Quando o assunto é futebol feminino, encontrar um time pode não ser algo tão simples. Pois bem, o encontre — e, hoje, há boas opções Brasil afora —, o passo seguinte é encontrar campeonatos onde elas possam competir. Na falta de um torneio sub-13 em São Paulo, a cidade mais populosa do hemisfério sul, uma equipe de meninas participou e VENCEU uma competição em que todos os outros times eram masculinos. E que contava com grandes clubes, como Corinthians e São Paulo. A história parece de cinema, né? Pois virou! E foi intitulado Minas do futebol – filme.
O documentário acompanha o time feminino do A.D. Centro Olímpico na participação de duas competições. Relembra a vitória do único time de meninas no campeonato Moleque Travesso. E conta o desenrolar da participação da equipe no primeiro Campeonato Paulista sub-17. Neste segundo caso, a competição era feminina, mas o Centro Olímpico era composto por jogadoras sub-15, com algumas até com apenas 13 anos (ler entrevista com o diretor no fim do post).
A lateral esquerda
Ana Clara Consani, de 14 anos, virou lateral esquerda do Centro Olímpico por meio de uma peneira, feita após a repercussão da vitória no campeonato sobre os meninos, em 2016. Ela não estava no time quando o título foi conquistado, mas diz que ouviu muitas histórias das colegas sobre o tal campeonato. “Elas falam que foi dá hora”, diz, em conversa com o blog Elas no Ataque, por telefone.
“As meninas contam que o mais difícil era o bullying que sofriam por serem meninas e a surpresa dos pais e das mães dos outros times, que chegaram a xingá-las. Até as mães eram preconceituosas, sendo que elas também são mulheres”
Ana Clara Consani, jogadora do Centro Olímpico
Quando criança, a mãe de Ana Clara tentou colocá-la em aulas de natação, balé e “essas coisas”, como ela própria conta. “Mas eu sempre bati o pé que queria jogar futebol”, lembra, aos risos. O gosto pelo esporte, ela pegou jogando bola na rua com os dois irmãos lá pelos seis, sete anos. Os pais sempre a apoiaram. Tanto que o pai rodou a São Caetano atrás de escolinhas para a filha jogar.
O problema era a dificuldade em encontrar uma que aceitasse que ela jogasse com os meninos. Isso até encontrar o AD São Caetano, onde ela jogava com os meninos. Depois, ela soube da peneira do Centro Olímpico, mas que fica na cidade de São Paulo, distante cerca de uma hora e meia, com trânsito, da casa de Ana Clara. Para ir treinar, ela pega trem, metrô e ônibus, nesta ordem.
Os atletas e técnicos do time do Centro Olímpico recomendam, Ana Clara inclusive. “É bem legal e divertido, mas é meio estranho se ver em um filme. É da hora e estranho ao mesmo tempo”, avalia.
O lançamento do Minas do futebol – filme é nesta quinta-feira (7/9), com acesso liberado ao público em plataformas online como Facebook, Youtube, Vimeo (assista ao filme completo no fim do post).
“Eu me emocionei bastante. Não sei se foi por ver o meu time num filme ou por essa visibilidade sobre uma história do futebol feminino”
Ana Clara Consani, jogadora do Centro Olímpico
As notícias de que um time de meninas foi campeão de um campeonato “masculino” ficou na cabeça do jovem produtor Yugo Hattori, de 27 anos. Pouco depois, o jogo de videogame de futebol Fifa lançou uma versão com times femininos. Ao mostrar esta opção ao sobrinho, surgiu a ideia do filme. “Foi interessante como ele começou a admirar as jogadoras, basicamente porque pôde jogar com elas e conhecê-las melhor”, conta Yugo, sobre o insight que originou o documentário.
“Confesso que me sinto um pouco mal de eu ser homem e estar dirigindo um filme sobre futebol feminino. Sinceramente eu acho um pouco problemático”, reflete. “A produção audiovisual é uma área muito problemática em relação às produções femininas. Existe uma predominância muito grande de homens em todas as áreas do cinema”, complementa.
O diretor diz que, para compensar de alguma forma a produção do “Minas do Futebol – filme” ter sido dirigida por ele, um homem, Yugo está proporcionando um curso de fotografia e cinema para mulheres e jogadoras.
Antes da entrevista, Yugo fez questão de fazer uma ressalva: “Eu fiz o filme e ‘ok’, mas a parte mais importante do filme são as meninas. Eu só fui a pessoa que registrei isso”
Como surgiu a ideia do filme?
A notícia delas saiu e eu li bastante coisa na época das Olimpíadas, que foi quando elas ganharam o campeonato em que os outros times eram todos masculinos. Isso ficou na minha cabeça. Pouco depois, lançou o jogo Fifa com equipes femininas. Eu mostrei para o meu sobrinho, porque queria apresentar a ele as jogadoras e mostrar essa realidade. Foi interessante como ele começou a admirá-las, basicamente, porque ele pôde jogar com elas e conhecê-las melhor. Achei curioso que o meu sobrinho não conhecia o futebol feminino, porque não tinha contato, não tinha acesso. Então pensei, putz, seria muito legal fazer um filme com as meninas do Centro Olímpico. A história delas tem uma quebra de paradigma, pois tem uma pegada de esperança e seria legal para servir como exemplo.
Qual seu contato com futebol?
Jogava um pouco, mas sinceramente sou muito ruim. Quando viajo a outro lugar, gosto de jogar futebol. É um meio de socializar. Sempre achei curioso o sofrimento de jogar em alta altitude. Quando fiz uma viagem para a Bolívia, quis sentir na pele. Vi que os bolivianos corriam igual loucos (risos). Hoje, acompanho futebol, mas de um jeito meio esquisito. Minha família é corinthiana, eu sou também. Só que não torço para um time específico, mas para qualquer time com características que me agradam ou por causa de um jogador que gosto muito. O Danilo do Corinthians, por exemplo, tem um jeito meio ‘mineiro’ de jogar. Ele é na dele, e o acho muito simpático. Na época do Ganso no Santos, eu torcia para o Santos. O mesmo acontece com o PSG, por causa da Formiga.
Como surgiu a ideia do filme?
A notícia delas saiu e eu li bastante coisa na época das Olimpíadas, que foi quando elas ganharam o campeonato em que os outros times eram todos masculino. Isso ficou na minha cabeça. Pouco depois, lançou o jogo Fifa com equipes femininas. Eu mostrei para o meu sobrinho, porque queria apresentar a ele as jogadoras e mostrar essa realidade. Foi interessante como ele começou a admirá-las, basicamente, porque ele pôde jogar com elas e conhecê-las melhor. Achei curioso que o meu sobrinho não conhecia o futebol feminino, porque não tinha contato, não tinha acesso. Então pensei, putz, seria muito legal fazer um filme com as meninas do Centro Olímpico. A história delas tem uma quebra de paradigma, pois tem uma pegada de esperança e seria legal para servir como exemplo.
Qual seu contato com futebol?
Jogava um pouco, mas sinceramente sou muito ruim. Quando viajo a outro lugar, gosto de jogar futebol. É um meio de socializar. Sempre achei curioso o sofrimento de jogar em alta altitude. Quando fiz uma viagem para a Bolívia, quis sentir na pele. Vi que os bolivianos corriam igual loucos (risos). Hoje, acompanho futebol, mas de um jeito meio esquisito. Minha família é corinthiana, eu sou também. Só que não torço para um time específico, mas para qualquer time com características que me agradam ou por causa de um jogador que gosto muito. O Danilo do Corinthians, por exemplo, tem um jeito meio ‘mineiro’ de jogar. Ele é na dele, e o acho muito simpático. Na época do Ganso no Santos, eu torcia para o Santos. O mesmo acontece com o PSG, por causa da Formiga.
E com o futebol feminino, desde quando é um tema que você se interessa?
Meu primeiro contato com o futebol feminino foi por meio da Seleção Brasileira e por causa da Marta. Inclusive, acho interessante a importância dos exemplos. A Marta está na televisão e tem uma visibilidade diferente. O que falta para o futebol feminino é visibilidade. Claro que também é preciso vencer alguns preconceitos. Mas, para mim, o videogame exerce uma função importante nesse rôle. Meu sobrinho mesmo adora algumas jogadoras do Brasil, mas também gosta de jogadoras da Holanda, da Alemanha, porque costumamos contratá-las nos jogos.
Esse interesse se estende a outros esportes?
Outros esportes, confesso que só em Olimpíadas mesmo.
Como o time e as jogadoras ouviram a proposta da produção do filme?
O primeiro contato foi ainda na fase de pesquisa, quando liguei avisando que queria fazer o filme. Mas o tema ainda era mais geral, sobre futebol feminino. Depois, com as conversas, fiz o recorte para contar a história das meninas do Centro Olímpico. Eles foram muito abertos à produção do filme. Acharam a proposta ótima. Logo depois, houve uma peneira da Seleção Brasileira em São Paulo e também foram muito abertos. Eu não me sentia um intruso. Porque parece que foi uma coisa do tipo: ‘estou aqui filmando o seu treino, me ignorem’. Depois, eu mostrava um trecho da produção a elas e as coisas foram fluindo. Posso estar falando besteira, mas acho que criei uma relação de amizade com elas. E elas ‘sustentaram na pira’. Eu chegava com uma ideia de filmagem meio bizarra, e elas topavam.
Como foi o processo de produção do filme? Durou quanto tempo?
Seis meses. Foram alguns treinos e alguns jogos. Na época que comecei, elas estavam começando a disputar o Campeonato Paulista sub-17 e o legal foi que deu para acompanhar o campeonato todo. Elas participaram como São Paulo, mas era elenco do time do Centro Olímpico sub-15.
O filme não foi inscrito em festivais ou vendido para televisão. Por que disponibilizá-lo apenas na internet?
Sou formado em cinema e vejo muitos filmes que acabam arquivados depois que passam por festivais ou, mesmo quando vão para a internet, não são muito vistos. Para um projeto como esse, sinto um pouco de urgência. Elas são jogadoras sub-15. Em festivais e televisão, é comum pedirem exclusividade por um ou dois anos e, quando o filme fosse ao público, as meninas já estariam com 17 anos e estariam em outro momento. Na internet, poderia ser mais rápido.
Qual foi o momento mais marcante para você na produção do filme?
Não consigo visualizar momentos específicos. O contato com técnicos, com as jogadoras é a parte que mais me interessa, isso de conhecê-los e ter essa proximidade. Mas, para essa pergunta, poderia dizer que o melhor momento será, se de alguma forma, o filme ajudar essas meninas e outras a persistir nesse sonho. Ou mesmo se ajudar na discussão dessa questão de aumentar a visibilidade do futebol feminino ou na profissionalização da modalidade.
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