Falta de estrutura nas Laranjeiras marca estreia do Flu na A2 feminina

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POR MARIANA FRAGA* — A participação de 10 clubes conhecidos pelas glórias com as categorias masculinas impulsiona a expectativa de mais visibilidade à modalidade na Série B do Brasileirão Feminino. A estreia do Fluminense, porém, evidenciou a falta de seriedade do clube com a Série A2. Na vitória sobre o Cresspom-DF, por 2 x 1, a partida atrasou por falta de bandeiras de escanteio e saída da ambulância para atendimento de atleta, terminando às 17:52h, no Estádio das Laranjeiras, que não tem iluminação artificial e não contou com policiamento dentro da arena.

Como de costume, 10 minutos antes do começo do jogo disputado em 29 de março, as jogadoras entraram em campo. Constava 15h, horário marcado para começar a partida, e a árbitra Rejane Caetano da Silva, da Fifa, ainda não havia apitado o início do jogo. O motivo foi a ausência de um dos elementos principais de referência em um campo de futebol: as chamadas bandeiras de escanteio. “No momento em que fomos vistoriar o campo, identificamos a ausência dos postes de bandeiras de canto”, observação expressa na súmula.

Após a publicação desta matéria na segunda-feira (8/4), o Fluminense, que não havia comentado o ocorrido com as bandeiras de escanteio quando procurado pela reportagem, se explicou. O clube disse que o Estádio das Laranjeiras, “até a criação recente da equipe feminina”, dedicava o maior uso para as competições da base masculina e que as bandeiras de escanteio ficam no Centro de Treinamento Vale das Laranjeiras, em Xerém. Segundo o time, a coordenação de Xerém se encarrega de levá-las sempre que há jogos no estádio. “Foi feito o pedido de empréstimo, já que era o primeiro jogo oficial do feminino por lá, mas houve um pequeno ruído de comunicação”, justificou.

Por escrito, o Fluminense detalhou o problema: “O pessoal da base trouxe apenas as bandeiras, sem os mastros, já que o pedido foi feito como o nome que utilizamos corriqueiramente, ‘bandeirinhas de escanteio’. Como foi informado que as ‘bandeirinhas de escanteio’ já estavam disponíveis, houve uma despreocupação quanto ao tempo de instalação, que geralmente é feita após a última irrigação do gramado. Quando percebido o erro de comunicação, foi pedido o envio das hastes, por isso o atraso. O Futebol Feminino já solicitou a confecção das próprias bandeirinhas completas para que não se repita o fato”.

Após 19 minutos de espera, o Fluminense conseguiu solucionar o problema. Com as bandeiras de escanteio nas devidas posições, a partida teve início às 15:19h. Na primeira etapa, Isabela abriu o placar para o Cresspom e Tarciane empatou para a equipe da casa. O período teve um minuto de acréscimo e acabou às 16:05h. O segundo tempo começou às 16:20h e correu normalmente até os 25 minutos, quando a atleta Isabela, autora do gol candango, sofreu uma concussão.

A partida foi paralisada devido à única ambulância presente no local ter deixado o estádio para levar a jogadora ao hospital. De acordo com o regulamento geral das competições da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), em caso de ausência de ambulância no estádio, a partida deve ser interrompida por 30 minutos, prorrogáveis por mais 30, se o árbitro entender que o fato gerador da paralisação pode ser sanado. A regra exige apenas uma ambulância dentro do estádio.

Passados 30 minutos do acidente com a jogadora do Cresspom, a arbitragem foi informada que a ambulância estava retornando ao estádio. A súmula diz que houve um acordo entre ambas as equipes para aguardar por mais 13 minutos para dar continuidade à partida. A informação, porém, foi contestada pelo presidente do Cresspom, Pedro Rodrigues Carvalho, que reclamou do horário do fim do confronto em um campo sem iluminação artificial.

Após 43 minutos de paralisação da partida, o segundo tempo reiniciou às 17:28, restando 20 minutos de jogo. O Fluminense virou o placar com Rayane no primeiro minuto após a retomada do duelo. A etapa complementar ainda teve 4 minutos de acréscimo, terminando às 17:52h, com a vitória do Tricolor carioca por 2 x 1. Ao todo, a partida terminou com 62 minutos a mais do que o planejado (19 minutos do atraso inicial com as bandeiras de escanteio, mais 43 minutos com a espera do retorno da ambulância).

“Já estava quase dando 18h. Quando levamos o segundo gol, já estava escuro”, critica o presidente do Cresspom, Pedro Rodrigues Carvalho. “E as atletas também ficaram abaladas por conta do atraso com a ambulância. Queríamos a remarcação da partida, não tinha condição de continuar o jogo”, completou o cartola.

O Fluminense rebate dizendo que os vídeos publicados nas redes sociais (postados acima na matéria) “mostram visibilidade totalmente normal”. E acrescenta que o abalo das jogadoras pela espera do atendimento da ambulância vale para os dois lados. “Em momento nenhum foi dito que havia iluminação do estádio, cabe ao árbitro deliberar sobre a condição de jogo”.

Entidade máxima do futebol nacional, a CBF ponderou que “a iluminação deve ser acionada quando há necessidade para o andamento da partida, em acordo e diálogo entre a arbitragem e as capitães das equipes”.

Casos semelhantes no futebol feminino

A meia-atacante Dany Helena, artilheira da Série A do ano passado com o Flamengo, estava presente no Estádio das Laranjeiras para assistir à partida entre Fluminense e Cresspom. “Não estava tão escuro, mas ajudaria se os refletores estivessem ligados; dentro de campo é outra coisa, não posso dizer que a falta de iluminação atrapalhou sem estar jogando”, ponderou.

A atacante do Flamengo presenciou outras partidas que sofreram atrasos ou foram até adiadas por ausência de estruturas regulamentadas pela CBF. “É uma situação chata. Não é a primeira vez que eu vejo isso e sei que não será a última, apesar de sempre esperar por uma melhora”, lamenta. Em 2016, quando atuava pelo Cresspom, ela encarou um total de 29 minutos de atraso no jogo de volta da semifinal da Copa do Brasil, contra o Audax.

No Estádio Bezerrão, no Distrito Federal, a partida começou 17 minutos após o horário marcado em virtude do atraso do policiamento, que estava sob comando do subtenente Erivelto, da Polícia Militar do DF. Depois, no intervalo, o policiamento se ausentou do estádio e atrasou o reinicio da partida em 12 minutos. “Estar dentro de um jogo e, de repente, ter de esperar para voltar a jogar é complicado. Atrapalha na concentração. Quando a partida é retomada, já não se está mais no clima, bem aquecido”, avalia Dany Helena.

Falta de policiamento

A outra reclamação no jogo entre Fluminense e Cresspom, pela primeira rodada do Brasileirão A2 feminino, é a ausência de policiamento no Estádio das Laranjeiras durante o confronto, exigência expressa no regulamento geral das competições da CBF. Sem os profissionais de segurança, o delegado do jogo não poderia dar início à partida, segundo o regulamento.

O Fluminense explicou que, mesmo assim, o jogo foi realizado porque “entregou o ofício de policiamento, em que houve um consenso de que o policiamento do Palácio Guanabara, localizado ao lado da sede do clube, ficaria de sobreaviso para qualquer emergência na partida de futebol. O documento foi aceito pela autoridade competente e não houve nenhum risco aos presentes”. Depois, o clube procurou a reportagem para complementar a informação passada dizendo que havia profissionais de segurança particular.

O caso mais recente de falta de policiamento no futebol feminino ocorreu no jogo entre Portuguesa e Audax, pela 11ª rodada do Campeonato Brasileiro A1 de 2018. Na ocasião, o jogo foi remarcado após uma espera de 40 minutos pela chegada da equipe de segurança, no Estádio do Canindé, em São Paulo, em 17 de julho de 2018. A decisão foi do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), após julgamento realizado pela 2ª Comissão Disciplinar, em agosto do ano passado, no processo de número 130/2018.

Posicionamento da CBF na íntegra

Procurada pela reportagem, a CBF  se posicionou por meio da assessoria de imprensa: “O critério é da arbitragem. Caso sinta que não há condição de segurança, pode agir, adiando ou suspendendo o jogo. O Fluminense apresentou argumentos que, em função das condições apresentadas pela partida, foram aceitos para a realização do evento. A iluminação deve ser acionada quando há necessidade para o andamento da partida, em acordo e diálogo entre a arbitragem e as capitães das equipes”.

*Estagiária sob a supervisão de Maíra Nunes
**Reportagem atualizada em 9/4, às 11h40

Maíra Nunes

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