Por Maíra Nunes e Maria Eduarda Cardim
Ainda no embalo da semana das mulheres, o blog Elas no Ataque listou conquistas de mulheres que marcou o último ano dentro do mundo esportivo. Os avanços passam por árbitras que conseguiram espaço em campeonatos masculinos, comentaristas que conquistaram um lugar no horário nobre, jogadoras que ganharam igualdade salarial e até torcedoras que ganharam o direito de, pela primeira vez, assistir a jogos de futebol dentro de estádios na Arábia Saudita.
Por mais que algumas destas conquistas pareçam pequenas para terem ocorrido em pleno século 21, elas inspiram outras mulheres a se apoiarem e lutarem por igualdade. E isso passa por respeito, representatividade, visibilidade e reconhecimento tanto dentro quanto fora do esporte. Que venha mais um ano de lutas e conquistas!
Longe do Brasil, as jogadoras da Noruega deram um passo importante na busca por igualdade dentro do esporte. Isso porque a Federação Norueguesa de Futebol anunciou, em outubro de 2017, que a seleção feminina iria receber a mesma quantia que os homens recebem. Antes do acordo, a equipe masculina recebia mais do que o dobro do feminino. Enquanto os homens recebiam 6,55 milhões de coroas (cerca de R$ 2,6 milhões), o time feminino ganhava 3,1 milhões de coroas (cerca de R$ 1,2 milhões). O elenco masculino doou o valor de 550 mil coroas para a equipe feminina.
Que o mundo está repleto de machismo não é uma surpresa. A novidade parece ser quando ocorre punição aos responsáveis por atitudes preconceituosas — e isto é uma grande conquista feminina. No MMA, o fotógrafo Mark Aragon ofendeu a lutadora Cris Cyborg por chamá-la de homem nas redes sociais. Poucos dias depois, ele foi banido pelo UFC dos eventos da franquia. Nos Jogos Olímpicos de Inverno, foi a vez de o radialista americano Patrick Connor ser demitido após fazer comentários de cunho sexual sobre a campeã olímpica de snowboard halfpipe Chloe Kim, de 17 anos.
Na televisão também teve vexame. Durante o programa ‘Os Donos da Bola’, da TV Goiânia, o apresentador Beto Brasil fez perguntas de teor sexual à torcedora e musa do Goiás. Após polêmica nas redes sociais, a emissora, que é afiliada da Bandeirantes, pediu desculpas públicas e retirou o programa do ar. Nem atleta escapou das punições. O quarterback do Carolina Panthers, Cam Newton, perdeu o patrocínio da Danone depois de fazer um comentário machista em uma coletiva de imprensa. O jogador de futebol americano debochou da pergunta de uma jornalista: “É engraçado ouvir uma mulher falar sobre rotas”, respondeu Newton, na ocasião.
Conseguir falar sobre abusos sofridos é uma conquista e tanto. O último ano foi marcado pelas denúncias de atletas ao Larry Nassar, ex-médico da Federação de Ginástica dos Estados Unidos (a USA Gymnastics) por abuso sexual. Foram pelo menos 140 vítimas, entre ginastas, dançarinas, patinadoras artísticas e alunas atletas da Universidade do Michigan. Muitas delas campeã olímpicas, como Simone Biles, sensação dos Jogos Olímpicos do Rio-2016, em que conquistou cinco medalhas, sendo quatro delas de ouro. No futebol, a jogadora Eniola Aluko denunciou o técnico da seleção inglesa, Mark Sampson, por racismo e disse que teria recebido dinheiro da Associação Inglesa de Futebol (FA) para manter o caso em sigilo.
O 12 de janeiro deste ano entrou para a história da Arábia Saudita. Pela primeira vez, as mulheres tiveram permissão de ir assistir a um jogo de futebol in loco. Foi na partida entre Shabab Al-Ahli Club e Al-Baten Club, na cidade de Riade, pela primeira divisão do futebol nacional. No dia seguinte, elas voltaram a usufruir do direito recém conquistado no derby entre Al-Hilal e Al-Ittihad. No clássico que terminou empatado em 1 x 1, um senhor chegou a ir acompanhado por 30 mulheres, entre filhas, sobrinhas e as demais torcedoras da família.
Muitas mulheres marcaram presença acompanhadas da família, mas muitas também foram em companhia de outras mulheres. Os estádios tinham um setor separado para mulheres, com bares para alimentação e local para reza isolados dos homens – mas as que foram acompanhadas por homens da família podiam ficar com eles na arquibancada.
O Brasil viu a primeira transexual jogar profissionalmente na elite do vôlei feminino do país. Aos 33 anos, a atacante Tifanny Abreu estreou na Superliga 2017/2018 em dezembro de 2017 e ajudou o Bauru a se classificar para os playoffs, segunda fase da competição. As polêmicas não evitaram que ela se tornasse a jogadora com a maior média de pontos da primeira fase, com média de 5,51 por set — Tandara foi a segunda, com média de 5,02. Nos passos de Tifanny, a Espanha teve a primeira trans no principal torneio de vôlei do país em fevereiro deste ano. Trata-se da jovem Omaira Perdomo, de 18 anos.
Dez meses após a Seleção Brasileira de futebol feminino ter a primeira técnica mulher, Emily Lima foi demitida. Antes do desligamento, uma carta assinada por 24 das 26 jogadoras da equipe pedindo a permanência da treinadora foi entregue à CBF. Encabeçada pela atacante Cristiane, sete jogadoras anunciaram aposentadoria precoce da Seleção em repúdio ao descaso com as mulheres no futebol feminino no Brasil. Veteranas como a meia Formiga reforçaram o movimento ao enviar uma nova carta à CBF, em que reivindicavam por mais mulheres em papéis de liderança na entidade.
Em 2017, a alemã Bibiana Steinhaus tornou-se a primeira árbitra a apitar na principal divisão da Bundesliga, torneio alemão, em 2017. Ela também foi a primeira a atuar na elite entre as sete principais ligas masculinas do futebol europeu. Já a árbitra suíça Esther Staubli apitou a partida entre Japão e Nova Caledônia, pelo Campeonato Mundial Sub-17, na Índia. Foi a primeira vez que uma mulher apitou um jogo de um mundial masculino da categoria. Esther já contava com 11 anos de experiência como árbitra internacional, em que apitou Copa do Mundo, final de Champions League e Olimpíadas em disputas femininas.
Em 2017, também teve mulher sendo finalista do gol mais bonito do ano no prêmio Puskás. A conquista é importante já que a venezuelana Deyna Castellanos é apenas a terceira mulher a se tornar finalista na disputa pelo prêmio que existe desde 2009. Nunca uma mulher ganhou. Aos 18 anos, ela competiu ao lado do goleiro sul-africano Oscarine Masuluke e do francês Olivier Giroud, vencedor do prêmio.
Ainda um pouco distante do Brasil, também vimos avanços no futebol americano. Em 2017, duas conquistas foram significativas na principal ligar da modalidade no mundo, a NFL. Katie Sowers foi contratada como assistente técnica do San Francisco 49ers, onde já era estagiária, para a edição 2017/2018. Dessa forma, Katie se tornou a segunda técnica mulher contratada para a temporada completa da história da competição.
Dentro da NFL, mas fora dos campos, Beth Mowins também virou destaque na liga. A narradora americana comentou a partida entre Denver Broncos e Los Angeles Chargers, último jogo da primeira rodada da temporada regular de 2017. Beth fez história ao se tornar a primeira mulher a comentar um jogo da NFL da temporada regular no horário nobre com transmissão para todo o país.
A colombiana Tatiana Calderón, 24 anos, foi promovida pela Sauber a piloto de testes na Fórmula 1. A equipe suíça havia a contratado como piloto de desenvolvimento em 2017 e informou, no início de março, que Calderón passará a fazer um trabalho mais completo nos simuladores e com os engenheiros na fábrica e nos fins de semana dos GPs. Portanto, ela passará a auxiliar os pilotos titulares Marcus Ericsson e Charles Leclerc. Assim, ganha grandes chances de pilotar um carro de Fórmula 1 pela primeira vez, já que a Sauber não conta com pilotos de testes ou reservas.
Em 2014, a Sauber assinou com Simona de Silvestro como “piloto afiliada”. Antes delas, em 2012, a britânica Susie Wolff participou dos testes em túneis de vento e de desenvolvimento do carro pela Williams e a piloto espanhola Maria de Villota chegou a pilotar pela equipe Marussia. Mas sofreu um acidente grave durante um teste aerodinâmico do carro e foi encontrada morta em um quarto de hotel meses depois devido às sequelas do acidente.
Por Maíra Nunes e Maria Eduarda Cardim
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