotaque. Ainda assim, a patinadora nascida em Marietta, no estado da Geórgia, nos Estados Unidos — a principal potencial esportiva do mundo — optou pelo caminho menos esperado: defender o Brasil.
Isadora tenta justificar a escolha pela bandeira verde-amarela por “já ter nascido com alma brasileira”. “Sempre tive vontade de representar o Brasil e não sei explicar isso muito bem”, assume. Puxando na memória, ela lembra que ficava atrás da mãe para saber se o Brasil tinha uma confederação de esportes no gelo. “E ela só tinha nove anos nessa época”, ressalta. A mãe de Isadora achava graça e não dava tanta importância.
Tudo mudou quando o treinador de Isadora enviou para a Confederação Brasileira de Desportos no Gelo (CBDG) um vídeo de ela patinando, aos 13 anos. Em resposta ao vídeo, veio o convite da entidade para ela representar o Brasil nas competições internacionais de patinação. Em 2014, Isadora se tornou a primeira patinadora a representar o Brasil em uma Olimpíada de Inverno, nos Jogos de Sochi.
Entre as principais recordações que Isadora guarda do Brasil estão as visitas aos mercadões do país. “Aqui, nos Estados Unidos, não tem isso. Para mim, é fascinante ver tanta gente falando português, com música, comida e as frutas com belas cores. Gosto muito da música e da alegria do povo brasileiro”, comenta. Admiração que a levou a escolher, ainda criança, a música “Tico-tico no fubá” para fazer uma apresentação sobre os patins.
O calor humano e o jeito carinhoso das pessoas são as características que Isadora mais admira no povo brasileiro. Não são poucos os motivos que a fazem querer passar um tempo maior no Brasil. O objetivo mais eminente, no entanto, é ganhar fluência no idioma.
“Entendo tudo quando eu converso em português, mas existem palavras que são difíceis de pronunciar. Queria passar mais tempo no Brasil para ganhar fluência, mas agora não consigo”, diz.
Até as Olimpíadas de Inverno, a patinadora deve disputar mais três competições na temporada de inverno do Hemisfério Norte. No Brasil, ela tem muitos tios e primos em Minas Gerais. Além de Belo Horizonte, ela conhece Rio de Janeiro e Fortaleza. E visita o país que defende nas pistas de gelo pelo mundo quando é convidada para o show Estrelas da patinação.
Para se sustentar, Isadora dá aulas de patinação no Floyd Hall Arena. A primeira patinadora a representar o Brasil nas Olimpíadas de Inverno, em Sochi-2014, também conta com o apoio da CBDG. No entanto ela ainda precisa da ajuda financeira dos pais para complementar os custos com os treinos. “Não é possível me manter no esporte, mesmo tendo feito história e encantado o Brasil com a patinação”, lamenta.
A primeira competição de Isadora pelo Brasil foi no Mundial Júnior da Holanda, em março de 2010. “Sei que não é fácil para a CBDG manter os atletas, porque o repasse do dinheiro a eles é feito em reais e o pagamento dos meus treinos é em dólar. A patinação e o bobsled são esportes caros”, minimiza Isadora. Para ela, a maior dificuldade de ser atleta profissional do Brasil é a falta de patrocínio.
Para almejar a vaga inédita nos Jogos de Inverno de Sochi-2014, Isadora fez uma campanha na internet para arrecadar o dinheiro necessário para disputar as seletivas. Deu certo e o Brasil contou com uma representante na patinação artística no gelo pela primeira vez.Caso a dificuldade financeira se mantenha, Isadora não descarta usar a mesma estratégia para o que pode ser a segunda Olimpíada dela.
No Mundial de Helsinque, entre março e abril na Finlândia, Isadora não conseguiu somar pontos suficientes para assegurar uma das 24 vagas para as Olimpíadas de Inverno disputadas no evento. Restou buscar a classificação no Troféu Nebelhorn, em 30 de setembro, quando restavam as seis últimas vagas olímpicas. Com nota final de 154.21 pontos, a melhor dela na temporada, ela terminou em quinto lugar e pôde comemorar.
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