Depois de Cristiane anunciar a aposentadoria da Seleção Brasileira, mais duas jogadoras declararam que também não jogam mais pelo time do país. Rosana e Fran anunciaram nesta quinta-feira (28/9) que não jogam mais pela Seleção. As decisões de ambas as jogadoras foram motivadas pela demissão da técnica Emily Lima.
Aos 27 anos, Fran anuncia a aposentadoria da Seleção de forma precoce, considerando apenas a idade — claro que há todo um protesto e questões pessoais que baseiam a decisão. Em vídeo publicado nas redes sociais, ela citou alguns dos motivos que incentivaram a decisão.
“Estou cansada de tanta injustiça e hipocrisia. Se nada muda, mudo eu”, afirma. Ao contrário de Cristiane, Fran declarou que também está deixando a Seleção por causa de “quem retornou”. “Não tenho nada contra o Vadão, mas sim contra a omissão dele em relação a alguns casos”, completa.
O treinador Vadão voltou a assumir o time após a demissão de Emily. Na avaliação da atleta, ela não estaria nos planos de uma convocação da nova comissão técnica e mesmo se fosse convocada garante que isso não está mais nos próprios planos.
“Não vejo coerência da minha parte em fazer parte de um trabalho que não acredito que possa dar certo”,
Fran
A meia campista passou pela base da Seleção Brasileira até chegar na equipe adulta. Ela integrou o elenco medalhista de prata nos Jogos Olímpicos de Pequim-2008, último pódio do futebol feminino brasileiro em Olimpíadas e Copas do Mundo. Também foi vice-campeã no Pan-Americano de Guadalajara, em 2011, e defendeu Santos, Corinthians/Audax e Avaldsbes, time da Noruega.
A jogadora também lembrou que as jogadoras chegaram a solicitar a permanência da ex-técnica, a primeira treinadora mulher a comandar a Seleção. Em tom de despedida, a volante agradeceu aos fãs o apoio e desejou boa sorte as colegas que permanecem na equipe. “Torço para que quem for ficar colha bons frutos, se é que é possível ainda”.
Assim como Fran, a lateral esquerda, Rosana dos Santos encerra aos 35 anos um ciclo de 18 anos defendendo a Seleção Brasileira de futebol feminina. A jogadora publicou em seu Facebook um texto no qual expressou o desejo de não defender mais a camisa verde e amarela. “Diante das circunstâncias e adversidades dos últimos acontecimentos, sinto que as atletas não têm voz”, critica.
A atual jogadora do Paris Saint-Germain (PSG) disputou quatro Olimpíadas: de Sydney-2000, Atenas-2004, Pequim-2008 e Londres-2012. Ao lado de Marta e Cristiane, fez parte do período mais vitorioso da equipe brasileira: ajudou o Brasil a ganhar a medalha de prata no futebol feminino dos Jogos Olímpicos de Atenas e Pequim, além de sagrar-se vice-campeã da Copa do Mundo da China, em 2007.
No texto, a medalhista olímpica também citou o desejo em ver pessoas que tratam a modalidade com respeito ocupando cargos de expressão dentro do futebol feminino brasileiro. “Não temos força e nem voz. E isso, um dia cansa”, desabafa.
Demissão precoce da Seleção
A técnica Emily Lima ficou no comando do Brasil por apenas 10 meses e foi desligada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mesmo após carta assinada por 24 das 26 jogadoras da equipe pedindo a permanência dela. “Foi bem difícil para mim quando essa comissão técnica foi mandada embora. No ano passado, eu tinha me chateado bastante depois das Olimpíadas e perdido a vontade de voltar à Seleção por conta de lesão e a Emily pediu para mim e eu retornei”, conta.
A técnica estreou no posto em dezembro de 2016 e teve 56,4% de aproveitamento. Em 13 jogos disputados sob o comando de Emily, a Seleção teve sete vitórias, cinco derrotas e um empate. O primeiro semestre da treinadora no cargo foi impecável: a equipe teve 100% de aproveitamento em sete jogos. Nas seis últimas partidas, porém, a situação se inverteu. Foram cinco derrotas e um empate.
Por Maíra Nunes e Maria Eduarda Cardim