Ser dona de resultados responsáveis por abrir portas para meninas e mulheres no mundo do automobilismo é uma missão que Bia Figueiredo encara desde os 14 anos, época em que decidiu se dedicar somente ao automobilismo. Antes disso, já praticava o esporte desde os 8 anos, mas, ao optar pelas pistas, a paulistana nem sequer imaginava a importância da própria escolha. Na ocasião, o kart era a categoria dela. Hoje, aos 32 anos, é a única mulher no grid da Stock Car e comemora o 25º ano da carreira como piloto.
Antes de começar a quinta temporada da Stock Car, Bia celebra as conquistas, porém sabe que ainda tem muitos obstáculos a superar. “Para mim, o sentimento é de muito orgulho ao ver todas as barreiras que eu quebrei. É um ambiente no qual a maioria é masculina e ainda há muitas dificuldades, mas estou na luta até hoje”, ressalta. As conquistas nas pistas são muitas. Ela é a primeira mulher do mundo a vencer na Indy Lights, categoria de acesso à Fórmula Indy, e a primeira brasileira a disputar a F-Indy.
Para Bia, as conquistas mostram a outras garotas que é possível praticar o esporte.
“Na época em que comecei, até minha mãe duvidava, porque não existiam muitas referências. Porém, você vira uma referência, quebra tabu e mostra que é possível. Eu espero inspirar e ajudar de alguma forma”.
Engana-se quem pensa que a escolha pelas pistas foi influência dos pais ou pela ligação da família com o esporte. Ela é filha de um psiquiatra e de uma dentista. “Meu pai gostava de assistir, mas não era nenhum aficionado”, revela a piloto, que também costumava assistir às provas. O pedido para entrar em uma escolinha ocorreu aos 5 anos, durante uma visita a um kart. Aos 8, os treinos começaram.
Num ambiente predominantemente masculino, Bia se acostumou a piadas e brincadeiras, que escuta de vez em quando. Ela garante que não liga, mas lembra dos olhares que recebeu assim que começou na modalidade. “A primeira vez que entrei num kart, os meninos me olhavam como se eu fosse um ET”, diz. A estreia em competições foi aos 9 anos. “Na época, quase nenhuma mulher havia competido, e como os meninos eram imaturos, não entendiam que uma mulher podia correr como eles”, completa.
Bia conta que o preconceito era sentido nas pistas, pois recebia fechadas e batidas. “Era meio complicado no início, mas aprendi a revidar e a contornar”, afirma. Fora isso, ela não se lembra de nenhum episódio de machismo na carreira. “Sempre me respeitaram muito. Como é um ambiente completamente masculino, brinco que me ajudaram a escolher meu marido, de tanta besteira que os meninos falavam”, ri.
O esporte, visto como arriscado e para homens, gerou uma pequena resistência da mãe de Bia. “Até hoje, ela acha perigoso, mas apoia”, ressalta. A piloto entrou na escolinha três meses antes do acidente fatal de Ayrton Senna na Fórmula 1. “Com toda a comoção, rolou uma certa apreensão de todos para saber se era isso que eu ia seguir mesmo”, relembra.
Bia Figueiredo acredita que o cenário para as mulheres no automobilismo melhorou bastante e ela vê crescimento no interesse. “Quando corri na Indy, tinha um número maior de mulheres participando também”, relembra. Hoje, a piloto destaca o trabalho da engenheira Rachel Loh na Stock. “Em cinco anos (na categoria), é a primeira vez que trabalho com uma engenheira”, afirma.
Nos últimos dias, o cenário do automobilismo se movimentou em meio a declarações polêmicas sobre a participação de mulheres na Fórmula 1. A piloto espanhola Carmen Jordá — integrante da Comissão de Mulheres do Esporte a Motor da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) — declarou que a fragilidade física é um impedimento à entrada delas na categoria.
“Com a minha experiência, posso dizer que na Fórmula 1 e na Fórmula 2 — ao contrário de outros campeonatos, como kart, Fórmula 3 e GT, onde, creio, as mulheres sejam capazes de conquistar bons resultados — há uma barreira, por uma questão física”, disse Carmen Jordá ao site da ESPN britânica. Bia discorda:
“Com muita disciplina e treino físico é possível. Quando corria na Fórmula Indy, não tinha direção hidráulica e, com muito treino, eu conseguia correr de igual para igual”.
Um dia após a declaração de Carmen Jordá, a Sauber anunciou a colombiana Tatiana Calderón como piloto de testes para a temporada 2018. “Não sei se é só uma coisa de marketing da equipe, mas espero que ela tenha chance de praticar e tentar participar de campeonatos no futuro”, torce Bia.
Hoje, 24 anos depois, Bia se prepara para sua quinta temporada da Stock Car. Ela tem expectativas altas depois da mudança de equipe em 2018. Desta vez, correrá pela equipe Ipiranga Mattheis. “Eu ainda não me adaptei como eu queria na Stock Car. Agora, estou numa nova equipe e fiz uma ótima pré-temporada. Acredito que tem tudo para ser o meu melhor ano”, avalia.
A Corrida de Duplas marca a primeira etapa da competição e ocorre amanhã e sábado, em Interlagos. Bia convidou o piloto Beto Monteiro, bicampeão da Fórmula Truck, para ser o parceiro na prova de estreia. “Ele tem uma boa mão com Stock e estava no Brasil. O Beto correu algumas vezes na categoria, no ano passado, e nossa experiência juntos vai ajudar”, comenta.
Nome
Ana Beatriz Caselato Gomes de Figueiredo
Idade
32 anos
Categoria
Stock Car
Categorias anteriores
Fórmula Indy, Fórmula Renault e Fórmula 3
Ídolo
Ayrton Senna
Conquistas importantes
Única mulher a vencer na Fórmula Renault
Única mulher a conquistar uma pole position na Fórmula 3
Primeira brasileira a disputar a Fórmula Indy
Única mulher que correu e venceu o Desafio Internacional das Estrelas de Kart
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