Copa que Marta virou a maior artilheira da história ajudou a repatriar jogadoras

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Há um ano, Marta entrava nos gramados do Estádio du Hainaut, em Valenciennes, na França, para escrever mais um capítulo histórico. De batom, a camisa 10 brasileira marcou o 17° gol dela em Copa do Mundo, passando o alemão Miroslav Klose na artilharia do maior torneio de futebol do mundo. Aquele Mundial histórico despertou um movimento de retorno a muitas atletas que atuavam fora do Brasil há alguns anos.

“O recorde é nosso, de todas as mulheres que lutam constantemente por melhorias em todos os setores. Eu divido com todas que batalham e ainda tem de provar que são capazes em qualquer atividade”
Marta, quando se tornou a maior artilheira das Copas do Mundo

Após atuar quatro anos na Dinamarca, Tamires foi disputar a Copa do Mundo Feminina da Fifa 2019, na França, já com contrato assinado com o Corinthians — apesar de só ter divulgado a negociação após o torneio. No Mundial, a atacante Cristiane também já era jogadora do São Paulo desde janeiro daquele ano. A grande repercussão daquela Copa abriu o olhar de mais atletas brasileiras já estabilizadas em ligas estrangeiras que ainda não pensavam na possibilidade de voltar a jogar no Brasil.

“É claro que ainda pesa a questão da moeda, ganhar em euro é diferente de ganhar em real. Muita coisa ainda tem que ser melhorada no nosso futebol, mas o Brasil vem em uma crescente grande, que faz os atletas terem vontade de voltar a jogar no Brasil”, detalha a meia atacante e lateral esquerda do Corinthians e da Seleção Brasileira, aos 32 anos.

Cristiane voltou para o Brasil para atuar no São Paulo, em 2019, e agora defende o Santos; Tamires voltou para jogar no Corinthians

Para Tamires, a Copa influenciou os grandes clubes a se interessarem em ter atleta da equipe feminina representando o time em um Mundial ou uma Olimpíada. A maioria desses clubes profissionais com equipes femininas de futebol está concentrada em São Paulo. O estado paulista é o que tem os times mais bem estruturados e competitivos do país.

“A presença dessas jogadoras atuando no Brasil aumenta a credibilidade e a competitividade dos campeonatos, valoriza o clube e também reverbera em um crescimento no valor e nas possibilidades comerciais das equipes”, avalia Pellegrino, ex-jogadora e coordenadora do departamento de Futebol Feminino da Federação Paulista de Futebol (FPF).

Mas o olhar ao futebol feminino começou a mudar antes mesmo do Mundial de 2019. Pellegrino avalia que a confiança para o retorno de algumas jogadoras brasileiras foi resultado do processo de desenvolvimento que o futebol feminino passou em 2018 e 2019, que incluem alguns avanços nas competições, como o Campeonato Brasileiro e o Campeonato Paulista.

“A proximidade dos Jogos Olímpicos, naquele ano de Copa, e a mudança no comando técnico da Seleção Brasileira, com a chegada da Pia Sundhage, também colaboram para essa repatriação”, complementa Pellegrino. A treinadora sueca bicampeã olímpica foi contratada em julho de 2019 para comandar a Seleção Brasileira feminina no lugar de Vadão.


Mudanças que começaram antes da Copa da França

São Paulo e Cruzeiro fizeram a final do Brasileiro A2 2019: título para o Tricolor paulista

O Mundial feminino de 2019, marcado como a “Copa das Copas”, coincidiu com o primeiro ano em que clubes masculinos foram obrigados a ter equipes femininas para poderem disputar a Série A do Campeonato Brasileiro, a Copa Libertadores da América e a Copa Sul-Americana. O regulamento foi comunicado em setembro de 2016, ou seja, com dois anos de antecedência para que os times pudessem se organizar.

“No início, quando soube dessa notícia, não fiquei muito feliz por ser obrigação. Mas, se tem de ser obrigado, então que seja para que possam ver o futebol feminino com um olhar diferente. E isso vem acontecendo”, avalia Tamires. O Corinthians mesmo, onde ela atua, voltou a ter uma equipe feminina em 2016, em parceria com o Audax. A

retomada do projeto de futebol feminino no clube paulista ocorreu após 7 anos parado. Em 2018, a parceria com a equipe de Osasco foi encerrada para que o time feminino do Corinthians tivesse gestão própria. Atualmente, ele é tido como o clube de melhor estrutura para o futebol feminino do país.

Em paralelo a essa mudança no regulamento promovidos pelas entidades do futebol brasileiro e sul-americano, o Campeonato Brasileiro feminino foi reformulado. A partir de 2017, a primeira divisão diminuiu de 20 para 16 clubes. Em compensação, foi criada uma divisão de acesso à elite chamada de Série A2, disputada pelos campeões dos torneios estaduais. Vale lembrar, porém, que a Copa do Brasil feminina foi extinta nesse mesmo ano.

As alterações também tiveram incremento de investimento da CBF, como suporte financeiro para passagens aéreas ou passagens rodoviárias ou aluguel de ônibus para viagens de até 500 km; cobertura das despesas de alimentação e hospedagem em viagens para jogos e ajuda de custo de até R$ 10 mil para clubes mandantes arcarem com despesas de arbitragem, ambulâncias, gandulas e exame-antidoping.

Em 2019, quando passou a valer a exigência da CBF para que as agremiações apresentassem equipes femininas em campeonatos oficiais, as camisas tradicionais do futebol masculino mais que dobraram no Brasileirão feminino A2 daquele ano. Para isso, a competição abriu 7 vagas para os times mais bem posicionados no ranking nacional de clubes masculino de 2019.

Assim, Palmeiras, Cruzeiro, Atlético-MG, Botafogo, São Paulo, Fluminense e Vasco entraram na disputa da Série B do Brasileiro feminino em 2019. Além deles, Ceará, Grêmio e Chapecoense conquistaram a classificação por meio do Estadual. Ao todo, o torneio teve 36 clubes participantes.

A título de comparação, no primeiro ano do Brasileiro feminino A2, em 2017, não nenhum clube tradicional do futebol masculino disputou o torneio. Em 2018, foram quatro: América-MG, Internacional, Grêmio e Vitória-BA.

Maíra Nunes

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