Promessa da marcha atlética de Brasília, Gabriela de Souza Muniz acumula títulos expressivos na categoria de base. Atleta do Caso, clube de Sobradinho, ela treina ao lado de Caio Bonfim, medalhista de bronze no Mundial de Londres-2017, que se prepara para a terceira Olimpíada da carreira.
A estreia do brasiliense nos Jogos foi em Londres-2012 com 21 anos, um a mais do que Gabi terá caso consiga fazer o índice rumo a Tóquio. Para a treinadora Gianetti Sena Bonfim, a jovem tem chance de obter vaga para as Olimpíadas, a partir de 23 de julho.
Para isso, porém, Gabi precisa competir na Europa. Planos que podem ser frustrados. As fronteiras para o Brasil estão fechadas devido à pandemia de covid-19.
“A Gabi está pronta para fazer o índice, a única coisa que precisa é ter competições, principalmente as realizadas entre abril e junho na Europa, por contar com temperaturas mais amenas e atletas em grande nível”, avalia a técnica Gianetti Sena Bonfim. A mesma preocupação vale para Caio Bonfim. Ele tem vaga assegurada para os Jogos de Tóquio, mas pode chegar aquém da capacidade se ficar fora das competições que reúnem os principais atletas mundo.
“Estou tendo muita fé de que vamos conseguir participar das competições internacionais. A minha parte estou fazendo todos os dias, treinando e me dedicando bastante”, diz Gabi Muniz.
Resultados promissores
Neste mês, ela venceu os 10km da Copa Brasil de Marcha Atlética, em São Paulo, na categoria sub-20 com 48min41s, novo recorde brasileiro. Além de melhorar a própria marca, de 49min23s, que havia feito em junho de 2019, em La Corunha, Espanha, o tempo da brasiliense garantiu a classificação no Pan Americano de Atletismo Sub-20, em Santiago, no Chile, de 16 a 18 de julho, e ratificou o índice (50min30s) para o Mundial Sub-20 de Nairóbi, no Quênia, em agosto.
“A Gabi pode chegar onde ela quiser, é talentosa, fria e estrategista, avalia a técnica Gianetti, que comanda o clube Caso ao lado do marido João Sena. Pais do Caio Bonfim, a dupla de treinadores enxerga em Gabi Muniz semelhanças com o filho. “Costumo dizer que a Gabi é a minha ‘Caia’, com personalidade atlética parecida à do Caio. Sabe a hora de atacar e é muito disciplinada para treinar”.
A brasiliense cultiva o sonho olímpico e aproveita a proximidade com Caio para ouvir curiosidades e história sobre o evento . “Se eu conseguisse a vaga seria experiência de outro mundo”, diz. Vivência que, caso possa se concretizar, colaboraria para ampliar a bagagem dela em competições internacionais.
Do teatro ao atletismo
Aos poucos, Gabi vence a timidez e se encanta com as cortinas que a marcha atlética vai abrindo para ela. Isso começou em um projeto de teatro, no Centro de Ensino Fundamenta Dra. Zilda Arns, no Itapoã. A escola batizada com o nome da médica pediatra e sanitarista brasileira contrapõe o histórico de violência com casos de esperança por meio da arte e do esporte.
A professora de teatro Rosa Vasconcelos conecta as duas ferramentas. Ela leva parte dos alunos para experimentar aulas de atletismo com o professor Gilvan Ferreira. Assim, Gabriela Muniz, aos 12 anos, deu as primeiras passadas. Ela andava mais de 5 km até o projeto. “Quando eu fazia provas de velocidade ou fundo, o pessoal comentava que eu entrava bastante com calcanhar, característica de marchador”, conta Gabi.
Foi quando o treinador Gilvan passou a levou para treinar no Caso, em Sobradinho, duas vezes por semana no próprio carro. “Meu Fiesta já está acabado de tanto levar menino para treinar”, brinca o professor, sem esconder a gratidão por ser um “descobridor de joias”, como ele mesmo se define. O orgulho fica explícito em cada conquista dos seus atletas. É com esse sentimento que Gilvan conta que Gabi conduziu a tocha olímpica em 2016, antes dos Jogos realizados no Rio de Janeiro.