Le Havre (França) — “Quero deixar o meu muito obrigada à galera do Brasil, que tem sido fantástica. Temos recebido muitas mensagens. E o mais importante: não deixem de estar junto da gente, de apoiar”, pediu Marta, após sair do campo em que o Brasil foi eliminado pela França nas oitavas de final da Copa do Mundo feminina. A mensagem da melhor do mundo depois da derrota na prorrogação, por 2 x 1, foi parecida com a dada ao fim das Olimpíadas do Rio, em 2016, emocionada.
Desta vez de batom vermelho, a capitã brasileira voltou a ficar com os olhos cheios de lágrima. Mas mudou o discurso. Ao público, agradeceu o apoio. Já às atletas, cobrou profissionalismo. “Hoje, estamos tendo a oportunidade de pedir, estamos vendo que as coisas estão melhorando, mas nem sempre valorizamos isso como deveríamos. É isso que precisamos colocar na cabeça dessas meninas. Porque as coisas não são feitas de momentos. Elas só acontecem quando a pessoa está preparada para se dedicar”, desabafou.
“É um apelo. Nós queremos cobrar, mas também temos de ser cobradas, no sentido de querer fazer as coisas, melhorar fisicamente, se cuidar, treinar, viver como atleta. Lógico que temos o nosso momento de nos divertir, mas tudo dentro de um cronograma. Vai dizer que eu não tomo uma cerveja. Tomo no momento que é conveniente”, completou a atacante que se tornou a maior artilheira da história das Copas do Mundo, com 17 gols.
A jogadora seis vezes melhor do mundo se refere ao avanço da modalidade em todo o mundo. “O nível do futebol feminino não permite mais treinar na hora que quer. O negócio está alto nível, o que é importante para abrilhantar o espetáculo. Isso mostra que somos capazes. Não é aquele futebol devagar, mortinho. O jogo hoje foi maravilhoso. Infelizmente não vencemos, mas era lá e cá”, observa Marta.
A camisa 10 brasileira não deixou de fora as críticas ao modo brasileiro de trabalhar para competições pontuais. “Se a França está no momento dela como equipe, essas meninas jogam junto a ‘300’ anos, inclusive, é a base do Lyon. É um trabalho continuo. Não dá para querer fazer o trabalho a curto prazo”, pontuou. Desde a geração que chegou ao vice-campeonato mundial, em 2007, a Seleção Brasileira feminina mostra que foi ficando para trás em relação a países que tinham pouca expressão há pouco mais de uma década.
Enquanto a oportunidade de investir naquela geração que jogou de 2004 a 2008 para firmar o Brasil como uma potência do futebol feminino passou, agora ela se mostra uma necessidade para que o país não se torne uma mera coadjuvante. O caminho passa pela base e pela profisisonalização das atletas. “Aquela geração passou, era um time brilhante. Infelizmente perdemos a oportunidade de aproveitar aquela grande equipe para começar de cedo. Porque um trabalho não faz tanto efeito em meses só, mas em anos”.
No ano que vem, a Seleção Brasileira feminina já tem outro grande evento. As Olimpíadas que serão disputadas em Tóquio, no Japão, são projetadas para ser a última competição do elenco que representou o Brasil na Copa do Mundo da França, inclusive com a despedida de Cristiane e Formiga.
Maíra Nunes — Enviada especial
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