Como o futebol pode ajudar no combate à violência contra mulher na pandemia?

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Um esporte tão popular no mundo quanto o futebol tem a visibilidade como aliada para fortalecer campanhas das mais variadas temáticas. Mesmo com a maioria das competições suspensas por causa da pandemia do novo coronavírus, a Fifa, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Comissão Europeia se uniram na campanha #SafeHome (#CasaSegura). Uma resposta ao aumento das denúncias de violência doméstica sofridas por mulheres e crianças por causa do isolamento social necessário para prevenir o contágio da covid-19.

A campanha de conscientização  que reúne essas três entidades busca amplificar a mensagem de combate à violência e divulgar ativamente os contatos dos serviços telefônicos ou de apoio locais e nacionais voltados para acolher a pessoa que se sinta ameaçada de sofrer violência onde ela mora. No caso da Fifa, ela publica vídeos que contam com a participação de jogadores e ex-jogadores nos diversos canais digitais da entidade e disponibiliza o material para as 211 federações-membro fazerem o mesmo.

Entre os 15 jogadores e jogadoras que já fizeram ou continuam fazendo história nos gramados, a única representante brasileira é a Rosana Augusto, lateral esquerda do Palmeiras e dona de duas medalhas de prata olímpicas com a Seleção Brasileira. “Sinto muito prazer em participar desse tipo de campanha em que se consegue ajudar o próximo. Fazer o bem sem olhar a quem mesmo. Foi muito gratificante para mim, que até já tinha participado de outras campanhas da Fifa relacionadas à covid-19”, disse a jogadora à CBN.

Os demais participantes são: a alemã Annike Krahn, a marfinense Clémentine Touré, a argentina Milagros Menéndez, a italiana Noemi Pascotto, a inglesa Kelly Smith, os espanhois Álvaro Arbeloa e Óliver Torres, o português Vítor Baía, o senegalês Khalilou Fadiga, o alemão Matthias Ginter, os inglêses David James e Graham Potter, o italiano Marco Materazzi e o francês Mikaël Silvestre.

“Não podemos ficar em silêncio em relação a este tema, que afeta negativamente tantas pessoas. A violência não tem espaço nos lares, assim como não tem espaço no esporte. O futebol tem o poder de retransmitir mensagens sociais importantes e, por meio da campanha #SafeHome (#CasaSegura), queremos assegurar que as pessoas que estão sofrendo violência tenham acesso aos serviços de apoio que necessitam”, disse o presidente da Fifa, Gianni Infantino.

Mariya Gabriel, comissária europeia de Inovação, Pesquisa, Cultura, Educação e Juventude, que também integra a campanha faz coro ao discurso: “Os direitos das mulheres são direitos humanos e portanto devem ser protegidos. É nossa responsabilidade como sociedade e como instituições nos pronunciarmos por essas mulheres, dar confiança e força a elas. Esta é a finalidade dessa campanha conjunta, da qual me sinto honrada de participar”, defende.

Campanhas que valem a pena lembrar

Vale lembrar que clubes brasileiros também já colaboraram com o tema. Em janeiro, os times paulistas São Paulo, Corinthians e Palmeiras se uniram à prefeitura de São Paulo atuar no Programa Tem Saída. Além de divulgar o programa entre os torcedores, os clubes se comprometeram a abrir vagas de emprego para as mulheres vítimas que denunciem o agressor no Ministério Público, Defensoria Pública, Poder Judiciário ou Delegacia. O objetivo é oferecer autonomia financeira para que possam deixar de depender do agressor.

Em março, no Dia da Mulher, Bahia e Vitória promoveram ações de combate ao machismo, à violência contra a mulher e ao assédio. O Tricolor baiano contou com a participação das jogadoras da equipe feminina e da esposa de um zagueiro na campanha #zeroviolência, em parceria com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA). Já o clube rubro-negro pediu para as torcedoras compartilharem frases de assédio ouvidas por mulheres que frequentam os estádios para passar a mensagem: “Lugar de mulher é onde ela quiser”.

O aumento da violência doméstica na pandemia

Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos mostram o aumento das denúncias de violência contra a mulher desde o início da pandemia no Brasil. As denúncias de violações aos direitos e à integridade das mulheres aumentaram 36% em abril deste ano se comparado ao mesmo mês do ano passado. Em março, quando as medidas de isolamento começaram a ser implementadas no país, o aumento das denúncias foi de 15%.

A necessidade de as pessoas permanecerem mais tempo em casa devido à pandemia da covid-19 gerou um aumento do convívio entre as vítimas e os agressores, já que a maioria das denúncias recebidas pelo serviço de atendimento “Ligue 180” são de casos de violência doméstica e familiar. Em 2019, elas somaram 79% do total de notificações. Outro fator que relacionado ao crescimento da violência doméstica é o crescimento do desemprego.

Realidade que não se restringe ao Brasil. Quase uma entre três mulheres em todo o mundo sofrem violência física e/ou sexual por parte de um parceiro íntimo ou violência sexual por parte de outros durante a vida. Até 38% de todos os assassinatos de mulheres são cometidos por um parceiro íntimo.

Mas as mulheres não são as únicas vítimas. Estima-se que um bilhão de crianças entre 2 e 17 anos de idade ou metade das crianças do mundo sofreram negligência ou violência física, sexual ou emocional no ano passado. Os dados são da OMS.

Maíra Nunes

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