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FBL-WC-2019-WOMEN-MATCH17-AUS-BRA AFP/Pascal Guyot

Copa da França: um marco na luta de Marta pela igualdade de gênero

Publicado em Futebol

Paris (França) — Uma menina que deixa Alagoas aos 14 anos e se torna seis vezes a melhor jogadora de futebol do mundo abre naturalmente portas para outras mulheres tanto nos gramados quanto fora deles. Marta, no entanto, não parou por aí. Na quinta Copa do Mundo da carreira, a camisa 10 brasileira aproveitou o protagonismo em campo para decretar de vez o posicionamento a favor da luta pela igualdade de gênero.

Após ficar fora da estreia da Seleção Brasileira no Mundial, diante da Jamaica, Marta foi a campo no segundo jogo, atraindo a maior parte das atenções do confronto. Diante da Austrália, marcou o gol de pênalti que, além de abrir 2 x 0 contra o algoz do Brasil na Copa do Mundo de 2015, a igualou ao alemão Miroslav Klose como maior artilheira da história das Copas do Mundo. Com os holofotes do mundo inteiro voltados para ela, a craque brasileira comemorou a façanha apontando para a chuteira com o símbolo da igualdade.

Inevitavelmente, Marta acrescentava ao feito histórico no futebol a pauta da desigualdade entre os valores pagos às mulheres em relação aos homens no esporte. A atual melhor do mundo pela Fifa chegou ao Mundial da França sem patrocínios na chuteira, onde é comum aparecerem marcas esportivas, pois se recusou a aceitar um valor que fosse menor ao dado pelas mesmas marcas a atletas masculinos.

Visibilidade

Naquele 13 de junho, a camisa 10 brasileira foi a campo com uma chuteira toda preta e apenas o símbolo formado por dois traços que vão do rosa ao azul em degradê, que integra a campanha Go Equal. Aos 33 anos, Marta e todo o elenco brasileiro sabiam que esta era uma Copa do Mundo especial pela divulgação e visibilidade atingidas. O duelo França e Brasil registrou a maior audiência da história do Mundial feminino, com mais de 30 milhões de espectadores. Antes, a final de 2015 em que os Estados Unidos ganharam do Japão ostentava o recorde, com 25,6 milhões de pessoas.

“São oportunidades que a gente precisa agarrar com unhas e dentes”, ressaltou Marta, ao ser questionada sobre o engajamento nesta Copa do Mundo. “Eu sempre defendi muito a igualdade em todas as minhas falas, desde o momento em que eu decidi praticar esse esporte”, disse a atacante. Ainda que tenha dado essa declaração, o empenho dela pela causa se mostrou enfático agora.

No passado, silêncio em meio a polêmicas

Há dois anos, várias jogadoras se manifestaram contra a saída da técnica Emily Lima do comando da equipe do Brasil. Até Cristiane anunciou a aposentadoria da amarelinha em protesto à demissão da primeira treinadora mulher da Seleção Brasileira feminina de futebol depois de apenas 10 meses no cargo. Cristiane reconsiderou a decisão, após conversa com Vadão. Marta não se pronunciou nessa história. Durante a Copa da França, transpareceu que havia uma divergência entre a atacante e a ex-treinadora da equipe.

Marta também não assinou uma carta aberta destinada à CBF reivindicando igualdade de gênero no futebol feminino e por mais mulheres em papéis de liderança na entidade. Entre as atletas envolvidas no protesto, estavam as veteranas Sissi, Formiga, Marcia Tafarel, Rosana e Cristiane. Apesar desses dois episódios, Marta sempre brigou por mais visibilidade no futebol feminino. A cena da craque suplicando apoio à modalidade após as Olimpíadas do Rio, em 2016, é um marco dessa batalha.

Agora, o apelo foi ampliado. Além de brigar pelo desenvolvimento do futebol feminino, Marta abraçou a luta pela igualdade de gênero de forma mais enfática. A maturidade da atacante pode ter influenciado nisso. A Copa da França foi a última de Cristiane, Formiga e tantas jogadoras que marcaram uma geração na Seleção Brasileira. Entre as sete atletas com 30 anos ou mais da equipe que disputou o Mundial, apenas Marta não falou em despedida da competição. Ainda assim, fez um discurso preocupado sobre a renovação: “O Brasil não terá para sempre uma Formiga, uma Cristiane e uma Marta”.

A fala durante toda a Copa do Mundo também incluiu um viés político em relação à luta pela igualdade de direitos das mulheres. “Quero passar para as meninas essa luta, porque a gente não vai durar para uma vida inteira. Então, isso tem de continuar, buscar sempre o desenvolvimento. Significa uma oportunidade de estar sempre lutando em busca daquilo que a gente acredita e deixando um legado para que elas sigam não só dentro de campo, como fora dele”.

Marketing de batom e chuteiras

Após 17 anos da estreia com a camisa da Seleção Brasileira, Marta assumiu uma posição ativa na quinta Copa do Mundo que disputou. Depois de recusar patrocínios com valores menores aos dados a homens na mesma profissão e expor a situação por meio de uma campanha por igualdade de gênero, a craque do Brasil entrou em campo com um batom vermelho para o jogo contra a Itália, pela terceira rodada da fase de grupos. Havia uma campanha da Avon por trás da ação de marketing. Ainda assim, expandiu os limites da publicidade e rompeu preconceitos relacionados à falta de vaidade no futebol feminino.

Marta entrava em campo usando um batom escuro pela primeira vez. A cor escolhida chamava-se Sangria. “Tem de dar o sangue, tem que estar junto”, explicou a escolha, durante o torneio. Com o batom, ela marcou outro gol, também de pênalti, passando Klose como maior artilheira da história das Copas. E dedicou a marca às mulheres. Após a eliminação, voltou a bater na tecla: “A avaliação é positiva. Não da minha Copa, mas da Copa do Mundo da Seleção Brasileira. Eu não teria conseguido nenhum recorde sem o apoio das meninas”, avaliou.

Fora das quatro linhas, também abraçou a causa. A embaixadora global da ONU Mulheres desde julho de 2018 posou para uma revista de moda pela primeira vez. A Rainha do Futebol foi a estrela da capa da edição de julho da Vogue Brasil, em que aparece descalça, com o pé sobre uma bola de futebol. Assim, Marta quebra um padrão visto na maioria dos ídolos do esporte brasileiro de não misturar esporte com engajamento político, apesar do potencial de visibilidade. 

Por Maria Eduarda Cardim e Maíra Nunes — Enviadas especiais

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