Copa do Mundo: como a turma dos sem-ingresso se viram na Rússia

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Há quatro anos, quando encontrei argentinos que chegavam às cidades brasileiras após horas de estrada dentro de um carro ou um ônibus para vivenciarem uma Copa do Mundo sem ao menos terem um único ingresso, acreditava que estava diante de loucos. Hoje, a louca sou eu — com o agravante de que, nesta Copa, são mais de 11 mil quilômetros que separam Brasil e Rússia, mais do que o triplo dos quase 3 mil quilômetros entre Brasília e Buenos Aires.

Para o meu alento, porém, não estou sozinha. Encontrei um grupo de oito brasileiros que viajam juntos. Apenas três deles foram para o Mundial na Rússia com ingresso para partidas do Brasil. Os outros quatro só não se enquadraram oficialmente à turma dos sem-ingressos porque, na verdade, foram obrigados a comprar um tíquete qualquer para ter direito à Fan Id — identificação do torcedor obrigatória para entrar nos estádios russos.

O tal “tíquete qualquer” diz respeito ao jogo entre Suécia e Coreia do Sul, em Nizhny Novgorod, distante seis horas de carro de Moscou. Para fazer o documento do torcedor exigido na Rússia, a compra valeu. Já o jogo em si… Somente metade do grupo topou o bate-volta em um táxi para ver a vitória dos suecos por 1 x 0. O que não significa que deixarão de ir a outras partidas.

Experientes em Copa do Mundo, eles buscam ingressos pela internet e alimentam a esperança até os primeiros minutos de jogo na porta do estádio. Vivendo a terceira Copa do Mundo, o paulista Gabriel Gamero conta que, no Mundial da África do Sul, em 2010, até plaquinha avisando que buscavam ingressos para os jogos eles fizeram. Com a frase “I need tickets” (“Eu preciso de ingressos”, em inglês) pendurada no pescoço, os brasileiros conseguiram comprar dois bilhetes para o jogo que queriam: Brasil x Portugal.

Em 2018, a trupe é formada por representantes de Recife, de Niterói, no Rio de Janeiro, da capital de São Paulo e do ABC paulista. Aos 62 anos, o paulistano aposentado Paulo Maldonado Faria, ex-engenheiro químico, está na oitava Copa do Mundo dele. A primeira foi em 1990, na Itália. Já o pernambucano Cristóvão Toscano, engenheiro aposentado, vive o primeiro Mundial fora do Brasil, aos 68 anos, levado pelo genro Leandro Sardinha, funcionário público, 40 anos, que tem mais duas Copas na bagagem.

Leandro, por sinal, começou a Copa da Rússia com pé direito. Na partida de abertura do Mundial, em Moscou, o carioca conheceu um torcedor japonês que estava vendendo um ingresso para o jogo do Brasil. Agora, partiu num trem noturno de Moscou para São Petersburgo para assistir à mais uma partida do Brasil no estádio. Aos que não conseguirem comprar ingressos nem de última hora, a notícia boa é que o clima festivo dos jogos extrapolam os interiores dos estádios. Há festa por toda parte nas cidades sedes do evento.

Maíra Nunes

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