Érika Miranda saiu dos tatames do Sesi de Ceilândia para se tornar uma das principais judocas do Brasil. Representando a Seleção Brasileira há 12 anos, a judoca é recordista brasileira de pódios em mundiais ao lado de Mayra Aguiar — ambas subiram cinco vezes. Aos 31 anos, a brasiliense voltou a surpreender o mundo do judô. Anunciou a aposentadoria do esporte um mês após ter sido a única atleta do Brasil a ganhar medalha no último Mundial de Judô, disputado em setembro, em Baku, no Azerbaijão
“Há momentos na vida que somos compelidos a tomar decisões importantes e esta, sem dúvida, é a mais difícil para mim: deixar o judô a fim de priorizar a minha saúde”, justificou. Sem dar detalhes sobre a situação clínica que enfrenta, a atleta terá de se ausentar para tratamento e não conseguirá retornar a tempo dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. Na quarta posição do ranking mundial, a candanga era uma das favoritas para representar o Brasil nos Jogos. Jéssica Pereira é a segunda brasileira melhor colocada no cenário mundial, na 7ª colocação.
A judoca receberá homenagem do atual clube, o Sogipa, em Porto Alegre, nesta quarta-feira. Antes, no discurso de despedida feito por meio das redes sociais, ela deixou em aberto as possibilidades de voltar a ativa: “Se haverá o meu retorno um dia aos tatames do judô, só o tempo determinará. No momento, sigo em frente com humildade, muita gratidão e, sobretudo, com a certeza de que em cada treino, em cada luta, eu dei o melhor de mim”.
Érika representou o Brasil em duas Olimpíadas, a de Londres-2012 e do Rio-2016. Na primeira experiência, aos 25 anos, terminou a competição frustrada pela eliminação ainda na primeira luta, diante da sul-coreana Kyung-Ok Kim, por ippon no golden score. Isso porque a estreia dela em Olimpíadas havia sido adiada por causa de uma lesão após se classificar para os Jogos de Pequim-2008 — na ocasião, acabou substituída por Andressa Fernandes. A melhor campanha olímpica de Érika foi a quinta colocação nos Jogos do Rio.
Se o destino não reservou medalhas à Érika em Olimpíadas, ele parece ter compensado em Campeonatos Mundiais. A judoca brasiliense conquistou a prata no Mundial do Rio, em 2013; e o bronze em todos os Mundiais seguintes que disputou: Chelyabinsk, em 2014; Astana, em 2015; Budapeste, em 2017; e Baku, em 2018. Dominou a categoria meio-leve no continente americano, em que ganhou 12 medalhas pan-americanas, considerando Campeonatos e Jogos e liderou o ranking mundial por diversas vezes.
Inspiração para jovens vale mais que as medalhas
Entre tantas conquistas, Érika Miranda não atribui as medalhas como a melhor experiência da carreira. “O Judô me transformou em inspiração para outros jovens, que passaram a ver no esporte uma esperança de dias melhores, e isso foi muito gratificante”, revelou ao completar que essa foi a maior dádiva que recebeu como judoca profissional. Inclusive dentro da Seleção exerceu papel de liderança frente a uma das gerações mais vitoriosas do judô feminino brasileiro, que conta com Sarah Menezes, Rafaela Silva, Ketleyn Quadros, Mariana Silva, Maria Portela, Mayra Aguiar e Maria Suelen Altheman.
Depois de sair de Brasília aos 19 anos, integrou o Minas Tênis Clube de 2006 a 2012. Ainda teve passagem pelo Flamengo em 2013 e, um ano depois, voltou ao time mineiro. Em 2017, se transferiu para o Sogipa, em Porto Alegre, onde se aposentou do judô. “Experimentei o êxtase de levar para casa inúmeras medalhas, mas também aprendi a aceitar com humildade a derrota e a reconhecer o merecimento do meu adversário”. Entre tantos aprendizados, se disse grata por ter vivenciado outras culturas e conhecido outros países.