Árbitras têm menos espaço, mas exigência física igual

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Embora as mulheres tenham ganhado mais espaço ao longo do tempo, elas têm presença tímida na arbitragem. Dos 215 árbitros presentes no quadro da CBF, apenas 15 são do sexo feminino, o que corresponde a 7%. E, apesar de o espaço para a mulher dentro do futebol ser menor e diferente do ocupado pelo homem, a exigência física é igual. As árbitras têm de conquistar o mesmo índice deles nos testes físicos para apitar em campeonatos masculinos, mas acabam não atuando com a mesma frequência.

A ex-árbitra Simone Silva relembra os árduos testes para conseguir a chance de apitar um campeonato masculino. “Tem de ter tempo pra treinar e também para descansar porque é muito pesado.” Para ela, o investimento nem sempre tinha um retorno positivo como os que árbitros masculinos recebiam. “Era difícil fazer sacrifícios, conseguir completar o teste físico, estar pronta e, ainda assim, não ter o mesmo aproveitamento que os homens”, critica.

Única árbitra do Rio no quadro da CBF, Rejane Caetano, 30 anos, concorda com a exigência, mas reconhece que é a parte mais difícil. “A parte física é a que mais exige de nós”, avalia. A professora de educação física conta que consegue dividir um pouco do tempo para treinar e atingir o índice para apitar em torneios masculinos. Em 2017, ela também estreou na Série A do Campeonato Carioca.

Rejane fez o curso para a função em 2011. Em 2016, apitou 22 partidas e, neste ano, entrou no quadro da Fifa. “Quando entramos na arbitragem, fazemos um cronograma de metas. Fico feliz, pois as coisas aconteceram rápido comigo”, analisa. No curso de formação de árbitros de 2016 da EAFERJ, entre os 35 alunos, apenas quatro eram mulheres. Neste ano, o número caiu para somente duas.

O número de assistentes é um pouco maior: 58 mulheres em um total de 311 no quadro da CBF, o equivalente a 18,6%. “A procura das meninas quando entram no curso é somente a assistência. São raras as exceções que querem ser árbitras centrais. E isso acontece porque elas não são vistas”, afirma a ex-árbitra Simone, que hoje atua como instrutora da Escola de Arbitragem da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (EAFERJ).

A jogadora de futebol Dany Helena, que atuou pelo Iranduba da Amazônia no Brasileiro feminino, ressalta a representatividade das árbitras mulheres nos torneios femininos internacionais. “Disputei a Copa Libertadores no ano passado e só mulheres apitaram as partidas que joguei. Que elas possam ter mais espaço no Brasil também”, almeja. A técnica Gleide Costa, que comandará o Botafogo PB na Série A2 do Brasileiro feminino, vê uma crescente da participação feminina no futebol embora não seja a desejada. “Vem crescendo a passos muito pequenos, porque o critério tinha de ser competência e não gênero. Na prática, ser mulher é um empecilho”, lamenta.

Pioneira quando futebol era proibido por lei às mulheres

Léa Campos: primeira árbitra do mundo

Asaléa de Campos Micheli nasceu em 1945, época em que as mulheres eram proibidas por lei de praticarem esportes “incompatíveis com as condições de sua natureza”. Sem a intenção de jogar, a mineira se formou árbitra em 1967. Encontrou uma brecha no decreto-lei nº 3.199, de 1941, que dizia não ser “permitida a prática feminina de lutas de qualquer natureza, futebol, futebol de salão, futebol de praia, polo, halterofilismo e baseball”.

Léa Campos, como é chamada, foi a primeira árbitra de futebol no mundo de que se tem conhecimento. “Eu me sinto feliz quando uma mulher é escalada, seja como auxiliar, seja como árbitra central. Elas passaram pela porta que abri e fico muito orgulhosa por isso”, disse Léa Campos, os 72 anos.

Por Maria Eduarda Cardim e Maíra Nunes

Maíra Nunes

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