Entenda o que está por trás das dispensas da Seleção feminina de vôlei

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A um ano dos Jogos de Tóquio, a Seleção Brasileira feminina de vôlei encara um desafio difícil de acreditar: sete jogadoras pediram dispensa da equipe bicampeã olímpica antes de uma temporada com cinco torneios internacionais — um deles para buscar a vaga na competição no Japão. Em outros tempos, esse seria o cenário de uma concorrida disputa pela chance de se aproximar da sonhada participação na equipe nacional. No entanto, o calendário cheio e as prioridades para cuidar do corpo e estar perto da família estão entre as causas dessa nova tendência de conduta. Veja também o que cada atleta disse sobre o pedido de dispensa.

Sem pausa para férias

Desde o início de 2018, o técnico José Roberto Guimarães recebeu 13 negativas ao convite para jogar pela Seleção, com argumentos que variam entre motivos pessoais e questões físicas. O próprio treinador reconhece o calendário desgastante, que emenda a liga de clubes com as competições entre as equipes nacionais. Os compromissos do time brasileiro vão começar menos de um mês após o Minas se sagrar campeão da Superliga, em 27 de abril. Por sinal, Brasília é o ponto de partida da trajetória do Brasil em 2019, com a etapa da Liga das Nações (antigo Grand Prix), de 21 a 23 de maio, no Ginásio Nilson Nelson (para informações de ingressos).

Na prática, as atletas que chegam à fase final da Superliga e são convocadas para defender a Seleção Brasileira quase não têm férias. Essa falta de tempo próximo à família foi o argumento da campeã olímpica Adenízia, que explicou nas redes sociais querer se dedicar aos pais idosos. A levantadora Dani Lins argumentou que precisa de um descanso para se recuperar das dores na coluna que sofreu durante todo o ano. Já a líbero Camila Brait pediu um tempo para esfriar a mágoa com Zé Roberto após dois cortes seguidos nas Olimpíadas de Londres-2012 e do Rio-2016.

Calendário cheio em 2019

“Se eu pudesse, nem jogaria a Liga das Nações”, declarou o técnico Zé Roberto. Os compromissos do Brasil incluem Liga das Nações, Jogos Pan-Americanos, Campeonato Sul-Americano e Copa do Mundo, além do torneio pré-olímpico. O último campeonato é apontado pelo treinador tricampeão olímpico como prioritário nessa maratona. De 2 a 4 de agosto, o Brasil encara República Dominicana, Camarões e Azerbaijão em busca de uma vaga nas próximas Olimpíadas. O país que não se classificar nesta oportunidade terá ainda uma chance, em janeiro de 2020, no Pré-Olímpico Mundial.

Renovação anunciada

Entre motivos que passam por questões de saúde e relações familiares, o elenco brasileiro acaba vivendo uma renovação “forçada”. Desde as Olimpíadas do Rio, a equipe feminina apontava para a necessidade de uma reciclagem, que começou com as aposentadorias da oposta Sheilla, 35 anos, e da central Fabiana Claudino, 34, logo depois do evento olímpico. Elas foram acompanhadas da ponteira Jaqueline, 35, que também pendurou a amarelinha, em julho de 2018, após chegar a ser testada até como líbero. Neste ano, as centrais Thaísa, 31, e Adenízia, 32, se juntaram a essa lista de campeãs olímpicas ausentes da Seleção.

Queda de rendimento

Após um frustrante sétimo lugar no Mundial em 2018, a Seleção Brasileira feminina mostrou que não conseguiu manter o alto nível dos ciclos olímpicos anteriores. Os pilares da equipe atual são a oposta Tandara, 30 anos, e as ponteiras que defenderam o Minas na temporada 2018/2019 Natália, 30, e Gabi, que se comporta como uma veterana apesar dos 24 anos. A questão é que outras jovens apostas não vingaram.

Rosamaria esteve no Mundial de 2018, mas não apareceu na lista de Zé Roberto neste ano após uma temporada discreta com o Praia-Clube, vice-campeão nacional. No clube do departamento médico, Drussyla acumulou problemas físicos e se recupera de uma fratura por estresse na tíbia direita. Gabi Cândido, que teria a primeira chance na Seleção principal depois de um ano de bom rendimento, passa por um momento de saúde delicado, em que enfrenta síndrome do pânico.

Pressão pública. Será?

Zé Roberto assumiu que relacionou as atletas na convocação deste ano para a Seleção Brasileira mesmo sabendo dos problemas apresentados por elas. “Sabia que elas pediriam dispensa, mas achei que deveriam colocar isso ao público. Desde o início do trabalho, eu disse que nós convocaríamos as melhores jogadoras da Superliga”, declarou o treinador. A exposição causada pelo treinador motivou as atletas a se explicarem nas redes sociais pessoais. Seria uma forma de o experiente comandante pressioná-las diante dos torcedores?

Caras novas em 2019

A saída de veteranas representa oportunidade para novatas. Com a baixa ao menos temporária de Dani Lins, a briga pelo posto de levantadora promete ser boa. Roberta, do Sesc/Rio de Janeiro, e Macris, do Minas, disputam a titularidade na equipe principal do Brasil, que ainda tem Juma entre as convocadas. Em ano com calendário abarrotado, Zé Roberto costuma montar dois times: as Seleções Brasileiras A e B. Chance para as promissoras ponteiras Tainara Santos, 19 anos, e Julia Bergman, com a mesma idade e 1,91m de altura. Ambas são atletas do grupo brasileiro sub-20 e foram relacionadas na convocação após passarem por período de treinos neste ano como convidadas.

Maíra Nunes

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