Nem mesmo as pessoas mais próximas de Thais Carvalho diriam que a escolha pela amputação da perna direita poderia trazer tanta alegria. Para a paratleta do tiro com arco, a decisão trouxe qualidade de vida e um aumento da autoestima.
Além disso, Thais pôde estabilizar a frequência de treinos e se dedicar ao esporte sem ter que parar para fazer cirurgias. Com isso, vieram as medalhas. A última delas inédita para o Brasil. A brasiliense ganhou a prata por equipe mista no Mundial Paralímpico de Tiro com Arco, em Pequim, na China.
A conquista veio em setembro ao lado de Francisco Cordeiro. Para subir no pódio, eles tiveram que ultrapassar grandes potências do esporte. O primeiro desafio foi contra o país anfitrião. Após vencer a China por 6 a 2, os brasileiros enfrentaram a Coreia do Sul, Rússia e Itália. Aos 25 anos, Thaís celebra as conquistas que o esporte concedeu. Ano passado, ela foi uma dos 21 brasilienses que representaram o Brasil na Paralimpíada do Rio.
Antes de poder se dedicar totalmente a modalidade, Thais sofreu com sete cirurgias e a adaptação após cada uma delas. Aos 3 anos, a atleta fraturou a tíbia e o osso não calcificou. Aos 5, sofreu uma nova fratura e quebrou a fíbula. Por conta da pseudoartrose congênita, o osso não calcificava e a perna foi entortando.
Além disso, a perna direita era 12 centímetros menor que a esquerda. “Toda vez que fazia uma cirurgia era um tempo de adaptação. Ficava sem pisar e depois tinha que reaprender com ajuda de andador e muletas”, relembra.
A última tentativa de Thais foi quando ela colocou um pino que ajudaria a alinhar a perna e duraria 10 anos, mas mais uma vez não deu certo. O pino quebrou no meio do osso e ela precisaria de mais uma cirurgia. O momento foi de reflexão.
Formada em biologia, Thaís começou a estudar, ler e pesquisar sobre a amputação. “Na minha cabeça era uma opção muito boa porque já tinha passado por uma boa cota de dor na minha vida por conta dos procedimentos”, analisa.
Qualidade de vida
Após visitar outros médicos e um psicólogo, a jovem decidiu e a amputação veio em 2014. “Minha mãe chorou quando falei que queria amputar, minha avó achou um absurdo e uma tia queria empalhar minha perna”, conta.
Apesar das diversas reações, ela se sentia tranquila. “A amputação me trouxe qualidade de vida. Além disso, com a órtese que eu usava na perna era difícil encaixar algumas roupa e as pessoas ficavam olhando estranho”, lembra.
Três meses depois da cirurgia, Thaís já estava competindo no Parapan da modalidade, na Argentina. No ano seguinte, em 2015, veio a medalha de prata nos Jogos Parapan-Americanos de Toronto. Com a conquista, ela garantiu a vaga nos Jogos Paralímpicos do Rio, onde ficou em nono lugar.
O blog Elas no ataque foi a um treino e conversou com a atleta. Veja o bate papo no vídeo abaixo:
Por Maria Eduarda Cardim e Maíra Nunes