Lyon (França) — A Copa do Mundo de futebol feminino se concretiza como um marco na história da modalidade. Os nove estádios que receberam o torneio na França foram palco de jogos que contrariam o clichê de que a modalidade não é atrativa. Mas a competição extrapolou o aspecto esportivo. Atletas e seleções ganharam voz e usaram os holofotes, que nem sempre são direcionados a elas, para reivindicar por igualdade. O desfecho deste Mundial não poderia ser mais representativo. Estados Unidos e Holanda, ambos comandados por técnicas mulheres, se enfrentam em uma final inédita, hoje, às 16h de Brasília, no Parc Olympique de Lyonnais, em Lyon.
Aos 52 anos, no comando das tricampeãs, Jill Ellis está a um jogo de cravar o nome na história da competição como a única treinadora, entre homens e mulheres, a ser bicampeã da Copa do Mundo feminina. Técnica dos Estados Unidos desde 2014, Jill já liderava o elenco norte-americano que levantou a taça no Mundial de 2015, no Canadá. Eleita a melhora treinadora do mundo da modalidade no mesmo ano, a inglesa de nascimento enfrentará uma colega de profissão que também já foi considerada a melhor em 2017.
Sarina Wiegman começou na seleção da Holanda no período em que Jill Ellis assumiu a equipe norte-americana, em 2014. Sarina, no entanto, iniciou como assistente técnica. E dividia a tarefa com a coordenadoria da categoria de base sub-19 do país. Em 2015, quando Roger Reijners saiu do cargo, Sarina assumiu como interina por dois meses, até a contratação de Arjan Van der Laan. Novamente como assistente, ela recebeu a licença de treinadora da Uefa em julho de 2016. Seis meses depois, Van der Laan foi demitido e Sarina assumiu como interina até ser efetivada na equipe principal.
No comando da Holanda, Sarina fez história. O primeiro grande marco para o crescimento da modalidade no país foi quando venceu a Eurocopa de 2017. Agora, levou a seleção à primeira disputa de final da Copa do Mundo feminina, já na segunda participação da equipe em um Mundial — a estreia holandesa foi na última Copa, em 2015, quando chegou às oitavas de final.
Eram 9 mulheres entre 24 seleções
A competição começou com apenas nove treinadoras mulheres entre as 24 seleções na disputa da oitava edição da Copa do Mundo da França. À medida que a competição se afunilou, a relação se inverteu. Nas quartas de final, elas viraram maioria. Das oito equipes na disputa, cinco eram comandadas por mulheres e três por homens.
Jill Ellis, dos Estados Unidos; Corinne Diacre, da França; Martina Voss-Tecklenburg, da Alemanha; Sarina Wiegman, da Holanda; e Milena Bertolini, da Itália, também passaram da primeira fase como primeiras colocadas dos respectivos grupos.
Outras decisões entre treinadoras
Esta é apenas a segunda Copa do Mundo em que a decisão conta com duas mulheres no comando das seleções. A primeira foi em 2003, quando a Alemanha da técnica Tina Theune venceu Marika Domansky Lifora, da treinadora Suécia, na disputa pelo título do Mundial sediado nos Estados Unidos. As mesmas seleções voltaram a protagonizar um duelo entre treinadoras na final do futebol feminino nos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Novamente as alemãs levaram a melhor, desta vez sob o comando de Silvia Neid, que ganharam o ouro sobre as suecas, da técnica Pia Sundhage.
As armas da Holanda para surpreender
Na França, o elenco comandado por Sarina chega à decisão com 100% de aproveitamento. Venceu Canadá, Camarões e Nova Zelândia no Grupo E, terminando em primeiro lugar, com seis gols marcados e dois sofridos. Na fase mata-mata, a Holanda passou pelo Japão, campeão mundial de 2011, por 2 x 1, nas oitavas. Eliminou a Itália nas quartas por 2 x 0. E teve o maior desafio diante da Suécia nas semifinais, quando só conquistou a classificação na prorrogação, por 1 x 0.
A atacante Vivianne Miedema, de apenas 22 anos, é a principal referência holandesa no ataque. A jogadora do Arsenal marcou três gols em seis jogos na Copa. Ela tem como companheira ofensiva Lieke Martens, eleita a melhor do mundo em 2017. A atacante do Barcelona marcou dois gols na competição, mas pode desfalcar o time porque quebrou o dedo do pé no último jogo.
EUA avassaladores nos 10 primeiros minutos
Os Estados Unidos ficaram marcados pelo ritmo sufocante que imprimem logo no início dos duelos. Abriu o placar em todos com menos de 12 minutos de jogo em todos os seis confrontos que disputou na Copa até o memento. O poder ofensivo americano pode ser dimensionado pelos 24 gols que marcaram até as semifinais. Quase metade deles de autoria das estrelas Alex Morgan (com seis) e Megan Rapinoe (com cinco).
As duas atacantes atacam dentro e fora de campo, com direito a declarações fortes por igualdade e comemorações debochadas, como a de Alex tomando chá na vitória sobre a Inglaterra. Após desfalcar os EUA na semifinal por causa de uma lesão muscular na coxa, Rapinoe deve voltar ao time para a final contra a Holanda. Na véspera do duelo, a jogadora fez duras críticas às duas outras finais do futebol masculino (Copa Améria e Copa Ouro) no mesmo dia da decisão da Copa feminina.
Além do ataque fulminante, as favoritas ao título contam com uma defesa pouco vazada. Os EUA sofreram apenas três gols em toda a competição até o momento, todos eles na fase mata-mata.
Por Maíra Nunes — Enviada especial
Patrocínio: Colégio Moraes Rêgo
Apoio: Casa de Viagens e Bancorbrás – Agência de Viagens